Haddad não falou que gosta de taxar pobres no Brasil; post usa IA

O ministro da Fazenda Fernando Haddad não disse que gosta de taxar pobres no Brasil.

O conteúdo enganoso utilizou uma ferramenta de inteligência artificial para alterar a fala original de Haddad, quando o ministro falava da recuperação do presidente Lula (PT) após receber alta hospitalar.

O pedido de checagem foi enviado ao UOL Confere pelo WhatsApp (11) 97684-6049.

O que diz o post

A publicação compartilha uma suposta entrevista em vídeo de Haddad. Nela, uma voz parecida com a do ministro diz o seguinte: "Eu gosto é de taxar os pobres. Não vou mentir para você que 98% da população brasileira é pobre. Como a gente só tem 2% de milionários, eu não acho justo taxar essa pouca quantidade de milionários sendo que temos 98% de pobres no Brasil. Se a gente taxar todos os pobres, a gente vai ter mais lucro para o nosso governo do que se a gente taxar todos os ricos".

A narração também fala sobre aumento no imposto sobre as carnes: "O brasileiro, ele pode comer fígado, pé de galinha... Ele pode comer uma asinha, entendeu? Esses aí o imposto não vai subir tanto. Um fígado de R$ 8 só vai para R$ 12, mas tá tranquilo, o quilo. Então, pro pobre, que nem o nosso presidente falou, infelizmente o grosso tá entrando", diz a voz similar a do ministro.

Por que é falso

Fala de Haddad foi manipulada por IA. O UOL Confere submeteu o vídeo usado nas publicações falsas à análise do Hive Moderation, ferramenta especializada na detecção de manipulação digital, que apontou 86,1% de probabilidade de as imagens terem sido alteradas com recursos de inteligência artificial (veja abaixo).

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Imagem: Reprodução
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Ministro falou sobre a saúde de Lula em entrevista original. O conteúdo usado pelas peças desinformativas manipulou uma entrevista concedida por Haddad em 16 de dezembro de 2024. Nela, o ministro comenta sobre a visita que fez ao presidente Lula, que se recuperava de uma cirurgia de emergência na cabeça após sofrer um acidente doméstico (aqui e abaixo). Em momento algum Haddad fala sobre taxar os mais pobres.

Ministério da Fazenda condena "prática criminosa". "Trata-se de conteúdo claramente falso, com visível manipulação feita por Inteligência Artificial. A mesma prática criminosa usada em outras montagens com esse tipo de edição, cuja intenção é tão somente criar pânico na população trabalhadora", disse a pasta em nota ao UOL Confere.

Brasil não tem 98% de sua população composta por pobres. Em seu último levantamento, referente a 2023, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) apontou que a porcentagem da população brasileira com rendimento domiciliar per capita abaixo da linha de pobreza (US$ 6,85 por dia ou R$ 665 mensais, conforme padrão adotado pelo Banco Mundial) é de 27,4%, ou cerca de 59 milhões de habitantes - o menor índice desde 2012 (aqui).

Milionários representam apenas 0,21% da população brasileira. De acordo com estudo divulgado em 2023 pelo banco UBS, o Brasil tinha 414 milionários - o equivalente a 0,21% da população, bem menos do que os 2% apontados pelos posts desinformativos. Vale ressaltar que o levantamento levou em consideração aqueles que possuíam pelo menos US$ 1 milhão (e não R$ 1 milhão) (aqui)

TikTok excluiu vídeo após notificação da AGU. No último dia 20, a AGU (Advocacia-Geral da União) notificou o TikTok para banir o conteúdo enganoso de sua plataforma em um prazo de 24 horas. "A análise do material evidencia a falsidade das informações por meio de alterações perceptíveis na movimentação labial e discrepâncias no timbre de voz, típicas de conteúdos forjados com o uso de inteligência artificial generativa", diz um trecho da notificação (aqui). O TikTok retirou o vídeo na manhã do dia 21 (aqui).

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Haddad teve outra entrevista adulterada por IA. Esta não é a primeira vez na qual o ministro teve falas manipuladas digitalmente. Vídeos insinuavam que Haddad e o governo federal planejavam criar impostos para grávidas e animais de estimação. O conteúdo foi desmentido pelo próprio ministro e por agências de checagem (aqui).

Este conteúdo também foi checado pelo Estadão.

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