Além de perder o juízo, Bolsonaro perde também a batalha dos panelaços
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A coletiva convocada por Bolsonaro revelou o ato de desespero de quem fez a aposta alucinada, sabe-se lá com base em qual avaliação, de que essa conversa de vírus não iria pegar por aqui e de que não se poderia prejudicar a economia sob o pretexto de combater o mal. Mas foi atropelado pelos números, pela indignação dos brasileiros, pela razão.
Um panelaço estava convocado para esta quarta, às 20h30. Na terça, já se fez um esquenta do protesto. Durante a coletiva, panelas esparsas e gritos de "fora Bolsonaro" já se ouviam, como o cantar dos primeiros galos quando o sol ainda nem cutucou o céu. Meia hora antes do horário marcado, a partir das 20h, a percussão dos indignados e os gritos de protesto tomaram o país, acompanhados de buzinaço.
No Twitter, o presidente havia escrito que a imprensa se negava a noticiar que, às 21h, estava agendado um panelaço em sua defesa. Não estava. Era uma invenção, uma mentira e uma convocação. Ele aproveitou a coletiva para convocar seus apoiadores.
Algumas panelas tímidas e gritos de "Mito" se ouviram aqui e ali a partir das 21h. Quase nada. E logo foram sufocados pelos que, havia pouco, tinham pedido a sua saída da Presidência.
Ninguém contou a Bolsonaro que não existe vaia a favor, aplauso contra e panelaço de satisfação.
Sua sobrevivência política e, sim, sua permanência no cargo estão atrelados a dois fatores: a dinâmica da crise, que estará longe de ser coisa para amadores, e sua capacidade de respeitar as instituições. Seu conselheiro da Virgínia, Olavo de Carvalho, o instiga a atropelar a velha ordem. Bolsonaro pode escolher ouvi-lo, marcando o encontro com o impeachment, ou seguir as regras do jogo. Nesse segundo caso, o pior que pode acontecer é uma derrota eleitoral. No outro, é a cadeia.
Por enquanto, no seu caso, máscara é venda.