Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
Pesquisa: Lula segue dando uma sova em Bolsonaro. Não é o TSE. É o eleitor
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A segunda pesquisa eleitoral Genial/Quaest, a exemplo da primeira, divulgada há um mês, não traz boas notícias para o presidente Jair Bolsonaro. Também deixa claro que, até agora, não surgiu "o" nome do centro que possa encarnar a opção "nem-nem". Mais: a depender da leitura que se faça, há a possibilidade de outros se aventurarem a entrar na corrida, o que só reforçaria o que chamam por aí de "polarização". O levantamento ouviu 1.500 pessoas entre os dias 29 de julho e 1º de agosto, em entrevistas presenciais, e a margem de erro é de três pontos para mais ou para menos.
Se a eleição fosse hoje, o petista Luiz Inácio Lula da Silva bateria Jair Bolsonaro no segundo turno por 54% a 33%. E não seria culpa das urnas eletrônicas. Tratar-se-ia apenas da vontade do eleitor. Há um mês, os números eram rigorosamente esses. Subiu de 2% para 9% os que dizem não saber ou que preferiram não responder. E caíram de 11% para 3% os que votariam em branco ou anulariam seu voto.
Lula venceria todos os nomes testados. Os números seriam estes:
- Sérgio Moro: 26% a 54%
- José Luiz Datena (PSL): 24% a 54%
- Ciro Gomes (PDT): 23% a 53%
- João Doria (PSDB): 14% a 57%
- Eduado Leite (PSDB): 15% a 57%
- Luiz Henrique Mandetta (DEM):14% a 58%
PRIMEIRO TURNO
No primeiro turno, Lula marca 46% contra 29% do atual presidente quando Ciro aparece como o terceiro nome: 12%. O percentual do petista variaria muito pouco -- 44% (dentro da margem de erro) -- caso Moro resolvesse entrar na briga, com 10%: o pedetista oscilaria para 9%, e Bolsonaro, para 27%. O ex-presidente segue imperturbável se o ex-juiz sai da simulação para dar entrada a Datena: fica com 44%; o ex-governador do Ceará marca 10%; o apresentador, também 10%, e o atual presidente, 27%.
O percentual de Lula (44%) não se altera com João Doria como candidato, que ficaria com 5%. Ciro conservaria os 10%, e Bolsonaro, 29%. Com Leite (4%), o petista marcaria 45%; o pedetista, 10%, e Bolsonaro, 29%. Com Mandetta (3%), atual e ex-presidentes seguiriam, respectivamente, com 45% e 29%. Ciro ficaria com 11%.
A variação em relação a pesquisa anterior é mínima. Há um mês, o nome de Datena não havia sido testado.
PERCEPÇÃO DA ECONOMIA
Uma das apostas dos bolsonaristas para a "virada" de Bolsonaro -- é bom lembrar que ele próprio aposta num golpe -- é a economia. Quanto teria de melhorar e em que velocidade para reverter a avaliação negativa dos eleitores?
Dizem que a economia melhorou muito neste ano apenas 6% dos ouvidos. Para 10%, melhorou um pouco. Afirmam que tudo ficou na mesma 20%. Somam 62% os que dizem que piorou um pouco (15%) ou muito (47%).
Nesse levantamento, a opinião das pessoas sobre o governo segue a mesma: 44% tinham uma avaliação negativa da gestão e assim permanecem. A positiva variou de 28% para 27%.
Dizem preferir que Lula vença a disputa 42% dos ouvidos — há um mês, 43%. Nesse quesito, Bolsonaro oscilou de 24% para 26%. E são hoje 38% os que respondem "nem Lula nem Bolsonaro"; antes, 31%.
ADESÃO E REJEIÇÃO
No que diz respeito à adesão à candidatura (votaria nele) ou rejeição (não votaria), Bolsonaro também não tem muito o que comemorar. Vamos ver.
A pesquisa quis saber primeiro se os eleitores conheciam os candidatos e só mediu adesão ou rejeição entre os que disseram "sim". Ora, por óbvio, tanto o ex-presidente (99%) como o atual (98%) são conhecidos por praticamente todo mundo. Logo, o universo dos que dizem que votariam e não votariam em um ou em outro corresponde ao conjunto dos eleitores.
Dizem que não votariam em Bolsonaro 60% e que votariam 38%; há um mês, eram, respectivamente, 61% e 36%. Com Lula, as coisas se invertem: votariam nele 58%, e apenas 41% dizem que não — na pesquisa anterior, 56% e 42%. Que fique claro: isso não é uma indicação de voto. O que se indaga aí, no fim das contas, é se "vota ou poderia votar" ou se "não votaria de jeito nenhum".
Ciro é menos conhecido: 88%. Entre esses, 67% dizem "não", e 28%, "sim". O nível de conhecimento em relação a João Doria é de 78%. Dizem que não votariam 77%, e 19%, que sim. Só 60% afirmam saber quem é Eduardo Leite: 74% não votariam, e 19%, sim. Mandetta é conhecido por menos gente ainda: 57%. Entre estes, 75% dizem "não", e 21%, "sim".
Não se colheram esses números para Moro e Datena, o que parece ser uma falha, uma vez que eles aparecem nas simulações de primeiro turno. Da mesma sorte, não se fizeram simulações de segundo turno de Lula contra outros candidatos.
CONCLUINDO
1: No mês em que Jair Bolsonaro resolveu radicalizar a retórica golpista, pode-se afirmar que ele manteve unida a sua grei de fanáticos e que conservou o seu potencial de voto. Se é suficiente para levá-lo ao segundo turno, verifica-se ser amplamente insuficiente para conduzi-lo à vitória. Ao menos se a eleição fosse hoje. E não em razão de algum complô do STF com o PT. Por enquanto, é a maioria do eleitorado que não quer que continue presidente.
2: Até agora, não há sinais de que um nome da chamada Terceira Via despontou. Mesmo quando "outsiders" aparecem nas simulações, como Moro e Datena, isso pouco altera os percentuais de Lula e Bolsonaro.
3: Dizem que o Congresso é o responsável pelo auxílio emergencial — e é mesmo! —35% dos entrevistados. Só 27% sustentam ser Bolsonaro. Entre estes, 48% fazem uma avaliação positiva do governo, e só 22%, negativa. Já no grupo que atribui ao Congresso o benefício, a negativa salta para 56%, e a positiva cai para 17%. Sendo assim, nota-se o peso que tem a questão na percepção da qualidade do governo.
Um ser razoável estaria ocupado em chamar para si os louros desse benefício em vez de sair por aí pregando golpe e denunciando conspirações.
Mas Bolsonaro não tem nada de razoável, não é? Talvez devamos agradecer. Com um pouco mais de esperteza, só um pouco, suas chances de reeleição seriam maiores.
Que continue ignorante e golpista.
Ah, sim: nada menos de 66% desaprovam o comportamento pessoal do presidente. Ainda há senso de ridículo no país.