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Leonardo Sakamoto

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Bolsonaro subiu sua renda a R$ 80 mil, enquanto derrubou a do trabalhador

 O Antagonista
Imagem: O Antagonista

Colunista do UOL

02/04/2023 09h05

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Ao retornar do autoexílio na Disney, Jair Bolsonaro passará a receber salário de R$ 41,6 mil como presidente de honra do PL. Ele ainda terá a aposentadoria de R$ 11,9 mil como militar reformado e mais de R$ 30 mil como ex-deputado. Ou seja, vai pingar mais de R$ 83,5 mil por mês no seu bolso, sem contar que terá uma mansão em Brasília paga pelo partido e que sua esposa, Michelle, receberá quase R$ 34 mil mensais do PL Mulher.

Onde se lê "PL", você pode trocar por "dinheiro do contribuinte", que é a origem dos recursos do fundo partidário.

Enquanto isso, o salário médio dos brasileiros subiu pelo quinto trimestre consecutivo, mas ainda não recuperou o nível pré-pandemia depois de três anos - os dados do IBGE estão em reportagem de Giuliana Saringer, no UOL deste domingo (2).

O salário médio dos brasileiros ficou em R$ 2.853 no trimestre encerrado em fevereiro de 2023. No mesmo período de 2020, antes de a pandemia começar oficialmente no Brasil, o salário médio era R$ 2.878 - os valores já são atualizados pela inflação. As pessoas estão aceitando trabalho ganhando menos do que antes da pandemia. Menos o próprio ex-presidente.

Quando se fala da responsabilidade de Bolsonaro na ressaca econômica pós-coronavírus, seu rebanho repete que a culpa é do pessoal do "fique em casa". Por isso, é obrigação não deixar esquecer que foi a sabotagem de Jair "R$ 80 mil" Bolsonaro contra o combate à covid-19 que alimentou o desemprego, a fome a queda de renda no país.

Para além de sua corresponsabilidade pela marca de 700 mil mortos pela doença, atingida na semana que passou, ele também precisa ser lembrado como o presidente que, com suas ações e omissões, estendeu os efeitos econômicos da pandemia.

Caso não tivesse atacado as medidas de isolamento social e, ao mesmo tempo, combatido o uso de máscaras e se tivesse fechado contratos de compra de vacinas quando elas nos foram ofertadas pela Pfizer ao invés de insultar os imunizantes, a pandemia seria mais curta e a economia teria voltado a um (quase) normal muitos antes, com menos mortos e menos desemprego.

Mas não foi isso o que aconteceu e a pandemia prolongada artificialmente por Bolsonaro levou o desemprego a patamares nunca vistos por aqui, chegando a quase 15 milhões. Ressalte-se que, antes dela, ele também não tinha uma política nacional para a geração de postos de trabalho, pelo menos nada que não incluísse a subtração de proteções à saúde e segurança dos trabalhadores.

O "plano" de Jair era a tal "imunidade de rebanho", ou seja, garantir que a população se contaminasse rapidamente (o que aumentaria ainda mais o número de mortos), usando o criminoso "tratamento precoce" para incentivar as pessoas a voltarem às ruas. Se centenas de milhares a mais morressem por causa disso, paciência, "todo mundo morre um dia" - como repete o presidente.

Ignorava que os brasileiros não estavam indo às compras, às aulas, ao trabalho, ao lazer simplesmente porque governadores e prefeitos disseram não, mas por medo de uma pandemia que chegou a matar mais de 4 mil em um único dia. Por que estavam morrendo nossos pais, avós, primos, amigos, filhos.

Quando a fome apertou (eram 19,1 milhões de famintos no final de 2020), Bolsonaro cancelou o auxílio emergencial em 31 de dezembro daquele ano e só retomou em abril de 2021, com valores mixurucas. Com isso, a fome saltou para 33,1 milhões, em 2022, segundo a Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional.

Parte da alta do dólar no período também pode ser creditada a Bolsonaro, que, de um lado, trouxe instabilidade à política, criando um ambiente com menos segurança para investidores, e, de outro, seguiu errante na gestão da economia, atendendo a interesses de aliados no Congresso, preocupando-se apenas em evitar o impeachment e pavimentar a reeleição. Dólar mais alto impactou no preço do gás de cozinha e dos combustíveis e, por conseguinte, na inflação dos alimentos.

Isso sem contar que, durante a pandemia, o Brasil não poupou os reservatórios das hidrelétricas para um momento crítico, tal como um motorista que enche o tanque apenas pela metade e encontra um trecho longo de estrada sem postos. E, na reserva, torce para conseguir chegar ao fim da estrada sem uma pane seca. O resultado é que passamos um bom tempo risco de apagões e com o preço da energia elétrica pela hora da morte.

Medidas de combate à doença só ocorreram depois de pressão popular, decisões judiciais ou iniciativas de outros governantes, ou seja, com atraso. Desde o fechamento de aeroportos, que foram a porta de entrada de entrada do coronavírus no Brasil, passando pela obrigatoriedade do uso de máscaras até a adoção de quarentenas e outras medidas de isolamentos social, as políticas vieram a passo de tartaruga. E trazendo com isso mortes e estendendo a crise econômica.

Mesmo o auxílio emergencial, que salvou vidas e ajudou a economia, não foi iniciativa do governo. Pressionado, o ministro da Economia Paulo Guedes aceitou dar míseros R$ 200. O valor final, que chegou a R$ 1.200 por família, foi graças à pressão do Congresso.

Durante a campanha eleitoral, seu rebanho veio a público para defendê-lo e terceirizar a responsabilidade a quem defendia o "fique em casa" pela tragédia econômica.

Culpavam governadores e prefeitos, imprensa e artistas, bilionários comunistas, cavaleiros templários, chineses e seus chips 5G, Leonardo DiCaprio e Greta Thunberg. Todo mundo, menos quem havia sido eleito para a tarefa, o então presidente Jair Bolsonaro.

Bolsonaro não venceu a covid-19, na verdade, ele foi o principal aliado do coronavírus contra a população brasileira, cometendo erros econômicos em série que ainda cobram sua conta. Para tentar reduzir seu impacto, gastou dinheiro que não podia e baixou preços artificialmente durante o ano eleitoral, deixando uma herança maldita para o atual governo.

Ao pedir para as pessoas irem às ruas, Jair estava empurrando-as para o cemitério e contratando uma crise econômico pior do que aquela trazida pelo coronavírus. Os crimes cometidos por ele foram listados pela CPI da Covid, com grande quantidade de provas.

Mas ele segue livre, com um salário de marajá pago pelo PL, ou seja, por todos nós, enquanto o grosso da população brasileira terá que carregar mais pedra morro acima para ganhar o mesmo cascalho devido à sua sabotagem.