Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
Missão Borat nos envergonha em Israel e é mantida sob severa vigilância
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A advertência feita pelo cerimonial da chancelaria de Israel para que Ernesto Araújo, nosso ministro das Relações Exteriores, colocasse a máscara para fazer uma foto ao lado de Gabi Ashkenazi, seu homólogo naquele país, é só mais um vexame internacional protagonizado pelo governo brasileiro. Sim, o ocorrido nos cobre de vergonha, mas chega a ser um evento menor, dado o tamanho da tragédia que vivemos por aqui.
Deus do céu! O que fazem aqueles dez patetas na "Missão Borat em Busca do Spray Milagroso"?
Oficialmente, trata-se de uma missão científica. Só que não há cientistas no grupo. Além de Araújo, integram a comitiva:
- Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), deputado federal;
- Hélio Lopes (PSL-RJ), o "Hélio Negão", também deputado;
- Fábio Wajngarten, assessor especial da Presidência:
- Filipe Martins, também assessor da Presidência;
- Max Guilherme Machado de Moura, outro assessor, ex-policial do Bope (RJ);
- Kenneth Félix Haczynski da Nóbrega, do Itamaraty;
- Hélio Angotti Neto, do Ministério da Saúde;
- Marcelo Marcos Morales, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação;
- Pedro Paranhos, também do Itamaraty.
Dessa turma, há apenas dois que sabem a diferença entre um vírus e um fardo de alfafa: os médicos Angotti e Morales. Precisamos recorrer à Lei de Acesso à Informação para conhecer os supostos acordos que estariam sendo firmados. A Lei da Improbidade Administrativa existe também para punir gastos inúteis.
BRASIL E ISRAEL
Binyamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, é o único político de relevo no mundo que dá bola para Bolsonaro.
O líder israelense faz o certo em seu país no combate à covid-19, mas endossa politicamente o negacionismo do presidente brasileiro e de sua escória. Essa viagem ridícula é a prova disso.
Como esquecer? Netanyahu protagonizou o vídeo mais contundente de um chefe de Estado contra a estupidez negacionista. Fez, na prática, pouco caso de todas as convicções do presidente brasileiro e daquela comitiva que lá estava, espalhando mundo afora nosso constrangimento e nossa vergonha.
Netanyahu chegou a falar do tal spray, mas, em seu país, ele se organizou mesmo para comprar a vacina e para garantir a imunização em massa. Mas Bolsonaro está fazendo mais propaganda do tal spray do que o próprio governo de Israel.
Ao permitir, no entanto, a viagem, Netanyahu coonesta essa farsa, como se o tal spray fosse coisa prestes a se realizar. Bolsonaro já usou aquele país para fazer proselitismo sobre armas, por exemplo.
Ocorre que há a promessa da absurda transferência da embaixada brasileira naquele país para Jerusalém, suspensa por ora. O bolsonarismo abraça as teses do sionismo reacionário, e Netanyahu não se importa de ter seu governo associado a essa súcia de negacionistas delirantes.
Ocorre que Israel realmente tem um Estado que funciona independentemente do governo. Aqui, a Missão Borat posou para fotografias sem máscara, ao lado do presidente. Lá, os valentes tiveram de seguir as regras. Ademais, são mantidos, o que foi anunciado pelo próprio governo, sob severa vigilância para que sua circulação se limite a eventos oficiais.
O comportamento de Araújo, tentando emplacar uma foto sem máscara ao lado de Ashkenazi, evidencia que todo cuidado é pouco.
Israel não é um país conhecido por se descuidar da segurança externa e interna. Os dez brasileiros que estão por lá, dado o comportamento do chanceler brasileiro, são, obviamente, um risco.