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Corregedoria investiga ação de peritos e vazamento de fotos de adolescente morta no Hopi Hari

Janaina Garcia

Do UOL, em Campinas (SP)

29/03/2012 18h57

A Corregedoria da Polícia Civil em Campinas (SP) instaurou nesta quinta-feira (29) dois inquéritos sobre a morte da adolescente Gabriela Nichimura, 14, em acidente no parque de diversões Hopi Hari, em Vinhedo, no mês passado. Os novos inquéritos apuram se houve falha de peritos do Instituto de Criminalística de Campinas na primeira perícia realizada no brinquedo La Tour Eiffel, em que estava a vítima, e também investigam a responsabilidade sobre a divulgação de fotos de Gabriela, já morta, em sites e blogs.

Os pais da adolescente prestaram depoimento nesta quinta ao delegado-chefe da Corregedoria, Roveraldo Battaglini, durante cerca de três horas. Tanto o casal quanto o delegado não quiseram falar com a imprensa. “É difícil; é algo muito difícil, gente”, limitou-se a dizer a mãe da menina.

O advogado da família, Ademar Gomes, afirmou que o inquérito sobre os peritos vai apurar se houve falha ou má fé na inspeção de uma das cadeiras do brinquedo que não constatou falha. O caso ganhou outro contorno, contudo, quando, dias depois dessa perícia, a família divulgou uma foto na qual Gabriela aparecia em cadeira diferente à que fora inspecionada. Esta, analisada pelo instituto de criminalística, apresentava falha no sistema de travas e, segundo o próprio Hopi Hari admitiu após a divulgação da fotografia, estava desativada, por falha mecânica, há cerca de dez anos. Não havia aviso de interdição no local.


“A família pediu a instauração para apurar por que houve essa perícia falsa. Que interesse financeiro, se houve, tem por trás disso? Será que os peritos não sabem fazer perícia?”, questionou o advogado. Na avaliação dele, a polícia terá de analisar, nesse caso, se os peritos teriam sido induzidos ao erro por funcionários do parque. “Porque isso atrapalhou muito o resultado das investigações”, afirmou Gomes, que completou: “Se foram induzidos ao erro ou não, queremos que os peritos digam qual funcionário do parque indicou a eles a cadeira errada”.

Sobre as fotos do corpo da adolescente, o advogado disse acreditar que elas tenham vazado do próprio IC ou de funcionários da ambulância que atendeu a vítima. Do parque, ela foi levada a um hospital em Jundiaí.

“Os pais querem saber onde aquela foto foi tirada: no hospital? Dentro do IC? Existe uma máfia por trás disso, para tirar esse tipo de foto e mandar para os sites? Porque, para mim, parece que existe – e o pior: mostra uma criança em estado constrangedor”, criticou.

A SSP-SP (Secretaria de Segurança Pública de São Paulo) não deu detalhes sobre os procedimentos que serão adotados pela Corregedoria da Polícia Civil de Campinas sobre o caso.

Os pais da adolescente voltam neste sábado (31) para a cidade de Iwata, no Japão, onde vivem há 19 anos e de onde acompanharão o inquérito. Eles estavam com as filhas de 14 e de nove anos em férias no Brasil.

Delegado considera atitude "precipitada"

O delegado que cuida do inquérito que apura as responsabilidades pela morte da adolescente, Álvaro Noventa Junior, reagiu contrariado ao pedido de abertura de inquérito, por parte da família, à Corregedoria.

“Eu até concordo sobre o pedido [de investigação] em relação às fotos, pois é uma falta de respeito com os familiares e mesmo com a vítima. Mas quanto à perícia, até respeito o trabalho do advogado, mas aqui ninguém está brincando, fazemos um trabalho sério. Não é em um primeiro momento que se vai definir com precisão o que de fato aconteceu; precisamos de um tempo para trabalhar. Com a perícia também é assim”, declarou. “Foi muito prematura a atitude dele [Gomes]”.

Segundo Noventa Junior, faltam apenas “duas ou três oitivas” para que o inquérito sobre o acidente seja concluído –só então ele deverá apontar eventuais indiciados. “Uma coisa é certa: os indiciados o serão por homicídio culposo (sem intenção)”, disse.

Entenda o caso

A adolescente Gabriela Nichimura, 14, morreu ao cair do brinquedo La Tour Eiffel. Ela usou uma cadeira que estava desativada há dez anos, mas sem sinalização. A garota foi levada para o hospital Paulo Sacramento, em Jundiaí (SP), mas não resistiu e morreu por traumatismo craniano seguido de parada cardíaca.

Depois do acidente, a polícia ouviu funcionários, visitantes e familiares da garota. Após a mãe da adolescente mostrar fotos tiradas minutos antes do acidente, verificou-se que a primeira inspeção havia sido feita no assento errado. A perícia na cadeira efetivamente usada por Gabriela constatou que a trava abria quando o brinquedo era colocado em atividade.

O parque fica no km 72,5 da rodovia dos Bandeirantes, no município de Vinhedo (SP). O brinquedo onde ocorreu o acidente tem 69,5 metros de altura, o equivalente a um prédio de 23 andares. Na atração, os participantes caem em queda livre, podendo atingir 94 km/h, segundo informações do site do Hopi Hari.

Em nota, a assessoria do parque afirmou que avaliações preliminares apontaram que sucessivas falhas humanas podem ter sido a causa da tragédia. O parque disse ainda que "cumprirá com suas responsabilidades perante a família, a Justiça e as autoridades técnicas".

O parque foi autorizado a reabrir após assinatura de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) da administração do Hopi Hari com o Ministério Público. O acordo determina que os brinquedos West River Hotel e Simulakron, que ainda dependem de adequações, segundo o MP, ficarão interditados. Já o La Tour Eiffel está interditado por tempo indeterminado enquanto corre o inquérito policial sobre o caso.