"Luto" leva Noar a cancelar voos; medo faz passageiro desistir de viagem em Maceió

Os voos entre Recife e Maceió da Noar Linhas Aéreas voltaram a ser cancelados nesta sexta-feira (15). Após o anúncio oficial, ontem, de que a linha voltaria a operar hoje, a empresa voltou atrás e informou que os dois voos previstos para esta manhã foram cancelados.

Os voos estavam previstos para chegar em Maceió às 8h07 e às 10h04, vindos de Recife. Segundo uma funcionária da Noar, que pediu para não ser identificada, os voos no período da tarde estão mantidos até segunda ordem. "Os voos da manhã foram cancelados em luto à morte dos colegas de trabalho. Eles estavam mantidos até ocorrerem o reconhecimento e anúncio do sepultamento dos tripulantes", informou. 

Os funcionários da empresa aérea estão usando broches pretos como forma de mostrar o luto pela perda dos demais tripulantes.

De acordo com a Infraero, um voo de Recife deve chegar às 15h37 em Maceió. Os voos de Recife para Natal e Mossoró continuam suspensos até readequação da malha aérea.

Comprou sem saber e desistiu

Único passageiros a comparecer para o voo 4871, que sairia às 8h30 de Maceió, o advogado cearense Fábio Ozório, 42, tomou um susto ao entrar no aeroporto Zumbi dos Palmares e saber que teria de viajar em um avião da Noar Linhas Aéreas, nesta manhã de sexta-feira (15).

Ele comprou passagens pelo site da Gol há 15 dias, mas não tinha observado que a volta de Maceió para Fortaleza (CE) seria operada por empresa terceirizada, no caso a Noar. As empresas possuem um convênio para venda de passagens.

"Tenho compromisso às 14h em Fortaleza, mas vou terminar perdendo se só tiver viagem pela Noar. Deus me livre voar nesses aviões pequenos", disse, destacando que é acostumado a viajar de avião por ter muitas audiências pelo Nordeste.

Mas a angústia dele durou pouco. Cinco minutos após conversar com o UOL Notícias, ele foi informado que a Noar teria suspendido as operações nesta manhã e iria relocar os passageiros para outro voo.

"Já estava nervoso. Acho que as demais pessoas que voltariam comigo no avião também desistiram porque não tem ninguém aqui. Quem vai querer se arriscar depois do acidente? A vida não tem preço que pague."

Ele criticou a malha aérea do Nordeste por ter trechos limitados. "Sempre tenho trabalhos em cidades nordestinas e encontro muita dificuldade em me deslocar via aérea. Os destinos Aracaju e Maceió são os mais complicados. Mesmo com a Noar operando, nunca me arrisquei em voar pela empresa", reclamou.

Trecho Recife-Mossoró suspenso

Depois do acidente da última quarta-feira (13), que matou 16 pessoas em Recife (PE), a Noar possui apenas uma aeronave em operação, do mesmo modelo da que se acidentou --o bimotor L-410.

A empresa informou que estaria reprogramando os horários dos voos, com o reinício das atividades retornando "de forma gradual". A Noar afirmou ainda que os passageiros de voos agendados estão sendo encaixados em viagens de outras empresas aéreas. Com os voos suspensos, a companhia disponibilizou carros e vans para o transporte de passageiros que optem pelo deslocamento via terrestre.

A empresa ressaltou também que vai continuar por tempo indeterminado o apoio às famílias das vítimas do acidente com o bimotor. “Mantendo-se fiel ao objetivo de dar a máxima atenção aos familiares das vítimas, a Noar Linhas Aéreas manterá, por tempo indeterminado, a equipe multidisciplinar de psicólogos, médicos e assistentes sociais à disposição dos parentes”, afirmou a nota.

A Noar destacou ainda que, nesta quinta-feira, com a identificação de corpos de algumas vítimas, já disponibilizou serviço funerários, traslados terrestres e aéreos. “Durante o dia de hoje, representantes da seguradora estarão reunidos, individualmente, com os familiares de cada vítima para colher informações e dar início ao processo de indenizações”, informou.

O acidente

O voo de Recife para Mossoró (RN), com escala em Natal, saiu do aeroporto Gilberto Freyre na quarta-feira e levava 14 passageiros a bordo, além de piloto e copiloto. Todos morreram após aeronave se chocar com o solo de um terreno à beira-mar de Boa Viagem, no limite entre a capital pernambucana e Jaboatão dos Guararapes (PE). A Polícia Civil e a Aeronáutica investigam o caso.