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Prefeito de NY não precisava ter medo do "Ozama da Babilônia", diz grafiteiro censurado durante a Rio+20

Horas antes da visita do prefeito de Nova York, funcionários da prefeitura correm para retirar placa com a inscrição "Ozama" - Hanrrikson de Andrade/UOL
Horas antes da visita do prefeito de Nova York, funcionários da prefeitura correm para retirar placa com a inscrição "Ozama" Imagem: Hanrrikson de Andrade/UOL

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, no Rio

25/06/2012 17h38

A visita do prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, às favelas do Chapéu Mangueira e do Babilônia, durante a Conferência Rio+20, fez com que a Prefeitura do Rio de Janeiro providenciasse uma série de reparos visuais nas ruas, becos e vielas das comunidades da zona sul da cidade.

Cerca de uma hora antes da chegada da comitiva americana, na última quarta-feira (20), a reportagem do UOL flagrou operários correndo para retirar uma placa metálica com a inscrição "Ozama" a fim de evitar um possível constrangimento para Bloomberg.

No entanto, a mensagem não era uma alusão ao nome do ex-líder da Al-Qaeda, Osama bin Laden, e sim o pseudônimo do rapper e grafiteiro Léo Dester, 29, morador da favela da Babilônia, que ganhou o apelido dos amigos em função de uma suposta semelhança física com o terrorista.

"Quis deixar a minha marca ali para divulgar o meu trabalho. O prefeito de Nova York não precisava ter medo, aqui não tem terrorista. Fizeram uma maquiagem para recebê-lo aqui e ele não ficou nem meia hora na favela", afirmou ele.

Segundo Dester, as obras nas duas favelas foram aceleradas nos dias que antecederam a visita de Bloomberg, o que teria provocado alguns transtornos para os moradores. Porém, parte do asfalto e dos reparos feitos especialmente para a chegada da comitiva americana não duraram nem dois dias, de acordo com o rapper.

"Já está tudo quebrado de novo. A parte asfaltada já foi retirada, eles abriram tudo de novo para que sejam realizadas as obras definitivas. Quando surgiu a notícia de que o prefeito visitaria a favela, os operários começaram a trabalhar até meia-noite. Depois que eles foram embora, voltaram a trabalhar normalmente até 18h. Tudo não passou de uma maquiagem", reclamou.

"A passagem do prefeito de Nova York escondeu muitos pontos negativos. Em um desses canteiros que eles improvisaram para acelerar as obras, teve uma moradora que caiu e machucou o braço. Caiu uma chuva nesses dias e já está tudo cheio de lama novamente", completou o grafiteiro.

A placa metálica retirada pelos funcionários da prefeitura estava situada no acesso a um terreno baldio da rua Ari Barroso, uma extensa ladeira que une as comunidades do Chapéu-Mangueira e do Babilônia, e a mensagem censurada foi colocada alguns dias antes do anúncio da visita de Bloomberg. "Não tinha nada a ver com ele", disse Dester.

Visita de meia hora

A visita de Bloomberg a UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) do Chapéu-Mangueira/Babilônia durou cerca de 30 minutos. O prefeito de Nova York chegou às 14h25 ao Largo da Rodinha, local em que a prefeitura derrubou um muro para que o político pudesse ter uma vista panorâmica. O evento estava previsto para as 13h.

Na UPP, havia a programação da inauguração de uma placa de registro da visita do prefeito de Nova York que foi recebido pelo prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes.

Bloomberg também foi convidado a conhecer um projeto da Prefeitura do Rio, o Morar Carioca Verde. Lâmpadas de LED (Light Emitting Diode) nos postes, asfalto de borracha, madeiras de borracha, pavimentação granulada e outras iniciativas foram tomadas para dar às favelas uma aparência de sustentabilidade. As obras foram financiadas pela Caixa Econômica Federal, que investiu cerca de R$ 43 milhões.

Muito econômico nas palavras, o visitante ilustre circulou pelo bairro circulado de seguranças e não falou com a imprensa, seguindo à risca o protocolo programado.

Muro derrubado para visitante ilustre

A eminência da visita de Bloomberg às comunidades do Chapéu-Mangueira e do Babilônia fez com que a Prefeitura do Rio optasse, no dia anterior à chegada da comitiva nova-iorquina, pela derrubada de um muro para que a autoridade americana tivesse uma visão panorâmica da praia de Copacabana. 

O improviso do Executivo carioca se deve ao fato de que as favelas foram transformadas em verdadeiros canteiros de obras desde maio de 2011, quando se iniciou um projeto de reestruturação urbana nessas comunidades --cada qual projetada para ganhar um selo atribuído pela Caixa Econômica Federal a iniciativas sustentáveis.

Em menos de 24 horas, a parte superior da ladeira Ari Barroso foi praticamente toda asfaltada, e os muros que exibiam pichações alusivas ao tráfico de drogas foram pintados.