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Não há mais crianças na Assembleia ocupada por grevistas na Bahia, diz Defensoria Pública Federal

Janaina Garcia

Do UOL, em Salvador

07/02/2012 15h23

A Defensoria Pública Federal informou, na tarde desta terça-feira (7), que não há mais crianças nem adolescentes dentro da Assembleia Legislativa da Bahia, em Salvador. O edifício está ocupado por PMs grevista desde a semana passada.

“Passamos por todos os andares [da Assembleia]. Alguns manifestantes faziam comida e o clima era de tranquilidade. No entanto, não há crianças lá”, disse Waldemar Oliveira, subcoordenador do Centro de Defesa da Criança e do Adolescente da Bahia (Cedeca), que acompanhou a vistoria junto com os defensores públicos.

De acordo com Oliveira, o líder do movimento grevista, Marcos Pristo, afirmou que conversou com os pais para convencê-los a retirar as crianças de dentro do prédio.

Mais cedo, foi autorizada a entrada de mantimentos e materiais de higiene para quatro crianças que estão dentro da Assembleia. “[A entrada de comida e material de higiene] foi autorizada pela Secretaria de Segurança Pública em função da evolução nas negociações, e para quatro crianças, o que não significa que haja apenas quatro delas lá. Elas estavam com fome e as tropas do Exército entregaram, até a zona de limite, aos manifestantes”, disse Cunha.

Voto de confiança

Na manhã desta terça-feira (7) também foi permitida a entrada de comida, remédios e mantimentos para PMs grevistas e familiares.

"Foi um voto de confiança e demonstração de boa vontade da parte do governo com os grevistas", disse o chefe do setor de comunicações do Exército, o tenente-coronel Márcio Cunha.

A nutricionista Maria José dos Santos, 65 anos, disse que conseguiu que os militares do Exército permitissem que ela enviasse feijão, roupas, analgésico e material de higiene para os grevistas.

Ela é mãe de dois policiais militares que estão dentro da Assembleia. "Minha filha e meu filho estão lá dentro. Trouxe o que eles pediram. Com o cansaço, estão precisando de analgésico. Hoje, eles pretendem fazer um feijão para todos lá dentro", disse Santos.

Ela disse que viveu momentos de muita tensão ontem, com a informação de que o Exército iria invadir o prédio.

"Minha filha me disse que estava um clima muito tenso porque todos eles estavam com medo de uma invasão. Quando os caminhões do Exército passaram para a parte de traz do prédio houve pânico. Hoje estou mais tranquila e ela me disse que lá dentro as coisas também estão mais calmas", disse a nutricionista, que evita ficar muito tempo ao telefone com os filhos para não descarregar as baterias dos celuleres.

Com a energia cortada, os manifestantes estão tendo dificuldade para recarregar os celulares. Além disso, o banho está racionado. Quem toma banho em um dia, não toma no outro.

Entenda

A paralisação na Bahia foi deflagrada na última terça-feira (31) por parte da categoria, liderada pela Associação de Policiais e Bombeiros da Bahia (Aspra). Doze mandados de prisão foram expedidos contra policiais militares que lideram o movimento, mas apenas um foi cumprido: o soldado Alvin dos Santos foi preso na madrugada de domingo (5) pelo comandante do batalhão, major Nilton Machado, sob a acusação de formação de quadrilha e roubo de veículos da Polícia Militar.

Cerca de 300 policiais militares estão amotinados dentro da Assembleia Legislativa em Salvador, cercados pelas forças federais, que negociam o fim da greve. Marcos Prisco, que é presidente da Aspra,  chegou a afirmar que cerca de 2.000 pessoas já estiveram dentro da Assembleia.
 
Na segunda-feira, soldados lançaram bombas de efeito moral e dispararam balas de borracha contra policias grevistas que estavam do lado de fora e que tentavam entrar no local.

De acordo com Prisco, os grevistas não vão deixar a Assembleia até que sejam revogados os pedidos de prisão de 12 grevistas, além da concessão da anistia irrestrita para os grevistas e o pagamento de gratificações.

A paralisação gerou um aumento da violência no Estado: aulas foram canceladas, assim como shows, a Justiça teve seu trabalho suspenso e os Estados Unidos chegaram a recomendar aos norte-americanos que adiem viagens "não essenciais" ao Estado. O número de homicídios e assaltos também aumentou --até o fim de semana, as mortes já eram superiores ao dobro do registrado no mesmo período na semana anterior à greve