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Funcionário do Hopi Hari diz que não foi treinado e estava havia 20 dias na função

Parque Hopi Hari, em Vinhedo (SP), amanhece fechado. Uma perícia foi realizada no local durante a manhã. A ação ocorreu após a adolescente Gabriella Nichimura, de 14 anos, ter morrido no dia (24) após cair de um brinquedo chamado La Tour Eiffel  - Denny Cesare/Futura Press
Parque Hopi Hari, em Vinhedo (SP), amanhece fechado. Uma perícia foi realizada no local durante a manhã. A ação ocorreu após a adolescente Gabriella Nichimura, de 14 anos, ter morrido no dia (24) após cair de um brinquedo chamado La Tour Eiffel Imagem: Denny Cesare/Futura Press

Fabrício Calado*

Do UOL, em Vinhedo (SP)

06/03/2012 12h53Atualizada em 06/03/2012 15h50

Em depoimento à Polícia Civil, nesta terça-feira (6), Marco Antonio Tomás Leal, 18, um dos operadores do brinquedo La Tour Eiffel do parque Hopi Hari, disse que não recebeu treinamento específico para operar a atração e estava havia apenas 20 dias na função. No dia 24 de fevereiro, a adolescente Gabriella Nichimura, 14, morreu após cair do brinquedo, também conhecido como elevador.

"O treinamento dele foi ler um manual e se aconselhar com os funcionários antigos. Não houve treinamento específico", disse o advogado do operador, Ale Bichir Júnior, que ainda afirmou que seu cliente cuidava de outros setores do brinquedo quando Gabriella caiu.

O operador prestou depoimento ao delegado Álvaro Sancucci, que investiga o caso em Vinhedo, cidade do interior de São Paulo, onde fica o parque.

Para Sancucci, se a declaração sobre o treinamento for verdade, significa que é uma prática "insuficiente". "Não pode só botar alguém lá com a leitura de um manual. Se for isso, é um ato muito falho da direção do parque", disse. O delegado disse ainda que Leal se mostrou preocupado com a falta de treino específico para operar o brinquedo.

Depoimento 

No depoimento, o operador repetiu o que já dissera informalmente à polícia: que na segunda-feira após o acidente, a direção do parque chamou os operadores e mandou que eles assinassem um documento dizendo que seu treinamento era adequado e estavam aptos para operar as atrações do Hopi Hari.

Ao delegado, Leal disse que assinou o documento --que tinha data retroativa ao acidente-- pois se sentiu pressionado.

O operador ressaltou também que avisou seu chefe sobre um problema na cadeira da jovem --que estaria desativada há dez anos e não poderia ser usada. "Ele disse que o superior dele é o Lucas e que ele foi avisado. Lucas será ouvido nos próximos dias", pontuou Sancucci, sem informar o sobrenome do superior. 

Em perícia feita ontem no brinquedo, descobriu-se que a cadeira tinha uma trava de emergência. O delegado não soube dizer se essa trava poderia ter evitado o acidente com a adolescente, caso fosse acionada. Em seu depoimento, porém, Leal afirmou "desconhecer a existência do dispositivo". Segundo o delegado, esse fato também mostra despreparo do funcionário. "É uma falha relevante, e o parque pode ser responsabilizado caso o treinamento não tenha sido amplo."

Amanhã (7), o delegado deve ouvir os três outros operadores do La Tour Eiffel. Caso haja incosistência entre os depoimentos, o delegado vai marcar uma acariação entre os cinco operadores.

O acidente

A adolescente Gabriella Nichimura, 14, morreu ao cair do brinquedo La Tour Eiffel, no Hopi Hari. Ela usou uma cadeira que estava desativada há dez anos. O acidente ocorreu por volta das 10h30 do dia 24 de fevereiro. A garota foi levada para o hospital Paulo Sacramento, em Jundiaí (SP), mas não resistiu. Ela teve traumatismo craniano seguido de parada cardíaca.

Depois do acidente, a polícia ouviu funcionários, visitantes e familiares da garota. Após a mãe da adolescente mostrar fotos tiradas minutos antes do acidente, verificou-se que a primeira inspeção havia sido feita no assento errado. A perícia na cadeira efetivamente usada por Gabriela constatou que a trava abre quando o brinquedo é colocado em atividade.

Brinquedos de maior risco

Na segunda-feira (5), o Ministério Público de São Paulo (MP-SP) informou que 14 brinquedos do parque serão alvo de perícia detalhada nos próximos dias. O parque deverá permanecer fechado até a próxima semana.

Os brinquedos conhecidos como Montezum, Vurang, Ekatomb, Vulaviking, Leva i Traz, Lokolorê, Evolution, Rio Bravo, Crazy Wagon, West River, Trakitanas, Simulákron, Giranda Di Musik e Dispenkito devem ser periciados por oferecerem maior risco à segurança dos usuários, de acordo com Sérgio Inácio Ferreira, chefe do laboratório de estruturas do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) – órgão vinculado à Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia do Estado.

O IPT também analisará documentos disponibilizados pelo parque. O objetivo é identificar se há riscos à segurança dos frequentadores do Hopi Hari. “Dependendo dessa análise, podemos fazer muita coisa ou não fazer nada”, afirmou Ferreira.

Na segunda-feira, estiveram no parque representantes do Corpo de Bombeiros, Crea (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia), peritos da Polícia Científica e do Instituto de Criminalística, além de integrantes do IPT e do MP. As autoridades definiram o cronograma dos trabalhos e procedimentos de avaliação dos equipamentos do parque.

A definição dos brinquedos periciados integra o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), acordado entre a direção do parque e o MP. Outras atrações do local também serão analisadas, mas as 14 citadas passarão por uma vistoria mais detalhada.

O parque fica no km 72,5 da rodovia dos Bandeirantes, no município de Vinhedo (SP). O brinquedo onde ocorreu o acidente tem 69,5 metros de altura, o equivalente a um prédio de 23 andares. Na atração, os participantes caem em queda livre, podendo atingir 94 km/h, segundo informações do site do Hopi Hari.

Negligência

Na avaliação do MP, houve negligência no sistema de operação do parque. "As pessoas que operavam não estavam devidamente capacitadas e orientadas para operar o brinquedo”, disse a promotora de defesa do direito do consumidor de Vinhedo, Ana Beatriz Sampaio Silva Vieira.

Parque fica no interior de SP

  • Arte/UOL

Segundo ela, porém, “a pirâmide de responsabilização pelo acidente precisa ser construída dentro da hierarquia do parque”. A promotora disse ainda que o brinquedo tem "um sistema de segurança ineficaz, pois o travamento da cadeira dependia unicamente da ação humana, que é falível”.

Segundo a promotora, após os dez dias em que o parque ficará fechado, se não forem resolvidos eventuais problemas apontados, pode ser determinada uma nova suspensão de mais dez dias, e, em último caso, a aplicação de multa diária de R$ 95 mil.

Em nota, o Hopi Hari disse que está cooperando "irrestritamente com todos os questionamentos relativos ao caso" e reafirmou "seu total interesse na elucidação do caso, bem como seu compromisso com a segurança de todos os visitantes".

*Com colaboração de Janaina Garcia e Débora Melo