Leonardo Sakamoto

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Opinião

Caso dos 'ônibus do PCC' cola Nunes no bolsonarismo e afasta Milton Leite

Milton Leite (União Brasil), presidente da Câmara dos Vereadores, por anos foi visto como uma espécie de "segundo prefeito" da capital paulista tamanha a sua força e influência. Por isso, ninguém estranhou quando o seu nome foi sugerido para a vaga de candidato a vice na chapa de Ricardo Nunes (MDB) à reeleição.

Contudo, as investigações do Ministério Público que apontam um estreito relacionamento entre o vereador e a cúpula de uma empresa acusada de ligação com o PCC afundaram essa possibilidade. E jogaram Nunes mais ainda no colo do bolsonarismo.

Investigação, publicada nesta quarta (3), por Juliana Sayuri e Flávio Costa, do UOL, teve acesso a mais de mil páginas de documentos reunidos pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) do MP-SP. Segundo os promotores, há indícios de uma relação entre Leite e a Transwolff, empresa de ônibus acusada de lavar dinheiro para a facção criminosa.

Uma possível indicação de Leite para vaga de vice já estava difícil devido à exigência do campo bolsonarista em indicar o posto - hoje, o mais provável é o coronel Ricardo Mello Araújo, ex-comandante da rota e ex diretor presidente da Ceagesp. Com as investigações, a possibilidade virou pó.

Isso também pode levar a uma perda relativa da influência de Leite sobre a campanha de Nunes, pois ele se torna um aliado tóxico. Isso, consequentemente, aumenta a força do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e do próprio campo bolsonarista. O prefeito deseja colar sua imagem em Tarcísio, mas ficar o suficientemente longe de Jair, dado que o primeiro conta com popularidade na capital e o segundo, não.

Em 13 de maio deste ano, reportagem do UOL já havia apontado que o governo de São Paulo usou a Operação Fim da Linha (em que dirigentes da Transwolff foram presos, acusados de lavar dinheiro do PCC) para pressionar o presidente da Câmara Municipal a acelerar a votação do projeto de privatização da Sabesp. Leite era, inicialmente, contra. O projeto acabou passando e a empresa está para ser vendida.

Ele não será vice, mas ainda manda na cidade e influencia nas leis aprovadas na capital, que podem beneficiar o prefeito e prejudicar adversários. No xadrez da eleição, qual será o papel do "segundo prefeito" de São Paulo a partir de agora?

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL