Funcionário do Hopi Hari diz que não foi treinado e estava havia 20 dias na função
Em depoimento à Polícia Civil, nesta terça-feira (6), Marco Antonio Tomás Leal, 18, um dos operadores do brinquedo La Tour Eiffel do parque Hopi Hari, disse que não recebeu treinamento específico para operar a atração e estava havia apenas 20 dias na função. No dia 24 de fevereiro, a adolescente Gabriella Nichimura, 14, morreu após cair do brinquedo, também conhecido como elevador.
"O treinamento dele foi ler um manual e se aconselhar com os funcionários antigos. Não houve treinamento específico", disse o advogado do operador, Ale Bichir Júnior, que ainda afirmou que seu cliente cuidava de outros setores do brinquedo quando Gabriella caiu.
O operador prestou depoimento ao delegado Álvaro Sancucci, que investiga o caso em Vinhedo, cidade do interior de São Paulo, onde fica o parque.
Para Sancucci, se a declaração sobre o treinamento for verdade, significa que é uma prática "insuficiente". "Não pode só botar alguém lá com a leitura de um manual. Se for isso, é um ato muito falho da direção do parque", disse. O delegado disse ainda que Leal se mostrou preocupado com a falta de treino específico para operar o brinquedo.
Depoimento
No depoimento, o operador repetiu o que já dissera informalmente à polícia: que na segunda-feira após o acidente, a direção do parque chamou os operadores e mandou que eles assinassem um documento dizendo que seu treinamento era adequado e estavam aptos para operar as atrações do Hopi Hari.
Ao delegado, Leal disse que assinou o documento --que tinha data retroativa ao acidente-- pois se sentiu pressionado.
O operador ressaltou também que avisou seu chefe sobre um problema na cadeira da jovem --que estaria desativada há dez anos e não poderia ser usada. "Ele disse que o superior dele é o Lucas e que ele foi avisado. Lucas será ouvido nos próximos dias", pontuou Sancucci, sem informar o sobrenome do superior.
Em perícia feita ontem no brinquedo, descobriu-se que a cadeira tinha uma trava de emergência. O delegado não soube dizer se essa trava poderia ter evitado o acidente com a adolescente, caso fosse acionada. Em seu depoimento, porém, Leal afirmou "desconhecer a existência do dispositivo". Segundo o delegado, esse fato também mostra despreparo do funcionário. "É uma falha relevante, e o parque pode ser responsabilizado caso o treinamento não tenha sido amplo."
Amanhã (7), o delegado deve ouvir os três outros operadores do La Tour Eiffel. Caso haja incosistência entre os depoimentos, o delegado vai marcar uma acariação entre os cinco operadores.
O acidente
A adolescente Gabriella Nichimura, 14, morreu ao cair do brinquedo La Tour Eiffel, no Hopi Hari. Ela usou uma cadeira que estava desativada há dez anos. O acidente ocorreu por volta das 10h30 do dia 24 de fevereiro. A garota foi levada para o hospital Paulo Sacramento, em Jundiaí (SP), mas não resistiu. Ela teve traumatismo craniano seguido de parada cardíaca.
Depois do acidente, a polícia ouviu funcionários, visitantes e familiares da garota. Após a mãe da adolescente mostrar fotos tiradas minutos antes do acidente, verificou-se que a primeira inspeção havia sido feita no assento errado. A perícia na cadeira efetivamente usada por Gabriela constatou que a trava abre quando o brinquedo é colocado em atividade.
Brinquedos de maior risco
Na segunda-feira (5), o Ministério Público de São Paulo (MP-SP) informou que 14 brinquedos do parque serão alvo de perícia detalhada nos próximos dias. O parque deverá permanecer fechado até a próxima semana.
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Os brinquedos conhecidos como Montezum, Vurang, Ekatomb, Vulaviking, Leva i Traz, Lokolorê, Evolution, Rio Bravo, Crazy Wagon, West River, Trakitanas, Simulákron, Giranda Di Musik e Dispenkito devem ser periciados por oferecerem maior risco à segurança dos usuários, de acordo com Sérgio Inácio Ferreira, chefe do laboratório de estruturas do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) – órgão vinculado à Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia do Estado.
O IPT também analisará documentos disponibilizados pelo parque. O objetivo é identificar se há riscos à segurança dos frequentadores do Hopi Hari. “Dependendo dessa análise, podemos fazer muita coisa ou não fazer nada”, afirmou Ferreira.
Na segunda-feira, estiveram no parque representantes do Corpo de Bombeiros, Crea (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia), peritos da Polícia Científica e do Instituto de Criminalística, além de integrantes do IPT e do MP. As autoridades definiram o cronograma dos trabalhos e procedimentos de avaliação dos equipamentos do parque.
A definição dos brinquedos periciados integra o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), acordado entre a direção do parque e o MP. Outras atrações do local também serão analisadas, mas as 14 citadas passarão por uma vistoria mais detalhada.
O parque fica no km 72,5 da rodovia dos Bandeirantes, no município de Vinhedo (SP). O brinquedo onde ocorreu o acidente tem 69,5 metros de altura, o equivalente a um prédio de 23 andares. Na atração, os participantes caem em queda livre, podendo atingir 94 km/h, segundo informações do site do Hopi Hari.
Negligência
Na avaliação do MP, houve negligência no sistema de operação do parque. "As pessoas que operavam não estavam devidamente capacitadas e orientadas para operar o brinquedo”, disse a promotora de defesa do direito do consumidor de Vinhedo, Ana Beatriz Sampaio Silva Vieira.
Parque fica no interior de SP
Segundo ela, porém, “a pirâmide de responsabilização pelo acidente precisa ser construída dentro da hierarquia do parque”. A promotora disse ainda que o brinquedo tem "um sistema de segurança ineficaz, pois o travamento da cadeira dependia unicamente da ação humana, que é falível”.
Segundo a promotora, após os dez dias em que o parque ficará fechado, se não forem resolvidos eventuais problemas apontados, pode ser determinada uma nova suspensão de mais dez dias, e, em último caso, a aplicação de multa diária de R$ 95 mil.
Em nota, o Hopi Hari disse que está cooperando "irrestritamente com todos os questionamentos relativos ao caso" e reafirmou "seu total interesse na elucidação do caso, bem como seu compromisso com a segurança de todos os visitantes".
*Com colaboração de Janaina Garcia e Débora Melo
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