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Polícia investiga "queima de arquivo" em assassinato de funcionária do Detran-ES

Rayder Bragon

Especial para o UOL Notícias<br>Em Belo Horizonte

29/04/2011 16h01Atualizada em 29/04/2011 18h17

O assassinato da chefe da Circunscrição Regional de Trânsito (Ciretran)  em Domingos Martins (ES), Rosimery Gerhardt Bortulini Grecco, 48, morta nesta terça-feira (28) no local de trabalho, será investigada pela Polícia Civil de Minas Gerais.

A intenção é averiguar se o crime foi uma “queima de arquivo” feita por integrantes de uma quadrilha especializada em roubo de caminhões. Ela foi assassinada com três tiros disparados por um homem que chegou na garupa de uma moto, entrou em seu local de trabalho atirou e fugiu em seguida.

A morte, segundo o delegado João Otacílio da Silva, um dos responsáveis pelas investigações que desmantelaram boa parte do grupo criminoso, ainda não pode ser relacionada ao esquema fraudulento, mas há fortes indícios nesse sentido.

“Nós achamos (que houve) uma coincidência muito grande. A gente está investigando ali perto, na cidade de Venda Nova do Imigrante, que fica a menos de 10 quilômetros de lá, e acontece esse fato envolvendo a chefe do Ciretran? Por isso nós fomos lá”, disse.

Segundo ele, no entanto, as causas do assassinato e a perícia no local ficarão a cargo da Polícia Civil do Espírito Santo.

“Nós passamos a madrugada inteira lá, analisando documentos que foram processados por ela e pelo Ciretran, para posteriormente avaliar se existe correlação entre os fatos. Eu estou trabalhando também com a hipótese de que ela tenha descoberto alguma coisa”, explicou.

1,2 mil caminhões adulterados

De acordo com as investigações, iniciadas há oito meses, o bando agia há mais de cinco anos, e o esquema consistia no roubo, na adulteração e falsificação de documentos de propriedade dos caminhões e a consequente comercialização deles.

A polícia estima um lucro de R$ 2 bilhões obtido pelo bando, que agia principalmente em Minas Gerais, Espírito Santos  e Rio de Janeiro, com a venda fraudulenta de mais de 1.200 caminhões.

O grupo contava com ramificações em todo o país e era comandado por um empresário de Volta Redonda (RJ), que tinha conexões com funcionários de Ciretrans de Estados da região centro-sul do país, informou a polícia.

Conforme o delegado João Otacílio da Silva, o esquema era operado como se fosse uma “empresa”. Era como se fosse uma empresa com suas respectivas tarefas. O grupo era formado por várias quadrilhas autônomas, mas interligadas entre si, que eram responsáveis por etapas das fraudes”, disse o policial.

Silva adiantou que a “linha de frente” era formada por grupo cuja incumbência era a de roubar os caminhões. Em seguida, a carga era repassada a grupo de receptadores ligados ao esquema. Logo após, entrava em cena a quadrilha especializada em adulterar documentos e chassis.

“Na etapa final, eles revendiam os caminhões a preços um pouco abaixo do valor de marcado para não chamar atenção. Desses 1.249 veículos nos quais foram constatadas as irregularidades, a maioria dos compradores agiu de boa-fé, não sabia que se tratava de um caminhão adulterado”, afirmou o delegado. Segundo ele, as transações serão investigadas.

Silva disse que até o momento 30 pessoas foram presas e levadas para presídios da cidade mineira de Ponte Nova e ao presídio Dutra Ladeira, em Belo Horizonte. Além disso, 45 caminhões e 42 carros foram apreendidos.    

“Eles tinham especialistas que faziam um trabalho quase perfeito na adulteração dos chassis. A gente só conseguiu chegar a essa quadrilha porque o Detran de Minas Gerais faz parte da estrutura da Polícia Civil. Nós tivemos facilidade no acesso aos dados do órgão”, afirmou o delegado.