Sakamoto: Milei xinga Lula pra disfarçar a fome que impôs aos argentinos
Ao chamar Lula de "perfeito dinossauro idiota", o presidente argentino Javier Milei adota uma prática comum ao bolsonarismo e desvia a atenção dos efeitos negativos de seu pacote econômico às camadas mais pobres da população, afirmou o colunista Leonardo Sakamoto no UOL News desta terça (2).
Milei usou seu perfil no X (antigo Twitter) para voltar a atacar Lula com uma série de críticas, abrangendo temas como a tentativa de golpe de Estado na Bolívia e as eleições na Argentina.
Resumidamente, Milei xinga Lula para disfarçar a fome que impôs aos argentinos. O ajuste argentino está vindo em cima da depreciação da qualidade de vida dos trabalhadores. Do jeito como está colocado, o pacote aumenta a taxação sobre classes trabalhadoras e reduz a sobre os ricos.
Não é culpa do Milei a situação calamitosa na Argentina por conta de sucessivos governos, inclusive de esquerda. Mas o celebrado pacote do Milei vem em cima da depreciação dura da qualidade de vida dos mais necessitados. Houve aumento da fome, e os institutos de pesquisa mostram isso. Ao mesmo tempo, houve uma proteção para determinados grupos da classe média alta diante de tudo isso.
Esse pacote do Milei pode dar certo e, no final das contas, haver o ajuste das contas públicas. Para que ele funcione, Milei está fazendo algo muito comum do bolsonarismo: fazer macaquices internacionais enquanto ganha tempo para o pacote fazer efeito e para as eleições de meio de termo na Argentina, que podem mudar a relação de forças no Congresso Nacional. Leonardo Sakamoto, colunista do UOL
Sakamoto criticou Milei por preferir participar de um evento em Balneário Camboriú (SC) ao lado de Jair Bolsonaro e outros políticos de direita a ir à cúpula do Mercosul em Assunção (PAR).
Se fosse um político adulto, Milei estaria na cúpula do Mercosul. O Brasil é um dos maiores parceiros comerciais da Argentina e há simbiose entre os dois países. Lá, porém, ele seria alvo de críticas e estaria exposto. Milei tem essa teatralidade e fica confuso quando está fora de um ambiente no qual pode impor esta característica.
Neste outro ambiente [em SC], ele estará bem e entregará aquele teatro de que precisa para gerar essa polarização sobre o comportamento dele dentro da Argentina, enquanto ganha tempo para o pacote fazer efeito. Ele está preocupado com sua manutenção no poder. É triste tudo isso. Leonardo Sakamoto, colunista do UOL
Análise: Fala de Lula sobre câmbio passa do ponto e não ajuda governo
As declarações de Lula sobre a alta do dólar atingem o próprio governo e favorecem as especulações no mercado financeiro, analisou o economista André Roncaglia. O presidente atribuiu a escalada da cotação da moeda americana à especulação e disse que pretende convocar uma reunião para discutir o assunto.
As falas de Lula já não estão mais ajudando nem a ele próprio e nem ao governo. Realmente, agora passou um pouco do ponto, ainda que compreendamos o direito de o presidente demarcar seu espaço de poder e de tentar apresentar e defender sua agenda. É um ruído que não ajuda o governo e dá ao mercado exatamente aquilo que ele precisa para justificar uma especulação.
A culpa por toda a desvalorização do câmbio não é do presidente Lula. Está longe disso. O que temos hoje é um cenário onde a economia brasileira, que é periférico, tem uma moeda muito líquida. O mercado internacional chama de 'moeda commodity', que é usada pelos especuladores para montar posições, defender-se de incertezas e proteger seus patrimônios. André Roncaglia, economista
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