Chuva não foi único fator a provocar deslizamento de terra em Sapucaia, diz relatório
O deslizamento de terra ocorrido no último dia 9 de janeiro no distrito de Jamapará, em Sapucaia, no Rio de Janeiro, e que deixou 22 mortos, não foi provocado exclusivamente pela chuva, conforme aponta o relatório técnico divulgado na noite desta quarta-feira (18) pelo Serviço Geológico do Estado do Rio de Janeiro (DRM-RJ).
O documento relaciona o acidente, que destruiu oito casas, ao fenômeno conhecido como "Parroca". Ele acontece quando uma quantidade de material mobilizado no alto de uma encosta gera uma onda de choque no material disposto no pé da escarpa rochosa, provocando movimentos de pequeno a médio volume de solo, rocha e detritos.
No caso de Jamapará, segundo o relatório técnico, foram mobilizados cerca de 3.000 m3 de rocha, solo e detritos, que atingiram a primeira linha de casas na rua dos Barros.
Claudio Amaral, diretor de geologia do DRM-RJ, esclarece que o deslizamento ocorreu a partir da combinação de agentes predisponentes, como é o caso da morfologia e da geologia da região, e de agentes efetivos, que se refere à chuva que atingiu o local.
No dia do acidente, na estação pluviométrica mais próxima, em Três Rios, foram registrados 120mm de chuva em seis horas, além de uma chuva intensa, acima de 50mm/h, na cidade mineira de Além Paraíba, localizada na margem oposta do Rio Paraíba do Sul.
A concentração da água provocou o aumento da saturação do solo, e consequentemente, reduziu a resistência o que, de acordo com o relatório, favoreceu as condições para a movimentação que, por força da gravidade, escorregou sobre as casas morro abaixo.
Para evitar novos desastres na região, o DRM-RJ sugere a execução de obras de estabilização para viabilizar novas ocupações ou a manutenção do local como área não edificante.
Histórico
A cidade de Sapucaia, que possui mais de 17 mil habitantes, está situada em uma região montanhosa pela qual passa a Serra da Mantiqueira. Segundo a prefeitura, o município não tem um histórico de desastres provocados por chuvas, mas muitas casas antigas estão localizadas em encostas –a maioria construída na década de 60.
Em Jamapará, nunca houve uma ocorrência tão trágica. As áreas de maior risco estão situadas na divisa com Teresópolis, na região serrana, pois possuem diversas áreas de encostas e ruas construídas em meio aos morros.
No entanto, deslizamentos, desabamentos e outros eventos provocados pelas chuvas não são tão frequentes em comparação com outras regiões do Estado, de acordo com o governo municipal. Segundo o prefeito Anderson Zanon, as pessoas foram "pegas de surpresa".
Sapucaia não está na lista dos 251 municípios em áreas de risco (veja a lista em PDF) no mapeamento feito pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM). O levantamento inclui as áreas mais propensas a sofrer algum tipo de desastre natural. Reportagem publicada pelo site Contas Abertas mostra que, desses 251 municípios, apenas 23 receberam recursos em 2011.
Em visita nesta quarta ao município, o vice-governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, afirmou que “no máximo em dois anos” todo o Estado será mapeado para a identificação das áreas de risco.
Pezão admitiu que Sapucaia não entrou na lista dos 31 municípios prioritários para serem mapeados pelo governo estadual. “Estamos fazendo aos poucos mesmo, vamos apresentar aos prefeitos. Fizemos [o mapeamento] de 31, já tínhamos feito dos municípios da região serrana e agora vamos complementar com todos os municípios, porque não dá para fazer os 91. Até o final de 2013 nós vamos entregar os outros 60 que faltam", afirmou.
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