Reinaldo Azevedo

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Opinião

Biden à nação: os EUA entre a esperança e o ódio, o avanço e o retrocesso

O presidente Joe Biden fez na noite de ontem o prometido pronunciamento sobre a sua decisão de desistir da corrida pela reeleição. Estava no Salão Oval e começou evocando a memória de antecessores que fizeram história: George Washington, Abraham Lincoln e Franklin Roosevelt. De cada um, disse ter aprendido uma lição.

Afirmou que servir ao povo americano foi a honra de sua vida, que os Estados Unidos vivem um ponto de inflexão e que o país precisa fazer uma escolha. Leiam:
"Deixei claro que acredito que a América se encontra num ponto de inflexão, num daqueles raros momentos na história em que as decisões que tomamos agora determinam o nosso destino, o da nossa nação e o do mundo nas próximas décadas. A América terá de escolher entre avançar ou retroceder, entre a esperança e o ódio, entre a união e divisão.

Temos de decidir: ainda acreditamos na honestidade, na decência, no respeito, na liberdade, na justiça e na democracia? Neste momento, podemos ver aqueles de quem discordamos não como inimigos, mas como concidadãos americanos. Podemos fazer isso? O caráter e a vida pública ainda importam? Acredito que sei a resposta a estas perguntas porque conheço vocês, o povo americano, e sei isto: somos uma grande nação porque somos boas pessoas.

Quando vocês me elegeram para este cargo, prometi ser sempre sincero com vocês, dizer-lhes a verdade. E a verdade é que a causa sagrada deste país é maior do que qualquer um de nós. Aqueles entre nós que valorizam essa causa, valorizam-na para valer. É a causa da própria democracia americana. Devemos nos unir para protegê-la".

SALVAR A DEMOCRACIA É O MAIS IMPORTANTE
Biden insiste num dos pilares da campanha dos democratas: a democracia corre risco caso Donald Trump seja eleito, daí as opções antitéticas: avançar ou retroceder; esperança ou ódio; união ou divisão. Na sequência, afirma que seu desempenho o habilitaria a um segundo mandato, mas salvar a democracia se mostrou mais importante:
"Vocês sabem: nas últimas semanas, ficou claro para mim que preciso unir meu partido neste esforço decisivo. Acredito que o meu desempenho como presidente, que a minha liderança no mundo, que a minha visão sobre o futuro da América, tudo isso fazia por merecer um segundo mandato. Mas nada pode se sobrepor à salvação da nossa democracia. E isso inclui a ambição pessoal.

Então decidi que o melhor caminho a seguir é passar a tocha para uma nova geração. Essa é a melhor maneira de unir nossa nação. Vocês sabem: há um tempo e um lugar para [uma pessoa com] longos anos de experiência na vida pública. Há também um tempo e um lugar para novas vozes — sim, vozes mais jovens — e esse tempo e lugar é agora."

Como se lê, Biden admite ser necessário passar o bastão — ou a tocha — para vozes mais novas, o que parece soar como um convite à reflexão também para o eleitorado de Trump.

Assegura que continuará a trabalhar forte pelos próximos seis meses e procurou estabelecer um diferencial em relação a Trump no que respeita à segurança do mundo. Leiam:
"Vocês sabem: continuarei a trabalhar para garantir que a América continue forte, segura e líder do mundo livre. Sou o primeiro presidente deste século a informar ao povo americano que os Estados Unidos não estão em guerra em nenhum lugar do mundo. Continuaremos a reunir uma coalizão de nações decididas para impedir que Putin assuma o controle da Ucrânia, causando mais danos. Tornaremos a Otan mais forte, e eu a tornarei mais poderosa e mais unida do que em qualquer momento da nossa história. Continuarei fazendo o mesmo pelos aliados no Pacífico.

Vocês sabem, quando assumi o cargo, a sabedoria convencional era a de que a China iria inevitavelmente, inevitavelmente, ultrapassar os Estados Unidos. Esse já não é mais o caso, e vou continuar a trabalhar para acabar com a guerra em Gaza, para levar para casa todos os reféns e levar paz e segurança ao Oriente Médio e acabar com esta guerra. Também estamos trabalhando 24 horas por dia para trazer de volta os americanos que estão detidos injustamente em todo o mundo."

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Trump, nós já vimos, assegura que vai magicamente pôr fim às guerras e não chega a ser exatamente um fã na Otan. Seu principal interlocutor na Europa é Viktor Orbán, primeiro-ministro da Hungria e um aliado de Vladimir Putin. No discurso na Convenção do seu partido, o republicano se vangloriou de que não havia guerra no mundo durante o seu mandato. É besteira. Biden bate na mesma tecla. Tanto num caso como noutro, os EUA lutam por intermédio de aliados. E o democrata exalta o papel da Otan na contenção da Rússia — de que Orbán, o amigão de Trump, é aliado.

A China, a real adversária dos EUA, aparece no pronunciamento. Eis um caso em que não há grande divergência entre o democrata e o republicano. Ambos prometem o que não podem entregar: o fim da guerra de Israel contra o Hamas na Faixa de Gaza.

KAMALA HARRIS
Kamala Harris, sua vice e agora nome certo para a disputa à Presidência pelo Partido Democrata, apareceu em sua fala:
"Concorri à Presidência há quatro anos porque acreditava, e ainda acredito, que a alma da América estava em jogo. A própria natureza de quem somos estava em jogo. E ainda está.

A América é uma ideia. Uma ideia é mais forte do que qualquer exército; maior do que qualquer oceano; mais poderosa do que qualquer ditador ou tirano.

É a ideia mais poderosa da história do mundo. É a ideia das verdades que consideramos evidentes por si mesmas. Todos fomos igualmente criados, dotados pelo nosso criador de certos direitos inalienáveis: a vida, a liberdade, a busca da felicidade.

Nunca estivemos totalmente à altura desta ideia sagrada, mas também nunca nos afastamos dela, e não acredito que o povo americano vá se afastar dela agora.

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Em alguns meses, o povo americano escolhe o rumo do futuro da América.

Eu fiz a minha escolha. Eu dei a conhecer as minhas opiniões. Gostaria de agradecer à nossa grande vice-presidente, Kamala Harris. Ela é experiente. Ela é durona. Ela é capaz. Ela tem sido uma parceira incrível para mim e uma liderança do nosso país."

Continuou a discorrer sobre os feitos do seu governo e concluiu, lembrando de novo a eleição de 5 de novembro:
"A história está em suas mãos. O poder está em suas mãos. A ideia da América está em suas mãos. Vocês têm apenas de manter a fé. Mantenham a fé e lembrem-se de quem somos. Somos os Estados Unidos da América. E simplesmente não há nada, nada maior do que a nossa capacidade quando fazemos isso juntos. Então vamos agir juntos para preservar a nossa democracia."

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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