Um ano após assassinato de secretário de Saúde de Porto Alegre, Justiça ouve últimas testemunhas
Quase um ano depois da morte do então secretário de Saúde de Porto Alegre e ex-prefeito, Eliseu Santos, a Justiça ouve nesta quarta-feira (23) no Foro Central da capital gaúcha, as últimas 43 testemunhas envolvidas no processo – entre elas o ex-senador Sérgio Zambiasi (PTB) e o atual chefe de Polícia do Estado, delegado Ranolfo Vieira Júnior.
As testemunhas vão depor na defesa dos 11 réus do processo, denunciados pelo Ministério Público (MP) como suspeitos pelo assassinato de Santos. O ex-secretário foi morto na noite de 26 de fevereiro de 2010 com dois tiros, quando saía de um culto religioso. MP e polícia divergem sobre as razões do crime: encomenda ou latrocínio (roubo seguido de morte).
Serão ouvidos parentes e amigos dos acusados, numa tentativa da defesa de classificar como boa a conduta pessoal dos suspeitos.
O perito Lauro José Purper também deverá depor sobre as alegadas mudanças feitas em uma transcrição de escuta telefônica envolvendo Marcelo Dias Souza, apontado como participante do crime, e Marco Antônio Bernardes, ex-assessor de Santos e suspeito de ser mandante do assassinato.
Às 14h está confirmada a audiência de Ranolfo Vieira Júnior e, às 16h, a do ex-senador Sérgio Zambiasi. O delegado foi arrolado por Marcelo Machado Pio, gerente da empresa de segurança Reação, e Zambiasi consta como testemunha de José Carlos Brack, presidente municipal do PTB e também suspeito de ter encomendado o crime.
A Reação prestava serviços de segurança à secretaria municipal de Saúde. O proprietário da empresa, Jorge Renato Hordoff de Mello, também é acusado como mandante da morte de Santos, que rompeu o contrato de prestação de serviços poucos dias antes de ser assassinado.
Os administradores da Reação, entretanto, acusam Marco Antônio Bernardes – demitido por Santos – de cobrar propinas entre R$ 10 mil e R$ 30 mil da empresa, em nome do secretário, para a manutenção do contrato de vigilância em postos municipais de saúde. Bernardes teria participado como mandante do assassinato para se vingar de Santos pela sua demissão.
Por enquanto, a juíza Rosane Michels continuará responsável pelo caso e irá presidir a sessão desta quarta-feira. No início de fevereiro, o MP pediu o impedimento da juíza, com solicitação de quebra de sigilo telefônico dela e do advogado Ricardo Cunha Martins, para averiguar as relações pessoais entre os dois. Martins representa outro acusado de ser mandante da morte, Jorge Renato Hordoff de Mello, gerente da Reação.
A suspeita do MP é de que tenha ocorrido prevaricação por parte da juíza, na medida em que ela contratou o advogado em um processo judicial no Superior Tribunal de Justiça (STJ). Martins, por sua vez, contra-atacou solicitando o afastamento dos promotores Eugênio Amorim e Lúcia Callegari, além de pedir a anulação do processo.
A tese do MP é de que a morte de Santos foi encomendada, enquanto a polícia alega que houve foi uma tentativa de assalto seguida de morte. A perícia apontou que o ex-secretário reagiu à dupla que o atacou, ferindo um dos acusados.
Em abril de 2010, as divergências causaram uma crise entre o MP e a Polícia gaúcha com troca de acusações. O delegado Ranolfo Vieira Júnior, então chefe do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), acusou a promotoria de “ferir a ética de morte” ao rechaçar as conclusões da investigação policial, que apontaram para a hipótese de latrocínio.
O MP sustenta a tese de crime encomendado porque o irmão do principal suspeito de ter atirado contra Santos, Eliseu Pompeu Gomes, trabalhou como segurança da reação, empresa que prestava serviços à secretaria comandada pela vítima.
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