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Pais de jovem condenado na Bahia a frequentar missa por um mês elogiam decisão judicial, mas vendem o carro

Janaina Garcia<br>Do UOL Notícias<br>Em São Paulo

21/07/2011 13h21

Um “mal que veio para o bem”, que custou o sossego e o carro da família, mas que deixou o jovem “mais caseiro”. É assim que os pais do jovem Diego Martins, 18, avaliam o impacto do acidente causado no início do ano pelo filho --então com 17 anos e, portanto, inabilitado --em Maracás, município com pouco mais de 20.000 habitantes no sudoeste da Bahia.

Jovem irá à missa todo domingo por ordem da Justiça em Maracás (BA)

Na semana passada, em audiência, o juiz da comarca local, José Brandão, determinou que, em vez de medidas socioeducativas "tradicionais", o jovem seria obrigado a frequentar as missas aos domingos durante um mês como forma de “fazê-lo pensar nos atos da vida”. Católica, a família aceitou a decisão e reparou os danos causados ao portão atingido –justamente o da igreja matriz da cidade.

Segundo a mãe do rapaz, a desempregada Eda Alves Martins, 49, ele ficou “mais caseiro” desde que o caso ficou conhecido em todo o país, esta semana, devido à repercussão na mídia.

“No fim, foi positiva [a pena imposta]. Quem não precisa rezar, não é? E ele melhorou muito desde então; ficou mais caseiro, é verdade, mas com certeza gostou –e serve como exemplo a outros”, destacou. O telefone de casa, no entanto, já tocou um sem número de vezes atrás do filho, contou, referindo-se ao assédio de jornalistas que tentam falar com Diego.

À Bandnews, o jovem garantiu que não pretendia pegar um carro tão cedo, não”. “Quero investir em outras coisas”, salientou. (Veja acima)

Para o pai do jovem, o segurança de banco Irisnaldo Gomes de Novaes, 45, um mês de missas “foi pouco”. “Podia ser um ano, porque é uma coisa boa demais. E ele melhorou da água para o vinho depois dessa decisão”, afirmou Novaes, segundo o qual o filho “gosta, mesmo, é de cavalgar”.

O rapaz estuda e, aos sábados, trabalha em um supermercado da cidade. “Foi um mal que veio para o bem, né? Mas pelo menos o carro foi vendido, porque estava batido e isso evita que algo aconteça de novo. Antes cedo do que tarde”, comparou.

Novaes é de Maracás, para onde voltou depois de um período em São Paulo. Mãe e filho estão na cidade baiana há pouco mais de dois anos --depois de deixarem Taboão da Serra, na Grande SP.

Entenda o caso

O episódio do jovem aconteceu em fevereiro passado, quando o rapaz tinha 17 anos. Na audiência no último dia 13, já com 18, se livrou de medidas socioeducativas como internação ou advertência, ainda que a família tivesse que reparar os estragos, mas foi obrigado a frequentar as missas durante um mês, aos domingos.

O juiz autor da decisão, José Brandão, disse em entrevista ao UOL Notícias que a pena aplicada tem por objetivo a ressocialização do jovem, mas de maneira diferente: “A intenção era fazê-lo pensar nos atos da vida. Coloquei essa ‘punição’ porque ele declarou que é católico, e mesmo a mãe do rapaz, presente à audiência, achou a medida bastante interessante --ele poderia sofrer punições até maiores”, salientou. “E o caso não foi algo assim tão grave”, completou.

O magistrado comentou que chegou a cogitar ‘pena’ do mesmo tipo “a detentos em geral”. “Como condição de liberdade, de orientá-los para uma religião --porque a religião sempre socializa o indivíduo”, argumenta.

Indagado se a medida não contradiz o Estado laico previsto na Constituição Federal, Brandão minimizou: “O juiz tem independência funcional para emitir decisões que ele entenda que tenham benefício para o individuo apenado, ou até à sociedade. E foi apenas uma ordem de recomendação, orientação – se ele não cumprir, não vamos dar punição”, pontuou o juiz, que se diz católico, “mas não praticante ferrenho”.

O juiz fez questão de lembrar que, em junho de 2009, foi o responsável pela aplicação do chamado “toque de acolher” em Maracás, e na comarca vizinha de Santo Estevão. O toque proibia crianças e adolescentes de 0 a 17 anos a circularem pelas ruas após as 23h, conforme a um escalonamento de idade. Ele defende que a iniciativa ajudou a reduzir a criminalidade nesse público. “Eu adoro essa postura também com as minhas filhas; é uma coisa de experiência de vida”.

Repercussão na paróquia

O padre responsável pela paróquia, Sidney Marques da Silva, se disse surpreso com a decisão judicial.

“Nunca vi uma coisa assim e estou surpreso. Se eu tivesse sido consultado antes, não acolheria porque religião é algo livre, que vai da consciência da pessoa, e não imposta --hoje a luta é por isso”, disse o sacerdote, que completou: “E o curioso é que na época estragou mais o carro que a parede da igreja, consertada pela família [do rapaz] --que por sinal é católica, mas nem é muito praticante”, resumiu.