Leonardo Sakamoto

Leonardo Sakamoto

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
Opinião

Após copiar Trump, Maduro plagia Bolsonaro ao questionar eleições no Brasil

A declaração de que o sistema eleitoral brasileiro não é auditado poderia ter vindo do ex-presidente Jair Bolsonaro, em um de seus muitos ataques sem fundamento algum à urna eletrônica e ao sistema de totalização de votos. Mas veio de Nicolás Maduro, em um comício, ao rechaçar críticas internacionais à lisura das eleições na Venezuela.

Com as eleições presidenciais se aproximando, e a chance real de ser retirado pelo voto do poder, ele vem mostrando medo. Na quinta (18), em outro ato de campanha, já havia dito que a sua derrota poderia levar o país a uma situação de violência, caindo em uma "guerra civil" com um "banho de sangue".

Isso provocou a reação de Lula, que demonstrou preocupação com a situação no vizinho e pediu respeito ao resultado das eleições. Sem citar o petista diretamente, Maduro disse que "quem se assustou, que tome um chá de camomila" e afirmou que a violência partiria da oposição.

A narrativa do medo é, infelizmente, comum em muitas eleições. É usada para dizer que se um determinado adversário assumir o poder, programas sociais ou econômicos deixarão de existir. No Brasil e no mundo, é adotada largamente pela esquerda e pela direita. A questão é quando essa estratégia de chantagem escala, sugerindo, indicando ou prometendo violência.

O sistema eleitoral brasileiro é auditável e cada urna também, através do boletim impresso produzido antes e depois da votação. Também tem seus códigos escrutinados a cada pleito e tem transmissão de dados desconectada da internet, evitando invasões. Maduro soltou a bravata sem apresentar prova alguma.

Da mesma forma, Bolsonaro e aliados lançaram desconfiança sobre as urnas durante seu governo e depois usaram essa dúvida para mobilizar seus seguidores em um ataque direto à democracia. Primeiro, em bloqueios de estradas e acampamentos, depois em invasões golpistas às sedes dos Três Poderes no dia 8 de janeiro de 2023.

Outro que adotou a tática de lançar suspeitas sobre o sistema eleitoral foi o então presidente Donald Trump, na eleição em que foi derrotado por Joe Biden, em 2020. Acusando o sistema de fraude e questionando sua capacidade de ser auditado, mobilizou seus seguidores para atacar o Congresso norte-americano em 6 de janeiro de 2021, a fim de evitar que o nome do democrata fosse chancelado.

Maduro também se alinha à retórica de Trump. Em março deste ano, o candidato republicano já havia usado a expressão "banho de sangue" para falar do desastre econômico que ocorreria no país caso não sejam impostos regras para a importação de carros chineses. Ele argumentou que a expressão, foi tirada de contexto, mas em um ambiente de ultrapolarização, isso funciona como um apito de cachorro, atiçando seguidores.

Essa retórica violenta está circulando amplamente na extrema direita de lá, mesmo tendo sido Trump que sofreu um atentado e quase morreu. O senador estadual republicano de Ohio, George Lang, disse no primeiro comício do senador JD Vance, candidato à vice na chapa de Trump, que será necessária uma "guerra civil" para salvar o país caso o ex-presidente perca.

Continua após a publicidade

O comportamento dos três, Maduro, Bolsonaro e Trump, é típico de governantes autocráticos, que atacam o juiz ou prometem levar a bola embora caso percam o jogo. Isso não pode ser ignorado, pois a retórica não termina nela mesma, mas em tentativas de golpe de Estado e ataques à democracia.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL