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Advogado diz que funcionário do Hopi Hari não tinha autonomia para parar brinquedo com falha

Foto de arquivo mostra o brinquedo Torre Eiffel, onde aconteceu o acidente - Rochelle Costi/Folhapress - 27.nov.1999
Foto de arquivo mostra o brinquedo Torre Eiffel, onde aconteceu o acidente Imagem: Rochelle Costi/Folhapress - 27.nov.1999

Janaina Garcia

Do UOL, em Vinhedo (SP)

01/03/2012 18h29


O advogado Ale Bichir Júnior, que defende um dos funcionários do parque de diversões Hopi Hari, afirmou na tarde desta quinta-feira (1º) que, mesmo tendo detectado uma falha no brinquedo “La Tour Eiffel”, de onde Gabriela Nichimura, 14, caiu e morreu na última sexta-feira (24), seu cliente não tinha autonomia para impedir o funcionamento do equipamento.

O cliente de Bichir Júnior foi quem percebeu o problema na trava da cadeira utilizada pela adolescente 15 minutos antes do acidente. “Eles [os operadores do brinquedo] não tinham autonomia para decidir. Meu cliente identificou um problema na trava, mas a garota estava fora do campo de visão dele. Ele avisou [a chefia] do problema e foi informado que a manutenção estava a caminho”, afirmou o advogado.

Bichir Júnior conversou com a imprensa na sede do Ministério Público em Vinhedo, onde representantes do parque, do MP e da Polícia Civil discutem um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) que pode determinar o fechamento do Hopi Hari por dez dias, até que seja feita perícia completa em todos os brinquedos.

O advogado disse ainda que o funcionário irá prestar depoimento nos próximos dias e criticou a postura do Hopi Hari, que teria entrado em contato com o cliente de Bichir Júnior para oferecer uma consulta com um psicólogo. “Achei isso descabido”, disse.

Parque fica no interior de SP

  • Arte/UOL

Trava abre durante descida

Ontem, após o depoimento da mãe da menina, que apresentou fotos de minutos antes do acidente, o delegado e o promotor Rogério Sanches Cunha, concluíram que a primeira inspeção havia sido feita na cadeira errada e que o assento onde realmente estava Gabriela deveria estar interditado.

"A cadeira era inoperante há anos, o parque não nega. O que o parque talvez quis negar em um primeiro momento era que alguém havia sentado nela." O promotor diz que as fotos mostram Gabriela "sentando e subindo na cadeira inoperante". 

Após a descoberta do erro, o delegado determinou uma nova perícia no brinquedo e foi constatado que a trava da cadeira certa abre durante a queda do elevador. 

 

"[Constatou-se] que, na descida, quando a atração é colocada em atividade, aquela trava se levanta quando está em queda livre", afirmou ele. 

Segundo o delegado, a confusão aconteceu porque, no dia do acidente, uma testemunha disse que a menina estaria em outra posição.

"Apuramos inúmeras falhas que acabaram, em uma sucessão de erros, provocando a morte da Gabriela", disse o promotor Cunha.

 

"A partir do momento em que o parque reconhece que aquela cadeira é inoperante, ele sabe que aquela cadeira tem problemas mecânicos. Então não é que houve falha mecânica, a falha na cadeira já era previsível. O que houve foi uma falha humana em não se impedi-la de entrar naquela cadeira”, afirmou.

De acordo com o promotor, a menina levantou sozinha a trava do assento interditado --que não contava com nenhum aviso-- e entrou em “uma verdadeira arma”. 

“Hoje praticamente trabalhamos com a certeza de que, no momento da frenagem ou talvez um pouco antes, por falta de força de ficar se segurando, ela efetivamente caiu, pendendo o corpo para frente. Essa menina entrou em uma verdadeira arma, em um brinquedo que era fatal”, disse Cunha.


A promotora Ana Beatriz Sampaio Silva Vieira, de direito do consumidor, que também acompanhou os depoimentos, disse que a falta de aviso é uma “falha gravíssima”.

“Há uma falha gravíssima do parque na medida em que faltou com a informação. Se a cadeira era interditada, era dever do parque colocar uma fita adesiva, qualquer tipo de alerta tanto para operadores quanto para usuários, de modo que ninguém fosse capaz de sentar.”

Funcionários do parque

Dois funcionários do Hopi Hari que estavam trabalhando no brinquedo prestaram depoimento nesta quarta (29). De acordo com o delegado Noventa Junior, um dos funcionários disse que, momentos antes do acidente, notou que o assento interditado poderia ser aberto por algum visitante.

“O depoimento deles [funcionários] é muito importante. Eles disseram que verificaram essa falha, que esse brinquedo estava na iminência de poder ser aberto. Um deles alega que comunicou o fato, mas depois de alguns minutos veio a informação de que era pra prosseguir [com a operação do brinquedo].”

Em entrevista ao programa Fantástico, da Rede Globo, no último domingo, a mãe de Gabriela afirmou que notou a ausência de um cinto na cadeira do brinquedo La Tour Eiffel, conhecido como elevador, de onde a jovem caiu. “Eu falei para a minha filha: ‘Está travado?’ Ela falou: ‘Mãe, está travado'. Só que tem um outro fecho, como se fosse um cinto, e eu observei que o dela não tinha esse fecho", afirmou.

“Só que tinha um funcionário do parque no momento e falou para mim: ‘Não tem problema. É seguro’", completou Silmara. Em nota divulgada no final da tarde desta quarta, o Hopi Hari informou que, "em relação aos novos fatos, reitera veementemente a cooperação absoluta com todos os órgãos responsáveis na apuração definitiva deste caso".

O acidente

O acidente ocorreu por volta das 10h30 de sexta-feira (24). A garota foi levada para o hospital Paulo Sacramento, em Jundiaí (SP), mas não resistiu. Ela teve traumatismo craniano seguido de parada cardíaca.

O parque fica no km 72,5 da rodovia dos Bandeirantes. O brinquedo onde ocorreu o acidente tem 69,5 metros de altura, o equivalente a um prédio de 23 andares. Na atração, os participantes caem em queda livre, podendo atingir 94 km/h, segundo informações do site do parque.

Em nota, o Hopi Hari informou que "lamenta profundamente o ocorrido" e que "está prestando toda a assistência à família da vítima e apoiando os órgãos responsáveis na investigação sobre as causas do acidente".