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Um mês após acidente da Noar, famílias cobram rapidez nas investigações e criam associação

Aliny Gama

Especial para o UOL Notícias <BR> No Recife

13/08/2011 07h00

Anac aponta que Noar descumpriu normas de aviação

Trinta dias após o acidente com o bimotor LET-410 que matou 16 pessoas no Recife, a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) informou nesta sexta-feira (12) que concluiu a auditoria realizada na Noar Linhas Aéreas. Segundo a investigação, foram encontrados indícios de que a empresa não cumpriu as normas de aviação vigentes, desrespeitando regras de manutenção e horas de voos dos pilotos.


Um mês após a queda do avião da Noar Linhas Aéreas, que matou 16 pessoas em Recife (PE) no dia 13 de julho, familiares das vítimas reclamam da falta de informações e cobram celeridade nas investigações.

Os parentes afirmam que a análise da Polícia Federal e do Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos) já deveria ter apresentado resultados, já que a aeronave era de pequeno porte e caiu em local de fácil acesso.

“Estamos num momento de sofrimento e precisamos de informações consistentes para minimizar a dor”, disse o representante do grupo de familiares, o engenheiro Geyson Soares, irmão de Marcos Ely, que faleceu na queda do bimotor.

A Polícia Federal informou que a investigação está em andamento, mas o órgão ainda aguarda um posicionamento da Justiça e de instituições de aviação para dar continuidade ao inquérito. Três pessoas já prestaram depoimento. Segundo a PF, detalhes da investigação só serão revelados após o fim do inquérito.

Já o Cenipa disse que as investigações estão em curso, mas não informará detalhes até que o relatório final seja aprovado. A investigação indicará apenas as causas do acidente, mas não apontará responsabilidades penais. 

Parentes criam associação

Na noite de sexta-feira (13), houve uma missa em homenagem aos mortos no acidente. Familiares e amigos vestiram camisas com as fotos dos parentes mortos e, antes da celebração, fizeram um protesto pacífico contra a Noar na escadaria da Igreja Nossa Senhora do Rosário, em Recife (PE).

Após a celebração, os familiares se organizaram para fundar uma associação com o objetivo de unir forças e organizar os primeiros passos para resolver questões judiciais.

De acordo com Soares, as famílias estão inseguras com as informações que “são repassadas pela metade e de formas diferentes para cada parente”. Ele afirma que familiares das vítimas estão se sentindo pressionados para realizar questões burocráticas que, para eles, não são prioridade agora.

“Nem todas as informações são repassadas de forma igual. Cada família é avisada de uma história de forma diferente e isso causa muita confusão e insegurança. A associação vai nos representar, com advogados e especialistas em acidentes aéreos, para que diminua a nossa exposição a situações como essas e minimize o estresse”, disse.

Soares também criticou a Noar, afirmando que a empresa só está preocupada em trabalhar para acelerar o pagamento das indenizações e em forçar famílias a assinar recibos mesmo antes dos pagamentos.

“Alguns parentes já receberam os modelos dos recibos e foram orientados pela Noar que deveriam preencher e entregar a empresa para depois receber o dinheiro. Questiono essa necessidade de assinarmos um recibo de um pagamento que ainda não recebemos. O próprio depósito ou transação bancária já vale como recibo, e não vou assinar nada sem receber nenhum valor.”

Ele disse que foi orientado por advogados que não existe prazo para o familiar ingressar com o pedido do seguro obrigatório de acidentes aéreos e que os 30 dias fixados sevem apenas para a Noar efetuar os pagamentos das solicitações que foram feitas.

“A Noar insiste que temos 30 dias para dar entrada nos papéis para recebermos o seguro. A indenização não vai trazê-lo de volta, não vai acabar com a nossa dor. Depois, sim, pensaremos nas ações judiciais e a batalha que teremos de enfrentar para recebermos as indenizações de danos morais e materiais”, disse.

Imagens da queda do avião

  • Alexandre Gondim/JC Imagem

Segundo ele, a empresa não está prestando apoio psicológico às famílias. “Nos dias que ficamos reunidos no hotel à espera do reconhecimento dos corpos, não vi essa equipe que a Noar disse que estava lá para prestar apoio. Tinha apenas uma psicóloga da Gol, que eu nem tinha entendido direito porque ela estava lá. Depois que soube que outras vítimas tinham comprado passagens pela Gol e estavam no avião da Noar.”

Noar diz que presta apoio às famílias

Em nota enviada ao UOL Notícias, a Noar informou que vem dando "total assistência" aos familiares desde o dia do acidente e está “absolutamente empenhada em cumprir o Plano de Assistência às Vítimas do Acidente (Paava)”. Segundo a empresa, cinco psicólogos ainda estão à disposição dos familiares, que vem sendo apoiados “de várias formas”.

A empresa também afirmou que “tem se esforçado para viabilizar o recebimento do seguro obrigatório (Reta) pelas famílias das vítimas, cujos pagamentos já se concretizaram em favor de alguns dos herdeiros. As indenizações pendentes dependem de documentos dos beneficiários, conforme lista já entregue a cada família. Esta é uma 1ª etapa que vem sendo cumprida.”

A Noar diz que se reuniu com a seguradora responsável na última quinta-feira para obter as “informações necessárias a orientar os beneficiários para as próximas etapas desse procedimento”. Um telefone foi colocado à disposição dos familiares para que eles entrem em contato direto com a empresa no momento em que acharem necessário.