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Novo inquérito indicia quatro por morte de menina atropelada por jet ski em Bertioga (SP)

Grazielly Almeida Lames, 3 anos, morreu ao ser atingida na cabeça por um jet ski desgovernado - Reprodução/Youtube
Grazielly Almeida Lames, 3 anos, morreu ao ser atingida na cabeça por um jet ski desgovernado Imagem: Reprodução/Youtube

Fernando Mendonça

Do UOL, em Santos (SP)

29/03/2012 17h51Atualizada em 29/03/2012 18h39

Quatro pessoas foram indiciadas pela Polícia Civil como responsáveis pela morte da menina Grazielly Lames, 3, atingida na cabeça por um jet ski desgovernado na praia de Guaratuba, em Bertioga (107 km de São Paulo), no último dia 18 de fevereiro. O equipamento era dirigido por um menor de 13 anos, que, após o acidente, fugiu do local com a ajuda de adultos.

Foram indiciados o dono do jet ski --padrinho do menino--, José Augusto Cardoso, o caseiro Erivaldo Francisco de Moura, conhecido como "Chapolin", e dois mecânicos que fizeram a revisão do aparelho dois dias antes do acidente e constaram que o equipamento estava em condições de uso: Tiago Veloso Lins, também dono da marina onde estava o jet ski, e Ailton Bispo de Oliveira. Posteriormente, a perícia identificou um grave problema no sistema de aceleração. Os quatro vão responder por homicídio culposo (sem intenção).

A informação foi dada no final da tarde desta quinta-feira (29) pelo delegado da Polícia Civil Rony da Silva Oliveira, da Delegacia Seccional de Santos, ao anunciar a conclusão do inquérito, aberto em 22 de fevereiro, em Bertioga, e sob sua responsabilidade desde o começo de março. 

No último dia 5, o delegado titular da Polícia Civil de Bertioga, Maurício Barbosa, que até então conduzia as investigações, anunciou a conclusão do inquérito e informou que ninguém seria indiciado. O resultado não foi bem recebido pelo comando da Secretaria da Segurança Pública.

No dia seguinte, o delegado-geral da Polícia Civil do Estado de São Paulo, Marcos Carneiro Lima, interveio e encaminhou o caso para a Delegacia Seccional de Santos, uma instância superior na Segurança do Estado. As investigações deveriam prosseguir, determinou Lima. 

Onde foi o acidente

  • Arte/UOL

    Bertioga está no litoral norte de São Paulo

Ao assumir o inquérito, o delegado Oliveira justificou a mudança afirmando que as investigações foram para Santos porque o delegado de Bertioga estava “muito abalado com a pressão e com a repercussão do caso, e que, por isso, tinha o direito de descansar”.

Ele ainda elogiou o colega. “Tudo o que deveria ter sido feito [em Bertioga] foi feito. Mas aqui [em Santos] temos melhores condições técnicas e mais recursos humanos para investigar”, afirmou Oliveira, que classificou o caso como “extremamente grave e triste”.

Laudo "imprescindível"

Na ocasião, Oliveira também chegou a dizer que o laudo da perícia do jet ski seria “imprescindível” para o inquérito. No último dia 22, ele foi divulgado. Segundo a perícia, realizada pelo Instituto de Criminalística de Santos, o equipamento apresentou uma pequena “anomalia” no sistema de aceleração.

"Essa anomalia foi verificada no eixo da borboleta, uma peça interna que controla o cabo do acelerador”, disse o delegado Rony da Silva Oliveira. “Ela estava completamente danificada pela ferrugem, e isso impediu que o jet ski tombasse na água quando não havia mais ninguém acelerando.”

Dois dias antes da divulgação do laudo em Santos, o advogado da família de Grazielly, José Beraldo, realizou uma simulação na praia em Bertioga onde ocorreu o acidente. Peritos que participaram da ação afirmaram que seria impossível o jet ski ter ficado desgovernado por quase um minuto sem ninguém o pilotando.

Segundo os peritos, quem pilotava o aparelho no dia do acidente estava sobre ele até chegar a bem perto de Grazielly.

O advogado da defesa, Maurimar Chiasso, chegou a dizer que os menores apenas acionaram o aparelho, mas perderam o controle, e ele saiu sozinho, pelo mar, até atingir a menina, que estava a cerca de 500 metros de distância.

O inquérito concluído pelo delegado Rony Oliveira, da Seccional de Santos, tem cerca de 200 páginas. Segundo ele, o documento será encaminhado nesta sexta-feira (30) à Vara da Infância e Juventude e ao Ministério Público, que poderá ou não oferecer denúncia à Justiça contra os indiciados.

Repercussão

Para o advogado Beraldo, da família da menina, todos os que estavam na casa de praia no dia do acidente deveriam ter sido indiciados. “As autoridades não podem ser frouxas, as leis estão aí e devem ser aplicadas no seu rigor”, disse, por telefone, ao UOL.

Segundo ele, houve um fato gravíssimo, um crime de homicídio com dolo eventual (quando há consciência dos riscos que a ação pode produzir) e vários envolvidos, direta e indiretamente. “O adolescente infrator merece no mínimo uma medida de internação de pelo menos três meses na Casa Abrigo”, afirmou Beraldo.

O caso

Grazielly Almeida Lames, que visitava o mar pela primeira vez, brincava com a mãe na área rasa da praia quando o jet ski a atingiu na cabeça. Ela foi levada de helicóptero ao Hospital Municipal de Bertioga, com traumatismo craniano, mas chegou já morta. O adolescente suspeito de dirigir o jet ski fugiu do local sem prestar socorro.

Os proprietários do jet ski são Ana Julia Cardoso e José Augusto Cardoso, padrinhos do adolescente. Cardoso é pré-candidato do PSDB à Prefeitura de Suzano (Grande SP) nas eleições municipais deste ano.

Em seu depoimento ao delegado de Bertioga, Cardoso disse que não autorizou o garoto a pegar o jet ski. A versão do adolescente, também dada à polícia, é de que ele foi, sim, autorizado a dirigir o equipamento no dia do acidente.