Festa junina ajuda imigrantes bolivianos a se adaptarem ao Brasil
Eles são tão do interior, que vieram do outro lado da fronteira. Os bolivianos aproveitam a época de festa junina em São Paulo, que recria o universo interiorano de caipirinhas e quadrilhas, para se acostumar com a cultura brasileira que eles veem pelas janelas das oficinas de costura em que trabalham na capital paulista.
Hoje vivem em São Paulo cerca de 160 mil imigrantes do Altiplano, a maioria trabalhando em confecções cuja cadeia produtiva acaba nas lojas de coreanos no Bom Retiro. Eles se concentraram inicialmente em bairros centrais da cidade, mas recentemente se deslocaram para áreas da zona norte e leste atrás de aluguéis mais baratos.
BOLIVIANINHOS VESTIDOS DE CAIPIRA
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Casal boliviano perfila para dançar a quadrilha
Meninas posam para as câmeras de seus familiares
O UOL Notícias acompanhou a festa na Escola Estadual Marechal Deodoro, que tem 40% de seus alunos de origem boliviana. Ela fica justamente no coração do Bom Retiro, bairro que já foi reduto de italianos, judeus, gregos, mas agora é notadamente dominado por coreanos e bolivianos.
“A comunidade boliviana é muito participativa. Eles já estavam mobilizados 15 dias antes da festa, na arrecadação de prendas e na compra de votos para a miss caipirinha”, conta Sandra Celli, diretora da escola.
O cenário se repete em outros colégios municipais e estaduais de bairros como Pari, Canindé e Casa Verde, onde mais de um terço dos estudantes são nascidos na Bolívia ou com pais vindo daquela nação.
“Nós temos a festa de San Juan, mas é coisa para adulto, com muita bebida e fogos. Aqui é coisa de criança”, resume Rafael Medina, que tem 17 anos de Brasil e cujos filhos e sobrinhos estudam na escola.
“Lá fazemos uma fogueira que representa a renovação. As pessoas queimam roupas e móveis antigos, para comprar novos”, relata Álvaro Vargas, que também tem uma filha no colégio.
O curioso é que a sociabilização dos bolivianos, muitos deles sem os documentos regularizados, com os brasileiros se dá mais fácil com as crianças. Saem os gorros andinos e entram os chapéus de palha caipira. O vestido estampado de chita substitui as saias rodadas das cholas andinas --para ver os trajes típicos bolivianos em São Paulo é só ir na feira Kantuta, no bairro do Canindé, onde acontecem as festas da comunidade.
“As crianças aprendem mais rápido o idioma. Agora temos três idiomas em casa: quéchua, espanhol e português”, relata Mari Sauciri, que não parava de fotografar seu pequeno César de chapéu de palha rodando na quadrilha.
“Os bolivianinhos tem uma dificuldade na primeira série, mas depois de três meses eles deslancham”, conta a professora Cristina Batista. “O que não passa é a carência afetiva deles. Eles querem atenção e não vão embora sem um beijo meu. Ouço eles comentarem que os pais trabalham até 22h ou 23h”, completa.
A onda migratória para São Paulo começou na década de 1980, a maioria vinda das cidades de La Paz e El Alto. As crises econômicas na Bolívia aumentam o fluxo de imigrantes. Muitos voltam para os Andes com as economias conseguidas após anos diante das máquinas de costurar em galpões pouco ventilados e iluminados. Muitos ficam no Brasil, formam família por aqui e dão nova cara ao país.
“Eu gostei da barraca de pescaria, do jogo da argola e da quadrilha. Foi muito legal.” Assim Sariela Vargas, 7, resume a experiência em sua primeira festa junina.
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