Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
Pesquisa XP-Ipesp: Lula pela 1ª vez à frente de Bolsonaro. E a terceira via
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Leio que, ao participar de um debate virtual sobre reforma administrativa com a Central dos Sindicatos Brasileiros, Ciro Gomes (PDT), ele próprio pré-candidato à Presidência, recomendou a Lula que abra mão de disputar a eleição. Caso o ex-presidente mantenha a elegibilidade, não parece que será essa uma tarefa muito fácil. Pela primeira vez, o petista aparece numericamente à frente de Bolsonaro na pesquisa eleitoral XP/Ipesp. O levantamento foi realizado entre 29 e 31 de março. A margem de erro é de 3,2 pontos percentuais para mais ou para menos.
Segundo o instituto, o petista aparece com 29% das intenções de voto, contra 28% de Bolsonaro. Ciro Gomes (PDT) e Sergio Moro (sem partido) vêm em terceiro, com 9%. Luciano Huck, também sem partido, marca 5%. Empatados com 3% estão João Doria (PSDB), Guilherme Boulos (PSOL) e Luiz Henrique Mandetta (3%). Disseram que não votariam em ninguém, anulariam ou não saberiam 12%. Na pesquisa anterior, de 11 de março, o petista marcava 25 pontos, e o atual presidente, 27.
SEGUNDO TURNO
Numa simulação de segundo turno, o petista surge numericamente à frente do atual mandatário: 42% a 38%. Há três semanas, os números eram, respectivamente, 40% a 41%. Uma diferença de um ponto pró-Bolsonaro se tornou de 4 em favor de Lula. O atual mandatário empata com Ciro em 38%; fica numericamente à frente de Huck (35% a 32%) e venceria Doria (37% a 30%) e Boulos (38% a 30%). Uma curiosidade: a pesquisa XP/Ipesp quis saber o que aconteceria no caso de um embate entre Lula e Moro: o petista bateria o ex-juiz por 41% a 36%.
As eleições estão ainda muito distantes. Quem disser que sabe o que vai acontecer com a economia brasileira é porque está mal informado. Tampouco dá para antecipar o impacto que pode ter na população o reinício do pagamento do auxílio emergencial — bem menor desta feita.
Lula, como se nota, está de volta ao jogo eleitoral. Vamos ver se a Justiça não decide, de novo, tomar o lugar do eleitor. Se é que vai ser mesmo candidato. Na entrevista que me concedeu na quinta, o ex-presidente disse que não quer debater eleição agora e que não sabe ainda se vai disputar caso esteja elegível.
FATOR LULA
Já escrevi e reitero: à diferença do que dizem alguns, não creio que a recuperação de sua elegibilidade, ainda pendente de decisões do Supremo, contribua para a radicalização do processo político. Acho que ela já traz, de saída, uma virtude: o campo que vai da direita democrática à centro-esquerda que não quer se juntar com o PT se tocou: tem de se organizar para chegar a um nome de consenso se quiser ser mesmo competitivo.
Ou por outra: Lula elegível mais facilita do que dificulta o surgimento de uma terceira via. Se vai ou não ser bem-sucedida, aí é outra conversa. Na entrevista que me concedeu na quinta-feira, o ex-presidente fez claros acenos ao centro. O único que insiste mesmo em ficar de braços dados com as trevas é Jair Bolsonaro.
Consta que estaria empenhado agora em se reaproximar do empresariado, depois de todo o desastre provocado no trato da pandemia, que está destruindo o que resta de virtuoso na economia. Não é fácil. Às vezes, fico com a impressão de que as dificuldades que o envolvem têm mais a ver com uma formação congênita do que com uma escolha consciente...