Tales Faria

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Meta de Bolsonaro era contaminar todas as forças militarizadas do país

A prisão de comandantes da Polícia Militar de Brasília, na manhã desta sexta-feira, 18, revela que o ex-presidente Jair Bolsonaro conseguiu contaminar com suas ideias golpistas a principal força militarizada do Distrito federal.

Mas o problema não para aí. A questão a ser tratada daqui para a frente é que Bolsonaro quase conseguiu atingir a principal meta do bolsonarismo: ideologizar todas as forças militarizadas do país.

Trata-se de uma questão a ser enfrentada não só pelo governo federal, como também pelos governadores e pela Justiça.

A Polícia Federal e os ministros do Supremo Tribunal Federal, especialmente Alexandre de Moraes, têm mostrado que estão engajados no processo de desideologização. Mas ainda falta blindar outros setores.

No nível federal, ainda se encontra contaminada e em processo de limpeza a Polícia Rodoviária Federal, que foi comandada pelo ultrabolsonarista Silvinei Vasques.

Outro grupo contaminado e que está sob a vigilância direta do ministro da Justiça, Flávio Dino, é a Força Nacional.

O grupo teve como chefe no governo Bolsonaro o marido da deputada Carla Zambelli (PL-SP), Aginaldo de Oliveira. Coronel da PM do Ceará ele esteve à frente da Força Nacional por três anos. O casal Zambelli-Aginaldo esteve presente em alguns dos protestos que ocorreram em Brasília após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições.

Mas o principal problema no nível federal são os militares. O bolsonarismo se infiltrou nas três Forças - Exército, Marinha e Aeronáutica.

Nas conversas de Mauro Cid por WhatsApp obtidas pela Polícia Policia Federal, um coronel disse ao ajudante de ordens do presidente que, se o Alto Comando não aderisse ao golpe, os subordinados se sublevariam.

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O hacker Walter Delgatti revelou - e foi confirmado pelo senador Flávio Bolsonaro - que o ex-presidente da República o encaminhou ao então ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira, para ajudar na elaboração de um relatório contra as urnas eletrônicas.

O hacker esteve pelo menos cinco vezes nas dependências do Ministério da Defesa em contato com técnicos e comandantes militares.

O historiador Francisco Carlos Teixeira da Silva, titular aposentado da UFRJ e especialista em assuntos militares, revelou em entrevista ao Análise da Notícia que, entre os militares, o atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva é tratado como "ex-condenado".

No caso dos governos estaduais, as polícias com maiores infiltrações bolsonaristas são as dos estados do Sul, do Sudeste e do Centro-Oeste.

A Polícia Militar de São Paulo tornou-se foco de maior preocupação não só pela importância do estado, como pelo fato de o governador, Tarcísio de Freitas, ser um possível candidato à Presidência da República com o apoio de Bolsonaro.

A avaliação de especialistas do governo federal é de que o máximo que pode ser feito agora é tentar controlar o bolsonarismo pela força da hierarquia nas estruturas militarizadas e promover uma desideologização que levará tempo até ser alcançada. Se for possível.

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