Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
Com 250 mil mortos, Bolsonaro e Congresso pisam fundo na necropolítica
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Passamos das 250 mil mortes causadas pela Covid-19. Mas o presidente da República continua dando mau exemplo. Pior, agora que tem o Centrão ao seu lado, o Congresso também desrespeita as recomendações sanitárias.
Foi uma semana em que Bolsonaro fez duas daquelas suas caminhadas histriônicas do Palácio do Planalto até a sede do Legislativo. Provocou aglomerações em todo o percurso, com a turba, seguranças, aliados e políticos, sem máscaras, se acotovelando.
O objetivo era apenas encenar uma resposta ao mercado, que entrou em parafuso depois que Bolsonaro interveio e derrubou o presidente da Petrobras.
A ideia foi criar um fato midiático, com a casca liberal que o mercado gosta, e que jogasse no colo do Parlamento a responsabilidade pela crise. Porque é esse o resultado. Fora os casos da doença que vierem a ser registrados.
Na primeira caminhada, terça-feira, dia 23, Bolsonaro foi entregar pessoalmente aos presidentes da Câmara e do Senado, a proposta de privatização da Eletrobras.
Começa que não é bem uma privatização, é a venda de ações da empresa a um acionista majoritário, mas com o governo por trás, como garantidor da iniciativa privada.
É uma encenação porque todos sabem que será difícil passar no Congresso, já que boa parte dos parlamentares não gostam da ideia. A começar pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG).
No dia seguinte, Bolsonaro repetiu a dose. Atravessou a rua a pé até a Câmara, desta vez para entregar ao presidente da Casa, Arthur Lira PP-AL), o projeto de Marco Legal do setor postal, que viabilizaria a privatização dos Correios.
Outro que terá muitas dificuldades e levará muito tempo para ser aprovado. Mas, numa salinha apertada, sem máscaras, foi feita a encenação, com empurra-empurra, vidros blindex quebrados e perdigotos para todos os lados.
Sem contar que nessa semana, prefeitos de todo o Brasil acorreram ao Congresso em busca de liberação de recursos para suas cidades. E já apareceram gabinetes de parlamentares interditados por causa do coronavírus.
E assim vai se confirmando a teoria daquele filósofo camaronês, Achille Mbebe, segundo a qual vivemos agora sob a égide da necropolítica. E o que é isso? O verdadeiro poder soberano é o poder de determinar quem vive e quem morre.
Nossos governantes carregam essa responsabilidade: já passamos das 250 mil mortes no Brasil. E eles continuam pisando fundo.
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