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Advogado diz que operador da torre do Hopi Hari não cuidava de setor onde adolescente morreu

Parque Hopi Hari, em Vinhedo (SP), amanhece fechado. Uma perícia foi realizada no local durante a manhã. A ação ocorreu após a adolescente Gabriella Nichimura, de 14 anos, ter morrido no dia (24) após cair de um brinquedo chamado La Tour Eiffel  - Denny Cesare/Futura Press
Parque Hopi Hari, em Vinhedo (SP), amanhece fechado. Uma perícia foi realizada no local durante a manhã. A ação ocorreu após a adolescente Gabriella Nichimura, de 14 anos, ter morrido no dia (24) após cair de um brinquedo chamado La Tour Eiffel Imagem: Denny Cesare/Futura Press

Fabrício Calado

Do UOL, em Vinhedo (SP)

06/03/2012 10h28


O advogado Bichir Ale Bichir Júnior disse nesta terça-feira (6) que seu cliente, o operador Marcos Antônio Tomás Leal, cuidava de outros setores do brinquedo quando Gabriella Nichimura, 14, caiu da La Tour Eiffel, também conhecido como elevador.

O operador, que trabalhava no brinquedo na hora do acidente, está na delegacia de Vinhedo, cidade do interior de São Paulo onde fica o parque, prestando depoimento ao delegado Álvaro Sancucci, que investiga o caso.

Segundo o advogado, cada operador cuidava de um bloco de cadeiras e Leal não era responsável pelo assento de Gabriella. "Meu cliente cuidava dos [setores] 2 e 4, e o acidente ocorreu no 3", afirma Bichir.

De acordo com ele, a falha da trava da cadeira de Gabriella foi comunicada à chefia de Leal. "Foi alertado que a trava estava destravada logo cedo. A resposta: estamos mandando manutenção, pode continuar o brinquedo", disse.

O advogado evitou falar em falta de atenção do outro funcionário que também operava o elevador no dia do acidente. "Não é distração, às vezes [o motivo] é essa pressão para ser preciso, como uma equipe de Fórmula 1. Não é intencional, mas às vezes um atropela o outro", tentou explicar, comparando a operação da atração ao trabalho de uma equipe de corrida.

Bichir ainda afirmou ter recebido, de forma anônima, manuais que comprovam que seu cliente não tinha autonomia para operar o elevador caso houvesse algum problema, como na situação da cadeira. "O brinquedo só pode operar com ordem superior, de um supervisor. Eles obedeceram ordens, só isso. Existe falha mecânica e falha humana", acredita.

O acidente

A adolescente Gabriella Nichimura, 14, morreu ao cair do brinquedo La Tour Eiffel, no Hopi Hari. Ela usou uma cadeira que estava desativada há dez anos. O acidente ocorreu por volta das 10h30 do dia 24 de fevereiro. A garota foi levada para o hospital Paulo Sacramento, em Jundiaí (SP), mas não resistiu. Ela teve traumatismo craniano seguido de parada cardíaca.

Depois do acidente, a polícia ouviu funcionários, visitantes e familiares da garota. Após a mãe da adolescente mostrar fotos tiradas minutos antes do acidente, verificou-se que a primeira inspeção havia sido feita no assento errado. A perícia na cadeira efetivamente usada por Gabriela constatou que a trava abre quando o brinquedo é colocado em atividade.

Brinquedos de maior risco

Na segunda-feira (5), o Ministério Público de São Paulo (MP-SP) informou que 14 brinquedos do parque serão alvo de perícia detalhada nos próximos dias. O parque deverá permanecer fechado até a próxima semana.

Os brinquedos conhecidos como Montezum, Vurang, Ekatomb, Vulaviking, Leva i Traz, Lokolorê, Evolution, Rio Bravo, Crazy Wagon, West River, Trakitanas, Simulákron, Giranda Di Musik e Dispenkito devem ser periciados por oferecerem maior risco à segurança dos usuários, de acordo com Sérgio Inácio Ferreira, chefe do laboratório de estruturas do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) – órgão vinculado à Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia do Estado.

O IPT também analisará documentos disponibilizados pelo parque. O objetivo é identificar se há riscos à segurança dos frequentadores do Hopi Hari. “Dependendo dessa análise, podemos fazer muita coisa ou não fazer nada”, afirmou Ferreira.

Na segunda-feira, estiveram no parque representantes do Corpo de Bombeiros, Crea (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia), peritos da Polícia Científica e do Instituto de Criminalística, além de integrantes do IPT e do MP. As autoridades definiram o cronograma dos trabalhos e procedimentos de avaliação dos equipamentos do parque.

A definição dos brinquedos periciados integra o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), acordado entre a direção do parque e o MP. Outras atrações do local também serão analisadas, mas as 14 citadas passarão por uma vistoria mais detalhada.

O parque fica no km 72,5 da rodovia dos Bandeirantes, no município de Vinhedo (SP). O brinquedo onde ocorreu o acidente tem 69,5 metros de altura, o equivalente a um prédio de 23 andares. Na atração, os participantes caem em queda livre, podendo atingir 94 km/h, segundo informações do site do Hopi Hari.

Negligência

Na avaliação do MP, houve negligência no sistema de operação do parque. "As pessoas que operavam não estavam devidamente capacitadas e orientadas para operar o brinquedo”, disse a promotora de defesa do direito do consumidor de Vinhedo, Ana Beatriz Sampaio Silva Vieira.

Parque fica no interior de SP

  • Arte/UOL

Segundo ela, porém, “a pirâmide de responsabilização pelo acidente precisa ser construída dentro da hierarquia do parque”. A promotora disse ainda que o brinquedo tem "um sistema de segurança ineficaz, pois o travamento da cadeira dependia unicamente da ação humana, que é falível”.

Segundo a promotora, após os dez dias em que o parque ficará fechado, se não forem resolvidos eventuais problemas apontados, pode ser determinada uma nova suspensão de mais dez dias, e, em último caso, a aplicação de multa diária de R$ 95 mil.

Em nota, o Hopi Hari disse que está cooperando "irrestritamente com todos os questionamentos relativos ao caso" e reafirmou "seu total interesse na elucidação do caso, bem como seu compromisso com a segurança de todos os visitantes". (Com informações de Janaina Garcia e Débora Melo)