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Leonardo Sakamoto

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Quaest: Inflação limita ganho de auxílio de R$ 600 e impõe teto a Bolsonaro

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Imagem: GETTY IMAGES

Colunista do UOL

31/08/2022 06h42

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O pagamento do Auxílio Brasil de R$ 600 ainda não se traduziu em votos para o presidente Jair Bolsonaro como ele esperava ao buscar a aprovação da PEC da Compra dos Votos. Uma das razões para isso é que 81% dos mais pobres não sentiram o preço dos alimentos baixar.

Os dados são da nova pesquisa Genial/Quaest, divulgada nesta quarta (31).

Entre junho e agosto, Bolsonaro teve uma queda em sua avaliação negativa (de 51% para 39%) e um aumento na positiva (de 18% para 28%) junto aos beneficiários do Auxílio Brasil. Isso ocorreu na expectativa dos R$ 200 extras.

Porém, após o início do pagamento, em 9 de agosto, não houve mais variação entre os que recebem o benefício. Mesmo o quadro entre o grupo mais amplo dos que têm renda mensal de até dois salários mínimos também é de estabilidade, tanto na avaliação negativa quanto na positiva.

Apesar de o governo Bolsonaro estar sendo mais bem avaliado pelo conjunto da sociedade (mesmo entre quem votou em Haddad em 2018), isso não está se convertendo em vantagem numérica para o presidente.

Lula tem 44% e Bolsonaro 32% - mesmos patamares da pesquisa de 3 de agosto. Ciro ganhou três pontos no mês, passando de 5% a 8%. A rejeição de Bolsonaro segue alta, com 56%, enquanto que a de Lula está em 43%.

É possível inferir, baseado nos números da Quaest, que os mais pobres ainda não tiveram a chamada percepção coletiva de melhora da qualidade de vida.

Não é a chegada dos R$ 600 às contas individuais dos beneficiários que muda o voto, mas as famílias sentirem que a vida delas e de sua comunidade está de fato melhor. O que inclui pagar as dívidas com a mercearia, ter geladeiras mais cheias, poder dar um dinheiro para os filhos comprarem um sacolé, tomar uma cerveja com os amigos no domingo.

E, ao que tudo indica, isso ainda não ocorreu.

Todos os estratos sociais sentiram a queda no preço da gasolina, causada pela redução do ICMS (quando o Congresso tirou à força recursos de educação, saúde e segurança nos Estados para baratear os combustíveis). Mas os mais pobres, que têm nos alimentos seu principal gasto, não comem gasolina.

A inflação acumulada nos últimos 12 meses está caindo, mas o preço dos alimentos continua subindo ou em um patamar muito alto. O ministro da Economia, Paulo Guedes, vende que os indicadores mostram que vida melhorou. Mas, novamente, os mais pobres não comem indicadores.

A questão aqui é de timing, ou seja, quando os eleitores mais pobres vão sentir, de fato, que os R$ 200 fizeram diferença no seu poder de compra de comida. O presidente tenta empurrar a resposta para isso para outubro, contando com a melhora da economia e o pagamento de uma terceira parcela do auxílio.

A pesquisa aponta que 84% sabe que o Auxílio Brasil subiu para R$ 600, mas apenas 51% atribui a Bolsonaro o aumento - o que explica que as primeiras peças do presidente na propaganda de rádio e TV tentem, incessantemente, atribuir a ele a paternidade da ideia. Mas os que recebem sabem que foi o governo dele que está pagando.

A pesquisa também aponta que 63% avaliam que as medidas econômicas tomadas por Bolsonaro têm o objetivo de ajudar em sua reeleição e 66% sabem que o benefício é temporário e, a depender do orçamento aprovado pelo presidente, volta a ser de R$ 400 em janeiro.