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Reinaldo Azevedo

Huck, Doria e Moro no "centro"? Gengis Khan para líder social-democrata

Depois que ficou sabendo que Sergio Moro (dir.) integra articulações de suposta frente de centro, o espírito de Gengis Khan baixou em outro centro e reivindica ser considerado um inspirador da social-democracia. Faz sentido! - Reprodução; Wilson Dias/Arquivo/Agência Brasil
Depois que ficou sabendo que Sergio Moro (dir.) integra articulações de suposta frente de centro, o espírito de Gengis Khan baixou em outro centro e reivindica ser considerado um inspirador da social-democracia. Faz sentido! Imagem: Reprodução; Wilson Dias/Arquivo/Agência Brasil

Colunista do UOL

09/11/2020 06h27

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Leiam um texto de Igor Gielow na Folha desta segunda sobre bastidores de uma articulação do que seria uma, sei lá como chamar, "frente de centro" para as eleições de 2022.

Juntaria Luciano Huck, Sergio Moro e João Doria.

Sei.

A apuração deve estar correta. Gielow é cuidadoso. Doria já recebeu o casal Moro num jantar — inclui Rosângela, a "conja", é claro —, e o apresentador já andou conversando com o ex-juiz e ex-ministro da Justiça.

A propósito: quem mesmo é "centro" na conversa? Huck é quem mais se aproxima. A ver. Até agora, não sei o que ele pensa.

Doria se elegeu prefeito com um discurso de direita e se fez governador com uma pregação de extrema direita. No Palácio dos Bandeirantes, moderou as posições, caminhou mais no sentido do centro e estacionou na direita.

Até acho que os paulistas, especialmente os paulistanos, são excessivamente severos com a sua gestão. Teve uma posição corajosa no enfrentamento do coronavírus — e não creio que tenha sido apenas para confrontar Jair Bolsonaro. Também agiu corretamente ao mobilizar o poder que tem o Estado de São Paulo no desenvolvimento de uma vacina.

Mas "de centro" não é, embora à esquerda de Bolsonaro, claro! Mas quem não estaria?

Quanto a Moro, dizer o quê?

Um dos grandes responsáveis pela eleição de Bolsonaro; principal responsável pela desordem hoje em curso na política; punitivista ensandecido que vitaminou a sua carreira usando duas vezes um mesmo delator de estimação — o doleiro Alberto Youssef, ele está numa articulação... de centro?

Isso é mesmo sério?

Um ministro que defendeu e defende excludente de ilicitude é "de centro"?

Um ex-juiz que se juntou ao órgão acusador, transformando o processo penal numa lambança, é "de centro"?

Um sujeito que tenta mudar uma garantia constitucional por meio de um simples projeto de lei é "de centro"?

Um ministro que ficou condescendendo com portarias do seu chefe que ajudaram a armar ainda mais a população é "de centro"?

Um cara que, quando ministro da Justiça, foi ao Ceará passar a mão da cabeça de policiais amotinados e armados é "de centro"?

Informa Gielow:
Uma articulação empresarial em torno de seu nome ganhou corpo, envolvendo nomes como Abílio Diniz e Pedro Parente, que são aliados no comando da gigante de proteína animal BRF.

Parente é figurinha carimbada do PSDB, e tem uma longa parceria com Andrea Calabi, o padrasto de Huck.

Ex-chefe da Casa Civil de FHC, Parente é muito próximo da TV Globo, empregadora do apresentador, e ocupou a chefia da retransmissora do grupo no Sul, a RBS.

Desde o ano passado, o empresário é sócio da EB Capital, gestora da família Sirotsky, dona da RBS. Huck é garoto-propaganda da BRF, empresa da qual Parente é o presidente do Conselho de Administração, e recebeu um cachê estimado no mercado em R$ 30 milhões em 2019.

Assim, chamou a atenção a série de entrevistas da esposa do apresentador, a também global Angélica, na qual basicamente ela o liberava para ser candidato.

Em 2018, o fator familiar foi central para demover Huck: além do bombardeio pessoal que sofreria, ambos os apresentadores teriam de renunciar a seus postos milionários na Globo.

Segundo a Folha ouviu de executivos ligados à emissora, isso agora está superado.
(...)

VOLTO
O que dizer?

Talvez isto: as elites brasileiras não aprendem nada nem esquecem nada.

O arranjo nasce com todos os ingredientes para virar carne queimada.

Ah, sim: no dia em que Moro for de "centro", convém ressuscitar Gengis Khan para organizar a nossa social-democracia.