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Reinaldo Azevedo

Quem protege Paludo, da Lava Jato, delatado por doleiro? O MPF-RJ ou a PGR?

Januário Paludo, procurador regional da República: Doleiro confirma acusação contra ele. E nada acontece. Nem se sabe se a acusação foi mocozeada no Rio ou em Brasília - Divulgado/MPF
Januário Paludo, procurador regional da República: Doleiro confirma acusação contra ele. E nada acontece. Nem se sabe se a acusação foi mocozeada no Rio ou em Brasília Imagem: Divulgado/MPF

Colunista do UOL

14/08/2020 17h02

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Vamos começar com um mistério que, até agora, não está claro. Quem tomou a decisão de mocozear a acusação que Dario Messer fez envolvendo o procurador-regional Januário Paludo, da Lava Jato de Curitiba? Foi a Lava Jato do Rio que decidiu que nada havia a investigar, como quer uma das versões? Ou, tendo a coisa sido enviada para a PGR, já que Paludo é procurador regional, foi ali que se decidiu amoitar o caso, sem nem uma investigação?

O fato: em agosto de 2018, Messer conversa com sua namorada, Myra Athayde. Ele estava sendo monitorado pela PF no âmbito da operação Patrón. O doleiro conta à moça que testemunhas de acusação contra ele terão uma reunião com Paludo. E acrescenta: "Sendo que esse Paludo é destinatário de pelo menos parte da propina paga pelos meninos todo mês."

"Os meninos", no caso, são Claudio Fernando Barbosa de Souza, o Tony, e Vinicius Claret Vieira Barreto, o Juca. Ambos foram presos e fizeram delação premiada antes de Messer. O pagamento consistiria numa mesada — mensal mesmo — de R$ 50 mil.

Paludo, claro!, nega que isso tenha acontecido. E a Lava Jato do Paraná já saiu em sua defesa.

O fato: até agora, nada foi investigado.

Outro fato: Messer repetiu a acusação em sua delação premiada. E é aqui que as coisas se tornam obscuras: segundo uma das versões, o Rio ouviu e enviou à coisa à PGR, onde teria morrido. Na versão número dois, o "mocozeamento" da acusação teria se dado na Lava Jato do Rio mesmo.

PALUDO CULPADO?
Eu estou dizendo que Paludo é culpado? Ah, nunca faço isso. Não sou juiz, Deus ou procurador da Lava Jato, que emite sentenças condenatórias antes de investigação e julgamento.

O que pergunto é por que, no caso de procuradores, se faz essa espécie de rito sumário de não investigação. Consta que perguntaram a Messer: "Tem prova do pagamento a Paludo?" E ele disse: "Não". Então tá bom.

Mas não é menos verdade que ele não tem prova contra ninguém. Mesmo assim, a sua "lista" foi comprada por um valor milionário: R$ 50 milhões (nem R$ 3 milhões nem R$ 10 milhões). Já volto a esse ponto em outro post.

PALUDO TESTEMUNHA
O que é inequívoco? Januário Paludo, um procurador da República, já serviu de testemunho de defesa de Messer, conforme reportagem publicada pelo UOL. Reproduzo um trecho de novo:
O procurador regional da República Januário Paludo, membro da operação Lava Jato, testemunhou em favor do doleiro Dario Messer em 2011 num processo que tramita na Justiça Federal do Rio de Janeiro. Suspeito de ter recebido propina do próprio Messer, Paludo foi chamado a prestar depoimento por um advogado do doleiro. Aceitou e o inocentou em juízo. Tanto foi assim que o relato de Paludo é citado no pedido de absolvição de Messer encaminhado pela defesa do doleiro à Justiça neste mês. O processo contra o doleiro tem relação com o caso Banestado. A acusação contra Messer dizia que ele teria movimentado três contas no exterior de forma ilegal. Duas já haviam sido investigadas por procuradores do Paraná, incluindo Paludo.

RETOMO
Atenção! Nunca ninguém ouviu falar antes de procurador servindo de testemunha de defesa de investigado, especialmente depois de ter participado da apuração. Essa participação, por si, já é um escândalo. Mais um pouco, e delegados da polícia ou da PF serão chamadas a depor...

Isso prova que Paludo é culpado? Se eu fosse da Lava Jato, bastaria para uma prisão preventiva até arrancar uma delação. Mas eu não sou. Não é prova de culpa.

O conjunto da obra só evidencia que os varões da Lava Jato preservam a si e aos seus dos critérios persecutórios empregados contra suas vítimas. Refaço a frase: para si e para os seus, não valem nem os procedimentos comezinhos e regulares de uma investigação.

Divisa dos bravos:
"Ao amigos tudo, menos a lei; aos inimigos, nada; nem a lei".