Engenheiro de 77 morre de covid-19 em SP; hospital avisou família após 20 h
A família do engenheiro químico Antônio Luiz Fernandes, morto na segunda-feira (16), soube agora à tarde que o resultado do teste feito nele para coronavírus deu positivo. A mulher e os filhos de Fernandes permanecem em choque, não só com a dor da perda, mas também com o tratamento dado ao caso pelo plano de saúde Prevent Senior. Eles ainda esperam uma "explicação razoável" do hospital para o fato de ter comunicado a morte apenas na terça (17) à noite. O engenheiro estava com 77 anos.
Na terça-feira (10), ele foi internado em uma unidade do plano localizada na Avenida Nove de Julho, na zona oeste de São Paulo. Por causa da gravidade de seu estado, decidiram transferi-lo na mesma tarde para o hospital Sancta Maggiore, localizado a poucos quilômetros dali, na Rua Cristiano Viana, em Pinheiros.
Fernandes foi direto para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI), onde depois seria entubado. A professora de teoria literária Maria Augusta Fonseca, cunhada dele, conta: "Minha irmã ficou o tempo todo com o marido, claro, você sempre quer estar perto da pessoa nessas horas. Ninguém sequer aventou a possibilidade de ele estar com o covid-19, nem ofereceu máscara a ela, nada."
Quatro dias depois, os médicos chamaram Elizabeth (a mulher de Fernandes), para comunicar que o estado dele havia piorado e que seria preciso transferi-lo para uma unidade mais bem aparelhada do mesmo hospital, na Rua Maestro Cardim, no Paraíso. "A Beth foi na ambulância, junto com o Antônio Luiz", lembra Maria Augusta.
Desta vez, as visitas a Fernandes ficaram restritas a apenas uma pessoa, no horário das 19h30. No dia 15, sem "coragem" para ver o marido sofrendo, Elizabeth pediu a enteada, Flavia, que entrasse no quarto. Na terça-feira, 16, voltou ao hospital com o enteado, André, e os dois foram informados na recepção de que não havia registro de Antônio Luiz Fernandes.
Os atendentes os orientaram a subir ao quarto andar, onde ficam os pacientes em isolamento, para falar com os médicos. "Ninguém forneceu a eles luvas nem máscaras", diz Maria Augusta.
Dois médicos informaram que Antônio Luiz havia morrido às 22h do dia anterior, ou seja, quase 24 horas antes. Atônitos, Elizabeth e André quiseram entender o que havia acontecido, mas os dois médicos alegaram que estavam entrando naquele turno e não dispunham de mais informações.
Orientaram a mulher e o filho de Fernandes a voltar ao balcão da entrada. "As recepcionistas trouxeram um documento que informava que a causa da morte era pneumonia, com suspeita de infecção por coronavírus. Como não havia o resultado para o teste, elas entregaram um atestado provisório de óbito, explicando que o definitivo sairia em cinco dias, no cartório da Bela Vista. Foi tudo o que souberam informar. Se os médicos não sabiam, imagine as moças da recepção. "
De acordo com Maria Augusta, o engenheiro sofria de DPOC (doença pulmonar obstrutiva crônica) e desde a volta de uma viagem com a mulher ao Paraguai, depois do Carnaval, vinha se queixando de cansaço e falta de ar.
Ontem, ao conceder esta entrevista, Maria Augusta explicou que Elizabeth estava no enterro do marido, cujo corpo foi levado para a cidade onde ele nasceu, Santa Rita do Passa Quatro, a 250 km de São Paulo.
Analista de sistemas aposentada, Elizabeth foi casada com Fernandes por 45 anos. Exposta sem nenhuma restrição dos médicos ao contato com o marido, inclusive na ambulância que o transferiu de hospital, ela não recebeu recomendação de nenhum deles para se proteger ou se submeter ao teste que detecta o covid-19.
Procurada, a assessoria do Prevent Sênior não respondeu à coluna até o fechamento desta matéria.
Erramos: ao contrário do que foi informado inicialmente na reportagem, não houve velório de Antônio Luiz Fernandes; seu corpo foi enterrado em caixão lacrado.
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