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Polícia investiga prefeitura de Caruaru (PE) por fotos de morte em massa de animais

Aliny Gama

Do UOL, em Maceió

17/07/2012 16h39

A polícia de Pernambuco investiga denúncias de uma suposta matança que vitimou 15 cães e dois gatos, ocorrida na última sexta-feira (13), em Caruaru, a 130 km de Recife. Os sacrifícios foram fotografados por membros de uma ONG de proteção aos animais, que registrou um boletim de ocorrência na 3ª Delegacia de Caruaru e acionou a polícia para constatar a cena.

Segundo a ONG Uderva (União em Defesa e Respeito à Vida Animal), é comum animais que perambulam pelas ruas de Caruaru e são recolhidos pelo carro do Departamento de Controle de Vetores e Vigilância Animal serem mortos sem estarem doentes, antes mesmo de chegarem ao órgão para serem examinados por veterinários e colocados para adoção.

Cinco fotos que circularam pela internet no fim de semana mostram 17 animais mortos sendo retirados do carro do departamento de vetores e colocados enfileirados em cima de um plástico, à espera de sepultamento. As fotos postadas pela Uderva tiveram repercussão nas redes sociais.

A integrante da Uderva Dayse Gonzalez afirmou que ela e outro membro do grupo viram “agentes do Centro de Vetores e Controle Animal de Caruaru recolhendo animais que estavam soltos nas ruas de Caruaru e em seguida aplicando injeções letais nos 15 cachorros e dois gatos.”

“Isso vem ocorrendo há muito tempo, mas somente agora conseguimos flagrar e fotografar essa atrocidade. Sempre procurávamos a polícia, mas esbarrávamos na falta de provas, porque era nossa palavra contra a do centro de vetores. Dessa vez, fotografamos tudo e acionamos a polícia a tempo porque, além dos maus-tratos, os próprios agentes estavam desempenhando função de um médico veterinário ao aplicar injeções nos animais”, contou Gonzalez.

A ONG solicitou que sejam apresentados à polícia os laudos das doenças dos animais, com exames e contraprovas que apontem que eles seriam portadores de doenças que colocariam em risco à saúde humana.

“O departamento de vetores só poderia matar esses animais se eles estivessem com leishmaniose ou raiva, que são doenças que põem em risco a saúde da população, mas não foi o que vimos. Eram animais debilitados por passarem fome, mas não aparentavam estar doentes”, afirmou Gonzalez, destacando que os agentes fizeram diagnósticos de “olho”.

“Não houve exame, o que ocorreram foram atestados no “olhometro”, e isso não se faz com qualquer que seja a vida. Não deram-lhes o direito de viver”, disse a integrante da Uderva.

Gonzalez denunciou ainda que a maioria dos animais que chega ao departamento de vetores e é morto sempre tem o mesmo diagnóstico: a leishmaniose. “Informaram que existem dez laudos comprovando leishmaniose em animais em Caruaru, se forem verdadeiros estamos vivendo uma epidemia, e esses animais jamais podem ser enterrados em uma vala comum ou ainda levados para o aterro sanitário, como vem ocorrendo nos últimos meses.”

A ONG denunciou à polícia que os animais estão sendo enterrados em uma vala aberta no sítio Brejo das Mulatas, na zona rural de Caruaru, na área em que funciona o Departamento de Controle de Vetores e Vigilância Animal.

“Isso é um risco de contaminação ao meio ambiente. Flagramos trabalhadores do departamento abrindo um buraco para enterrar os animais que morreram lá. Os que morrem antes de chegar ao local são levados logo para o aterro sanitário, o que é totalmente ilegal, de acordo com a legislação do meio ambiente”, disse.

Departamento nega acusações

A reportagem do UOL entrou em contato com o Departamento de Controle de Vetores e Vigilância Animal nesta terça-feira (17) e foi informada de que as denúncias de falta de atestados das doenças são improcedentes, mas o órgão confirmou que ocorreu uma eutanásia em massa nos animais que eram portadores de leishmaniose, raiva e câncer em estágio final.

Segundo o técnico Marcos Aurélio Silva, o departamento está com os laudos e exames que comprovam que os animais estavam doentes e deveriam ser sacrificados. “Esta semana estamos entregando os papéis à polícia para ver que não estamos cometendo nenhum crime. Estamos trabalhando em prol da saúde da população.”

Silva alegou que todos os animais recolhidos passam por uma avaliação de dois veterinários e os sadios são colocados para adoção. “Quando há suspeita de doenças letais e que trazem risco sanitário, realizamos dois exames de sangue, que são remetidos para análise dos veterinários e depois realizarem a eutanásia”, afirmou Silva, negando que técnicos estejam aplicando injeções nos animais.

Segundo Silva, os animais que são mortos não passam por qualquer mau-trato e “recebem anestesia geral para depois tomarem uma injeção letal.”

“O que ocorreu foi que recolhemos aqueles animais há algum tempo e estávamos esperando o resultado dos exames, que deram positivo para raiva e leishmaniose. Como os resultados saíram de uma vez, esperamos a sexta-feira para sacrificá-los de uma vez só”, explicou o técnico do departamento.

Silva admitiu que o Departamento de Controle de Vetores e Vigilância Animal leva os animais mortos para o aterro sanitário de Caruaru, mas que eles estão respaldados por um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) firmado com o MP (Ministério Público Estadual) para que o sepultamento ocorra no local.

“Estamos com um processo de licitação em andamento para construção de um novo prédio para o departamento de controle de vetores e no projeto consta a implantação de um incinerador. Enquanto isso, os animais são enterrados no aterro sanitário da cidade”, disse Silva.

Segundo ele, ainda não há prazo para início da construção do novo prédio do departamento, mas “até o final do ano deveremos ter terminado esse processo burocrático, que é a licitação.”