Jamil Chade

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Demissão, partilha de poder ou 'pato manco': qual será o futuro de Macron?

Acusado de ter criado um "golpe de Estado psíquico", o presidente da França, Emmanuel Macron, vive uma encruzilhada. A possibilidade de que a extrema direita vença as eleições legislativas no país, no próximo domingo, abre a especulação sobre seu próprio destino.

A decisão de Macron de dissolver a Assembleia Nacional e convocar eleições, depois do avanço da Reunião Nacional (extrema direita) no pleito europeu, criou uma situação política sem precedentes na França da 5ª República, criada em 1958.

Macron explicou ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante uma reunião bilateral no mês passado, que apostava que os franceses votariam de uma maneira diferente ao irem às urnas para uma eleição nacional. E, portanto, não repetiriam a vitória da extrema direita ao Parlamento Europeu. Mas não foi isso que ocorreu.

Agora, seu objetivo é unir todas as forças republicanas e democráticas contra o campo de Marine Le Pen —numa espécie de "cordão sanitário". Mais de 200 candidatos de diferentes partidos de esquerda ou centro abandonaram a corrida ao segundo turno para transferir os votos ao melhor colocado nas pesquisas e, assim, se unirem para impedir a vitória da extrema direita.

Mas não há nada que garanta que isso possa ocorrer. No primeiro turno, os números revelaram que a extrema direita pode estar prestes a conquistar uma maioria no Parlamento e, assim, ter o direito de escolher um novo primeiro-ministro.

Mas, se isso ocorrer, quais seriam os cenários para Macron?

Coabitação: partilha do poder

Uma vitória completa da extrema direita levaria o grupo a escolher Jordan Bardella como primeiro-ministro. Não seria a primeira vez que a França teria um presidente de um partido e um governo de outro. Isso ocorreu entre 1986 e 1988, quando o socialista François Mitterrand era presidente. O cenário voltou a se repetir entre 1993 e 1995.

Com o conservador Jacques Chirac no poder, ele viu a esquerda vencer a eleição legislativa em 1997 e, até 2002, teve de compartilhar o poder com Lionel Jospin, o primeiro-ministro socialista.

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Desta vez, porém, seria a primeira vez em que haveria um governo liderado por um partido que foi sempre considerado como uma ameaça à república e seus valores.

"Pato Manco": três anos sem conseguir governar

Macron ainda pode eventualmente evitar que a extrema direita consiga a maioria absoluta para escolher um primeiro-ministro. Mas isso não significa que terá capacidade para governar. Um Parlamento fragmentado exigirá que o presidente faça um acordo político para escolher o chefe de governo e, sem maioria, um dos maiores riscos é de que a França viva um bloqueio institucional pelos próximos três anos.

Macron, assim, continuaria no poder, mas na condição de um "pato manco". Ou seja, incapaz de aprovar leis, de obter o orçamento que deseja, tomar medidas que envolvam as forças armadas ou mesmo lidar com questões sociais e econômicas.

O presidente não pode voltar a dissolver o Parlamento durante os próximos doze meses, o que cria um impasse político inédito.

Demissão e convocação de novas eleições

Existe ainda uma terceira opção: se Macron for derrotado na eleição e se seu cálculo concluir que o país ficaria ingovernável, ele ainda teria o poder constitucional de declarar sua demissão e antecipar as eleições presidenciais marcadas para 2027 para os próximos meses.

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O risco, porém, é de que ele apenas antecipe a vitória de Marine Le Pen, que já declarou que será candidata à presidência.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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