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Reinaldo Azevedo

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Em seis meses, governo Lula coleciona acertos contra o reacionarismo bocó

Lula em Pernambuco, durante o relançamento do Plano de Aquisição de Alimentos, ação essencial para a agricultura familiar e de efetivo combate à fome. Presidente relançou programas sociais que tinham sido destruídos por Bolsonaro - Ricardo Stuckert/PR
Lula em Pernambuco, durante o relançamento do Plano de Aquisição de Alimentos, ação essencial para a agricultura familiar e de efetivo combate à fome. Presidente relançou programas sociais que tinham sido destruídos por Bolsonaro Imagem: Ricardo Stuckert/PR

Colunista do UOL

01/07/2023 18h56

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Tenho poucos reparos a fazer aos seis primeiros meses do governo Lula. Começou acertando antes de tomar posse, com a PEC de Transição, e os críticos estavam obviamente errados, e isso se vê pelos fatos, não pelos desejos. Reestruturou o Bolsa Família e relançou programas sociais que haviam sido destruídos, como o Minha Casa Minha Vida. E aí há outro tiro n'água de parte considerável da imprensa: "São programas velhos". É mesmo? Acho que a consideração se confunde com perversidade social e moral. Vá falar com quem não tem casa...

Temos um novo e bom arcabouço fiscal, e há empenho em favor da reforma tributária, embora eu seja cético e avalie que o governo deve se organizar, nesse caso, para a hipótese de não acontecer nada. As Cassandras às avessas erraram as predições sobre tudo: crescimento, inflação, câmbio, dívida... Cassandra, coitada!, fazia previsões certas nas quais ninguém acreditava. As nossas erram tudo, mas muita gente ainda acredita. Só se deram bem com os juros pornográficos porque o BC partilha de suas mesmas taras incompetentes.

Para quem barateou o caso, lembro: o dólar encerrou o primeiro semestre de 2023 com desvalorização de 9,27% frente ao real. Já o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo, a B3, acumulou alta de 7,61% — só em junho, o avanço foi de 9%, a maior variação mensal desde o final de 2020.

Lula devolveu a dignidade à política externa brasileira e voltou a fazer do meio ambiente um ativo nas negociações multilaterais. O candidato a tiranete que o antecedeu havia conseguido transformar o capital verde em cinza. Ao mesmo tempo, o presidente recusa imposições da União Europeia para celebrar o acordo com o Mercosul, o que também é positivo. O nome disso é soberania. O mandatário parou de nos envergonhar e está com a agenda correta.

E há o tema da articulação política. O Congresso não terá menos poder do que tem. A tendência é que venha a ter mais. Precisamos caminhar par o semipresidencialismo ou para o parlamentarismo. Mas essa seria uma dificuldade de qualquer governo. Bolsonaro se arranjou com o Orçamento Secreto, abrindo mão de governar. Os conflitos ainda em curso derivam do fato de que Lula, corretamente, não abre mão de ser Executivo.

Nada é ruim? O governo ainda não aprendeu a trabalhar com as redes sociais e se deixa enredar pelas milícias digitais fascistoides. Padece de certa inocência nessa área. Quanto à questão da guerra Rússia-Ucrânia, a posição de Lula é essencialmente correta: sem concessões não se negocia; sem elas, fica-se no confronto permanente, sob o risco de um acidente que pode ter consequências catastróficas. Os nossos falcões ou carcarás guerreiros do "bico volteado" secretam seu ódio contra essa postura por sujeição voluntária ao "Imperador do Norte". Veem-se como conselheiros do Pentágono...

Quanto às ditaduras latino-americanas -- destacando que pouco se fala sobre as outras --, houve um erro grave ao receber Nicolás Maduro como alguém que pudesse se converter à democracia, e há cuidados excessivos em chamar a Nicarágua por aquilo que é: uma ditadura. Não temos de ser exportadores de democracia. Se nada puder ser feito para que os dois regimes mudem -- e creio que não há --, então que Lula e o governo se abstenham de considerações.

Como é mesmo? "Jornalismo é oposição; o resto é armazém de secos & molhados". Ouso atualizar a frase: "Jornalismo é precisão. Para que não corra o risco de se transformar num armazém de secos & molhados do reacionarismo bocó".

Tradutor: Em seis meses, governo Lula coleciona acertos contra o reacionarismo bocó

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL