Eleição na Venezuela dependerá da vontade dos militares
Nicolás Maduro governa a Venezuela desde 5 de março de 2013, quando da morte de Hugo Chávez, que iria iniciar o quarto mandato presidencial. Maduro, à época, era o vice-presidente. Governou ad interim e foi confirmado como presidente em 7 de abril de 2013.
Neste domingo (28), Maduro irá concorrer às eleições presidenciais venezuelanas, depois de mais de dez anos no poder e a sua eleição de 2018 sob odor de fraude.
As pesquisas eleitorais, por agências independentes, apontam, para a derrota de Maduro. Estaria o opositor Edmundo Gonzales Urrutia, 74, com 20 pontos percentuais à frente.
Urritia é diplomata. Ficou conhecido como analista político venezuelano. Não teve o nome barrado para concorrer às eleições e nada foi inventado a fim de embaraçar a sua pretensão de concorrer à presidência.
Corina Machado
A propósito, tirar Marina Corina Machado da frente, com o comitê eleitoral cassando a sua candidatura sob acusação de compra de votos e corrupção, de nada adiantou para Maduro. Ao contrário, uniu forças oposicionistas contra ele e atraiu a indignação internacional, a incluir o desagrado e preocupação do presidente Lula (PT).
Até as estátuas de Simón Bolivar, o libertador do jugo espanhol, sabem haver sido a cassação de Corina encomendada por Maduro. Isso porque seria facilmente batido por ela, em eleições limpas.
Puxadas de tapetes e condutas antidemocráticas são bem conhecidas na Venezuela desde a independência em 1821, com sequência de regimes sempre autoritários, até o breve respiro democrático de 1958, interrompido por golpe militar.
Maduro, e agora sabe até a estátua do Bolivar no Central Park de Nova York, fraudou as eleições em 2018. E tivemos, no início de 2019, a bananeira autoproclamação à chefia de Estado e de governo da Venezuela de Juan Guaidó, então presidente da Assembleia Nacional,
A lembrar, até Chávez, um militar turbulento e de passado golpista também quase foi defenestrado do poder. A registrar ter havido tentativa da sua derrubada do poder tramada pela direita dos EUA.
Poder oculto
Os analistas, democráticos e operadores do direito internacional, conhecido por direito das gentes, estão acompanhando atentamento o desenrolar das eleições.
Nenhum deles tem esfera de cristal, mas, com fraude ou sem fraude, com oposição ou situação a vencer, existe um poder oculto, de mando, na Venezuela.
Pelos informes, Maduro não conseguirá obter uma reviravolta e deverá perder. Mais ainda, poderá ocorrer fraude eleitoral e os observadores internacionais confiáveis tiraram o time de campo: avisaram que não estarão presentes, por falta de liberdade nos acompanhamentos.
Atenção e volto ao ponto fulcral: os especialistas em geopolítica e no direito internacional não são ingênuos. Sabem existir na Venezuela um poder oculto: os militares.
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Quero receberNas Forças Armadas venezuelanas, temos cerca de 115 mil militares no serviço ativo. O Exército detém 54,8% desse total, a Marinha, 15,2%, e a Aeronáutica, 20%. Os pessoal da reserva soma 8.000.
A pergunta que não quer calar é a seguinte: os militares, poderosos, potentes e ricos graças ao governo Maduro, aceitarão o resultado desfavorável ao continuísmo?
Poderosos e fardados
Os militares mandam na Venezuela e as organizações militares são hierarquizadas. Por enquanto, os militares reconhecem a liderança de Maduro, que, sem formação militar, mas com atuação política no trabalhismo e herdeiro político de Hugo Chávez, faz o papel de populista.
A propósito, Maduro reúne os elementos caracterizadores do populismo, observado o célebre Dicionário de Política de Norberto Bobbio. Ou seja, Maduro é agressivo, demagógico, simplista e se vende como pai do povo, mas é pai-patrão.
Maduro já falou, se perder a eleição, em guerra civil e derramamento de sangue. Em outras palavras, confessou uma possível retomada à força do poder perdido.
Isso, evidentemente, por acreditar na fidelidade dos membros das Forças Armadas e nos policiais ditos de garantia da ordem e segurança pública. Maduro usou da intimidação vulgar, própria dos ditadores.
Vale frisar. Maduro assistiu ao golpe frustrado ocorrido contra Chávez, que chegou até a ser preso. Percebeu, com base na experiência, da necessidade da fidelidade canina dos militares. Acha que pode contar sempre com eles para continuar no poder, ainda com eleição perdida e com o país em caos econômico.
Na verdade, Maduro, cooptou os militares.
Como se nota com facilidade, ficou dependente dos militares. O país está economicamente quebrado e o assistencialismo aos pobres virou a única bandeira de Maduro. O anúncio de guerra para anexação territorial da Guiana Essequiba e as suas riquezas, virou piada, uma encenação eleitoreira.
Fuga em massa e domínio militar
Maduro enfrenta realidade que não pode ocultar ao mundo, ou seja, 8 milhões de venezuelanos fugiram da Venezuela por fome e por falta de trabalho e remédios.
A antes produtiva indústria venezuelana virou sucata. A classe burguesa empobreceu.
Hoje, dos 34 ministérios, 12 são dirigidos por militares. O petróleo, mineração e o comércio estão sob controle dos militares.
Diretamente, os militares estão envolvidos nos setores primário, secundário e terciário de produção: do petróleo às reservas minerais. Controlam até as negociações dos hidrocarburantes exportados aos EUA.
Tem o pior. Segundo agências americanas antidrogas, os militares comandam a narcovia de escoamento de cocaína pelo rio Orinoco.
Caos e futuro incerto
O embargo norte-americano é apontado como o vilão do caos econômico-financeiro venezuelano.
Efetivamente, ajudou a derrubar a economia venezuelana e Maduro não teve o apoio russo esperado. A Rússia, em razão da invasão da soberania da Ucrânia, também sofre por embargos e transformou-se em dependente da China.
Os militares venezuelanos, no entanto, estão muito bem financeiramente e desfrutam do prestígio derivado da intromissão na vida política. E a disciplina militar impõe, repita-se, o reconhecimento de um chefe supremo, no caso o antidemocrático Maduro.
Nessa Venezuela militarizada e caótica, competiu ao ditador populista Maduro empolgar os pobres e famintos. E os programas sociais são usados para dar a Maduro a imagem de pai-patrão.
As prisões arbitrárias continuam a acontecer nesse período eleitoral. Até trabalhadores contratados para montar palcos de comícios da oposição já foram presos.
Maduro dança e canta nos palcos e pela internet. Procura, na campanha eleitoral, apresentar-se como um líder popular divertido, vizinho aos pobres. Teve um tempo que contava falar com passarinhos e ouvir Chávez.
No entanto, a recessão econômica tira-lhe a graça. Faltam bens de primeira necessidade.
O filho de Maduro, deputado eleito, tentou consertar a fala do pai presidente no que toca à guerra civil e banho de sangue. Observou que o "ganhador da eleição levará", sem sangue ou resistência. Comandantes militares dizem o mesmo.
Na hipótese de vencer e ser empossado, levará o governo, mas por pouco tempo. O caos econômico é tamanho que poderá cair em futura campanha golpista de Maduro, com base no sucessor ser pior.
Urrutia, dizem os estudiosos da geopolítica e os operadores do direito internacional público, só conseguiria manter-se na presidência, se não tocar nos feudos militares. Vai, por evidente, conseguir levantar os embargos americanos.
Num pano rápido, quem viver verá.
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