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Após morte de instrutor de rapel, Brotas (SP) estuda ter socorristas no lugar de bombeiros

Camargo (detalhe) caiu 30 metros após defeito em equipamento de rapel em cachoeira de Brotas (SP) - Divulgação
Camargo (detalhe) caiu 30 metros após defeito em equipamento de rapel em cachoeira de Brotas (SP) Imagem: Divulgação

José Bonato

Do UOL, em Ribeirão Preto (SP)

11/06/2012 16h36

Depois da morte do instrutor de rapel Edward Fabiano de Camargo, 35, no último sábado (9), ao despencar de uma altura de 30 metros, o Conselho Municipal de Turismo de Brotas (246 km de São Paulo) vai discutir na próxima quinta-feira (14) o reforço da segurança para a prática de esportes de aventura.

Entre as propostas, segundo a técnica em turismo Luciana Pires de Jesus, 37, será discutida a criação de uma sede para socorristas do Grupo de Voluntários de Busca e Salvamento (GVBS) no distrito de Patrimônio, na zona rural, onde ficam os pontos de atração turística, entre eles cachoeiras para a prática do rapel.

Uma base fixa de socorristas, conforme a técnica em turismo, vai melhorar o atendimento de casos de acidentes, já que o Corpo de Bombeiros, além de estar localizado na cidade, tem a incumbência de atender a ocorrências em estradas, o que prejudica eventuais atendimentos relacionados ao turismo.

Carlos Oliveira, 53, colaborador da operadora Terra de Aventura, empresa para a qual o instrutor que morreu prestava serviço, afirma que ele foi atendido pelos bombeiros 40 minutos após a queda, por volta das 15h, devido à distância da base da corporação em relação ao local de acidente, na fazenda Cassorova.

“O ideal é que o socorro tivesse chegado em 15 minutos”, afirmou Oliveira. A técnica da Secretaria Municipal de Turismo contesta. Segundo ela, dez minutos após a queda, dois voluntários do GVBS prestaram os primeiros socorros ao instrutor. “Ele morreu 20 minutos após a queda. É difícil alguém sobreviver após cair daquela altura.”

Das 160 mil pessoas que visitam anualmente o município (média de 438 visitantes por dia), segundo Luciana, 80% optam pela prática de esportes radicais, entre eles rapel e rafting (descida de corredeiras em botes infláveis). Pelo menos 30 mil pessoas já teriam praticado rapel nos últimos dez anos no local onde ocorreu a morte, uma cachoeira.

Apesar da preocupação com a segurança, a Secretaria Municipal de Brotas considera que a morte do instrutor foi “uma fatalidade”. Segundo a versão da secretaria, Camargo não usou corretamente o equipamento de segurança.

Segunda morte desde 2004

“Não sabemos o que aconteceu. Ele tinha muita experiência, pois estava no ramo havia sete anos”, afirma a técnica em turismo. Ela diz que foi a segunda morte pela prática de rapel em Brotas desde 2004, quando uma turista de 27 anos morreu, também por falha humana.

O equipamento que o instrutor utilizou no sábado, segundo Luciana, estava em perfeitas condições. As normas de segurança relacionadas aos equipamentos usados na prática do rapel são estabelecidas pela Abeta (Associação Brasileira de Empresas de Turismo de Aventura). Mas não existe, no país, um órgão incumbido da fiscalizar o estado de conservação desses equipamentos, segundo a própria Abeta.

O corpo do instrutor foi enterrado na tarde deste domingo (10). De família humilde, Camargo deixa os pais e nove irmãos. O trabalho como instrutor de rapel sempre foi um bico para complementar a renda de empregado de usina de açúcar e álcool, mas, ultimamente, Camargo estava desempregado.

O IML (Instituto Médico Legal) de São Carlos, para o qual o corpo de Camargo foi transferido após a queda, informou nesta segunda-feira (11) que não há previsão de quando o laudo com a causa da morte fique pronto.