"Achei que fosse morrer", diz vítima de acidente no Playcenter; estalos foram ouvidos antes de falha
“Achei que fosse morrer –mais um pouco, talvez um metro, eu passava da grade (de proteção) e caía na marginal [Tietê].” O desabafo é do ajudante de construção civil Émerson Rodrigues, 21, uma das vítimas do acidente que deixou oito feridos no parque de diversões Playcenter, no último domingo (3).
Rodrigues foi uma das vítimas que depuseram na tarde desta terça-feira (5) no 23º DP (Distrito Policial) em Perdizes, zona oeste da capital. Além dele, o delegado que preside o inquérito, Marco Aurélio Batista, ouviu também testemunhas que estavam no brinquedo Double Shock, onde aconteceu o acidente, e funcionários do parque responsáveis pela manutenção do brinquedo. Ontem, três operadores confirmaram que uma das travas abriu, provocando a queda das vítimas, e um deles afirmou ainda que o equipamento falhara três horas antes da pane. Hoje à noite, por meio da assessoria da SSP-SP (Secretaria de Segurança Pública de São Paulo), o delegado disse que a "anormalidade" das 14h30 foi relatada "por funcionários". Em nota, o parque diz que a vistoria realizada após a falha não apontou problemas no brinquedo.
Em entrevista ao UOL Notícias, Rodrigues conta que, pouco antes de a trava do brinquedo abrir, os ocupantes ouviram um estalo. Segundos depois, a trava de segurança abriu. O jovem se considera “um sortudo”: ele teve apenas escoriações no ombro, tornozelo e no rosto, e uma suspeita de lesão no pulmão. O sintoma principal, segundo ele, são dores ao respirar.
Outra vítima do acidente a depor foi o auxiliar de vendas Alassy Barbosa, 19, que teve uma perna machucada, além de escoriações no queixo e um corte na cabeça. Ao lado do colega Émerson Rodrigues, Barbosa ficou pendurado no brinquedo após a falha no brinquedo. "Ouvi uns estalos antes da trava abrir e só lembro de ver o Émerson 'voando' por cima de mim. Foi horrível", definiu.
Mesmo com pane, brinquedo não parou
Já o ajudante-geral Cassiano Alves, 28, que também estava no brinquedo, disse que está “traumatizado” com o acidente. Sentado na lateral da parte não afetada pela falha, ele viu os oito ocupantes ao lado caírem e diz ter passado momentos de pânico, com os vizinhos, ao perceber que o Double Shock não parou na sequencia da queda.
“Ele (Émerson Rodrigues) estava ao meu lado, e de repente o vi sumindo e as outras pessoas sendo arremessadas, uma a uma. Uma menina do meu lado começou a passar mal, e mesmo assim, ainda demos umas duas voltas com a trava aberta”, declarou. “Não volto mais lá, nem sei se vou mais a algum parque na vida, depois disso.”
A mãe de Rodrigues, a auxiliar de cozinha Miriam Rodrigues, 40, comentou que a visita ao parque, naquele domingo, era uma comemoração antecipada do aniversário do filho. A família mora em Guarulhos. “Não quero nem passar mais lá em frente; passei há pouco para vir aqui (na delegacia) e já fiquei tremendo.”
A reportagem apurou que mais vítimas devem ser ouvidas nesta quarta-feira (6).
Vítimas internadas
Três vítimas do acidente continuam internadas na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do Hospital Metropolitano, em São Paulo. Em nota, a assessoria do Playcenter afirma que Adriana Pereira Barros, de 12 anos, teve lesões na região do abdômen e passou por uma cirurgia para a retirada do baço; ela está consciente e passa bem. Susana Martins de Souza, de 20 anos, deu entrada com ferimentos no braço esquerdo e está se recuperando de uma operação realizada ontem para correção das lesões no membro. Daniele Aparecida Pansarin, de 30 anos, continua em observação, em razão dos ferimentos na cabeça e na perna esquerda.
Também na nota, o parque afirma que Fábio Lima Pereira, de 24 anos, apresentou sintomas de náuseas e tontura e foi internado no mesmo hospital, onde permanecerá em observação. No domingo, Fábio recebeu atendimento na instituição com uma fratura na mão e múltiplos cortes pelo corpo.
Perícia e investigações
Hoje de manhã, peritos do Instituto de Criminalística realizaram uma segunda perícia no brinquedo, interditado desde o acidente pela Secretaria Municipal de Controle Urbano (Contru).
O MP-SP (Ministério Público de São Paulo) abriu dois inquéritos civis públicos para investigar o ocorrido. O Procon também notificou o parque a prestar esclarecimentos. O prazo para entrega de documentação vence no início da semana que vem.
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