Gerente de espaço da prefeitura destinado a morador de rua é a favor da proibição do sopão em SP
Mesmo após a repercussão negativa nas redes sociais da possível proibição da distribuição de sopa por entidades assistenciais nas ruas da capital paulista, o gerente de serviços do Espaço de Convivência para Adultos - Tenda Bela Vista, Max Henrique Sadetski, afirmou nesta sexta-feira (29) ser favorável à possível medida da Prefeitura de São Paulo. "A crítica não é a comida, mas a forma como a distribuição tem sido feita", justificou.
Estes espaços de convivência são um projeto de parceria entre ONGs (organizações não-governamentais) e a prefeitura paulistana onde a população de rua é atendida diariamente, das 8h às 22h. O objetivo é orientar sobre projetos sociais, fazer encaminhamentos para centros de acolhida, informar sobre inclusão em programas de transferência de renda, capacitação para o mercado de trabalho, além de ajuda na obtenção de documentos e retorno à cidade de origem. Eles ainda tem à disposição banheiros (adaptados para deficientes), além de chuveiros para banho com kit de higiene.
Atualmente, a distribuição de alimentos é feita voluntariamente por 48 instituições em vias públicas da região central, segundo levantamento da Secretaria Municipal de Segurança Urbana. Mas, segundo Sadetski, essa prática "condiciona" os moradores de rua às suas atuais condições e não permite que eles tenham uma "nova inserção social". "Isso porque a ação se baseia exclusivamente a um atendimento básico, desarticulado ao socioeducativo", explica.
Para Sadetski, a maioria dessas entidades tem um cunho religioso e não social. "O que elas estão oferecendo de concreto para esses moradores de rua? De fato, nada além de um prato de sopa."
Uma crítica que não se aplica às atividades da Turma da Sopa, segundo explica o voluntário Fernando Arruda, 26, que coordena um dos grupos que distribui a comida no viaduto Condessa de São Joaquim, no centro de São Paulo, das segundas às quintas-feiras a partir das 20h30. "A sopa só é o meio para conseguirmos chegar perto desta parcela da sociedade que ainda é muito renegada", relata ele, que destaca que a principal meta da ONG é reintegrar o homem de rua à sociedade.
Além da sopa, a entidade auxilia os sem tetos a conseguirem tratamentos oftalmológico e odontológico, certidões de nascimento/casamento, retorno à terra natal, encaminhamento para albergues, cursos profissionalizantes e encaminhamento para empregos, mesmos objetivos dos espaços de convivência da prefeitura. "Nos mais de 18 anos de história da ONG, já conseguimos reinserir cerca de 900 pessoas na sociedade", diz Arruda.
"Lógico que existem ONGs que conciliam o serviço de alimentação com atividades socioeducativas, mas, essas práticas são minorias", reconhece o coordenador da tenda Bela Vista, que também critica a forma "desagradável" como muitas destas entidades distribuem o alimento. "Há, sim, uma minoria que oferece descartáveis. A maioria, porém, oferece as sopas em garrafas PET cortadas ao meio. Só por que são moradores de rua não merecem o mínimo de higiene? Vai lá saber como essas garrafas são limpas –se é que são mesmo", critica.
Proibição legal
Em nota divulgada nesta sexta-feira (29), o Ministério Público de São Paulo afirmou que considera a provável proibição da distribuição de refeições aos moradores de rua em São Paulo inadmissível.
Mesmo após o anúncio da medida pelo secretário de Segurança Urbana, Edsom Ortega, no dia 20 de junho, e a ameaça de punição contra as entidades que descumprissem as novas regras, a Prefeitura de São Paulo informou que "não cogita proibir a distribuição de alimentos por ONGs na região central da cidade".
A Prefeitura enfatizou ainda que não se trata de uma proibição, mas sim de um "convite" às entidades para que passem a atuar nas tendas. A reportagem tentou do UOL entrar em contato com o Ortega, mas não obteve retorno.
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