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Reinaldo Azevedo

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Exército tem de afastar Lawand e de encaminhar expulsão. Agora, não depois!

Isso é um bufão. E ele faz bufonarias. Cabe no Exército? - Reprodução
Isso é um bufão. E ele faz bufonarias. Cabe no Exército? Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

27/06/2023 22h20

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O comandante do Exército, Tomás Paiva, que tem tido comportamento exemplar, reconheça-se, desde que assumiu a função, já afirmou que a Força esperará a conclusão das investigações e eventual decisão da Justiça para tomar medidas contra militares da ativa envolvidos com os atos golpistas. Eu mesmo já disse que não é uma posição despropositada. Mas é preciso estar atento aos fatos novos. E de ser exemplar. O bem que se tem a proteger é importante demais para condescender com aqueles que mancham a farda — e, pois, a própria instituição.

O coronel Jean Lawand Jr., flagrado em conversas golpistas com o tenente-coronel Mauro Cid antes, durante e depois da eleição do ano passado depôs na CPMI do Atos de 8 de janeiro nesta terça. Só não enxovalhou mais o Exército porque não estava envergando a farda — não seguindo, nesse particular, o mau exemplo do coronel da PM do Distrito Federal Jorge Eduardo Naime, que compareceu à CPI com o uniforme, em mais um sinal do que parece ser um reinante desmando corporativista a vigorar no Distrito Federal. Volto a Lawand Jr.

Ele mentiu de forma desbragada e desavergonhada. Todos conhecemos as suas conversas. Era um entusiasta e um incitador do golpe. Mais do que isso: dizia que bastaria a Jair Bolsonaro dar o comando para a intervenção, e não haveria a hipótese de as Forças não cumprirem a determinação. Alarmista, dizia a Cid que Bolsonaro ainda acabaria na Papuda — tal antevisão, em particular, me parece certa — se nada fizesse.

O coronel — sei lá se como quem enfrentasse, com destemor característico, um desafio — não optou pelo silêncio. Seria um direito. Mas fez algo muito mais covarde do que isso: negou o conteúdo explícito das próprias palavras. Tentou convencer os senadores de que, ao estimular Bolsonaro a agir, tentava levar o então presidente a uma conclamação em favor da paz.

Nesse particular, convenham, ainda pôs em palpos de aranha o próprio ex-presidente, como notou o senador Rogério Correia (PT-MG). Ora, se bastaria um sinal do então ainda mandatário para pôr fim à baderna e se aquele nada fez, é forçoso concluir que contribuiu para produzir o resultado conhecido. Que o "Mito" poderia ter posto fim à zorra toda, sabemos. Mas é claro que Lawand não falava a verdade sobre o teor de sua incitação. Vejam vídeos abaixo.

Não é possível que este senhor permaneça no Exército. Ignorássemos o que falou e o que fez na surdina, nem estaríamos aqui a falar dele. Como fingir que não sabemos o que sabemos? Já seria motivo suficiente para ser defenestrado do Exército. Depois do espetáculo grotesco desta terça, parece que o coronel chega ao fim da linha.

Pergunta necessária de resposta óbvia: que tarefa se pode atribuir a esse cara, na certeza de que será cumprida segundo os códigos que regem a sua função, segundo a lei, segundo a moralidade e segundo o senso de honra? Seu processo de expulsão tem de começar a ser encaminhado já.

Ademais, não ficará na rua da amargura, não é? As respectivas mulheres de militares expulsos, mesmo por falhas muito graves, passam a ser consideradas "viúvas fictas" — isto é, fictícias. E seguem recebendo o soldo dos maridos, ainda que vivos. É espantoso, mas é assim.

Podemos arcar com o custo de viúvas de vivos. Mas não se pode tolerar que o Exército seja manchado por maus militares. E ele ainda pode trabalhar na iniciativa privada. Como se vê, terá uma boa vida. Mas tem de ser longe do Exército.

E, claro, que arque com o peso de suas escolhas se a Justiça concluir que cometeu crimes.

Adicionalmente, há a patetice das "recomendações" que um instrutor da Escolinha do Professor Raimundo fez para que se desse bem na CPI, flagradas pela repórter fotográfica Gabriela Biló, a saber: "SE ALIMENTAR; NÃO ALOPRAR; NÃO GESTICULAR; SEM 'CAGOETE'; NÃO PERCA EMOCIONAL; MÃOS JUNTAS; ORAÇÃO; CARA SERENA".

O senador Randolfe Rodrigues, líder do governo no Senado, especulou se "sem cagoete" era uma referência a "não ser alcagueta", ou "cagueta", como também registra o dicionário. É até provável que tenha tentado escrever mesmo "cacoete"... De todo modo, eram dicas que poderia ser dadas a um ator que estivesse sendo submetido a um teste para desempenhar algum papel...

E Lawand levou pau. Como militar, como patriota e como ator. O Exército tem de se livrar de bufões e das bufonarias. Deixem a arte da representação para os especialistas. Felizmente, os temos aos montes.