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É falso que Lula tenha sido nomeado líder do Hezbollah ao usar lenço

18.out.2024 - Vídeo original foi feito por empresário de origem libanesa e publicado em suas redes sociais Imagem: Arte/UOL sobre Reprodução Instagram

Janaína Silva

Colaboração para o UOL

18/10/2024 15h37

É falso que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tenha sido aceito como o novo líder do movimento xiita libanês Hezbollah, como afirmam posts nas redes sociais.

O vídeo original em que ele usa um lenço típico do Líbano é de um evento não oficial da agenda do presidente, em São Paulo, ocorrido antes do ataque ao líder do Hezbollah.

O que diz o post

No vídeo, Lula aparece, primeiro, ao lado de uma pessoa que coloca a keffiyeh em sua cabeça. Na sequência, aparecem Fernando Haddad, atual ministro da Fazenda, e outro homem com uma camiseta preta na qual está escrito Alyah. Os quatro posam para fotos e vídeos, enquanto sorriem e fazem o sinal de positivo com as mãos.

Em uma das versões compartilhadas, sobreposto ao vídeo, pode-se ler: "Lula é aceito como novo líder do Hezbollah! Façam chegar ao conhecimento dos israelenses!."

No Facebook, um post traz o seguinte texto: "Lula é aceito como novo líder do Hezbollah! Sempre do lado errado da história; bandidos, contra família ... Façam chegar ao conhecimento dos israelenses!"

Por que é falso

Vídeo foi gravado antes da morte do líder do Hezbollah. As imagens originais foram divulgadas pelo empresário brasileiro de origem libanesa Issam Sidom. Ele mostra um evento não oficial da agenda do presidente, ocorrido em 29 de junho em São Paulo, em que Lula coloca uma vestimenta da cultura do Líbano, sem cunho político ou religioso (aqui). O chefe do Hezbollah, Sayyed Hassan Nasrallah, sofreu um ataque israelense e foi dado como morto no dia 27 de setembro, nos subúrbios ao sul de Beirute, no Líbano (aqui).

Post desinformativo manteve assinatura do perfil do empresário. Ao visualizar o vídeo, é possível ver o endereço do perfil de Issam Sidom, chegando-se, assim, à publicação original (aqui). A palavra Alyah, que se lê na camiseta de um dos homens, é o nome da loja do empresário.

Sidom afirma que lenço faz parte da cultura do Líbano. Em entrevista ao UOL Confere, o empresário e dono de uma loja especializada em doces libaneses, na capital paulista, explicou que a gravação aconteceu em junho deste ano ao fazer uma entrega a um cliente especial, cujo nome não informou, em um evento com Lula e Haddad. "Todo brasileiro quando vai para Dubai tira foto com o keffiyeh nas dunas, independente da religião, pode ser católico ou judeu. É folclórico. Meu pai usa isso e não é terrorista. Eu uso, não sou terrorista, meus clientes usam e não são terroristas. Se eu encontrasse o [ex-presidente Jair] Bolsonaro, faria questão de colocar o keffieh nele também", afirmou.

Keffiyeh é usado na moda e também como símbolo de resistência. Conforme explica Janiene Santos, semioticista, professora da USP (Universidade de São Paulo) e pesquisadora do GESC³- Grupo de estudos em Semiótica, Comunicação, Cultura e Consumo, o lenço de cabeça é um símbolo da cultura árabe, tradicionalmente utilizado não apenas na Palestina, mas por homens do Oriente Médio. "Do ponto de vista da semiótica, os signos estão em constante evolução e podem ter seu significado alterado ou enfatizado em função do contexto. Por isso, atualmente, vem sendo associado ao suporte à Palestina, ganhando, portanto, uma significação com contornos políticos, com uma simbologia de resistência e de protesto às ações israelenses. Em outro momento, por exemplo, poderia não ser visto de forma tão positiva, pela questão da apropriação cultural. Por isso, é importante avaliar outras formas de se demonstrar apoio, para não correr o risco de estar exposto a interpretações errôneas e superficiais, como recentemente ocorreu com o presidente da República. Cores nas roupas, em fitas amarradas em bolsas ou pulsos podem ser uma opção interessante de posicionamento por meio da vestimenta", afirmou. Reportagem do UOL, de 5 de março de 2024, explica a origem do lenço palestino (aqui).

Viralização. Nesta sexta-feira, (18), no Instagram, uma das postagens com o conteúdo desinformativo tinha quase 19 mil visualizações.

A postagem também foi verificada por Estadão Verifica e Lupa.

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