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Presidente de cooperativa de vans se diz ameaçado de morte por depor contra milícia no Rio

Júlio Reis

Do UOL, no Rio de Janeiro

30/10/2012 16h35

O presidente da Cooperativa de Transporte Coletivo Rio da Prata, que opera na zona oeste do Rio de Janeiro, César Moraes Gouveia, disse que vem sendo ameaçado de morte por ser uma das testemunhas de acusação contra Luciano Guinâncio Guimarães, ex-policial ligado à milícia Liga da Justiça e acusado de homicídio qualificado pela morte de Ilton Nascimento, em abril de 2007.

Ilton teria sido assassinado por ser proprietário de uma linha de vans quando os milicianos buscavam assumir o controle sobre o transporte alternativo na região. Moraes, conhecido como "César Cabeção", é uma das cinco testemunhas que devem depor na tarde desta terça-feira (30) contra Guimarães, filho do ex-vereador Jerônimo Guimarães, o Jerominho, que está preso desde 2008 por sua ligação com a milícia.

Ao chegar na 4° Vara Criminal da Capital no TJ-RJ (Tribunal de Justiça do Rio), Moraes declarou que vem sofrendo ameaças de morte também por não aceitar os chamados “pedágios” (cobranças dos milicianos para permitir a operação das vans). Segundo ele, desde a última quinta-feira (25), quatro das 30 linhas operadas pela cooperativa que preside foram paralisadas por conta de ameaças.

“Eles querem que paguemos pedágio, mas nos recusamos. Tentam cobrar até R$ 300 por semana, mas não nos deixamos extorquir”, disse. “Estão tentando nos intimidar com ameaças de morte e de incendiar os veículos. Chegam fardados e armados, aterrorizando os trabalhadores. Eu já não durmo mais em casa e vivo para um lado e para o outro, isso desde 2007, quando me dispus a depor neste julgamento.”

Moraes diz que as ameaças que sofre partem das atuais lideranças da Liga da Justiça, entre eles, Toni Ângelo e Darlan da Mata.

Segundo Moraes, o transporte alternativo na zona oeste responde por 48% do total de passageiros que utilizam o serviço no Rio, e só sua cooperativa, que não seria a única a sofrer ameaças e tentativas de extorsão, atende mais de 200 mil passageiros por dia.

De acordo com informações da Cooperativa Rio da Prata, as linhas paralisadas (entre elas Padre Miguel-Marechal e Cosmos-Cascadura) servem a mais de 30 mil pessoas diariamente. O serviço foi retomado, mas as linhas não seguem mais até os destinos finais, onde as ameaças têm sido mais frequentes.

Ainda segundo a cooperativa, por conta das ameaças, motoristas, cobradores e diretores da cooperativa deram queixa na 34ª Delegacia de Polícia (Bangu) na madrugada de sexta-feira (26).

Além de Moraes, Carlos Vinícius dos Santos, Benedito do Nascimento, Paulo Roberto Teixeira e Alex Sandro de Souza devem prestar depoimento como testemunhas de acusação. De acordo com o Tribunal de Justiça do Rio, o resultado do julgamento de Luciano Guimarães no Tribunal do Júri deve sair ainda hoje.

Máfia das vans

Durante a campanha eleitoral para a Prefeitura do Rio de Janeiro, César Cabeção foi um dos pivôs de uma polêmica entre Marcelo Freixo (PSOL) e o prefeito reeleito, Eduardo Paes (PMDB). Em uma fotografia, Paes aparecia ao lado de Moraes, que foi identificado pela CPI das Milícias --presidida por Freixo na Assembleia Legislativa do Rio, em 2008-- como um dos chefes da máfia do transporte alternativo. Há três anos, a cooperativa de Cabeção venceu o processo licitatório de dez linhas de vans na zona oeste.

Cooperativa de vans é ameaçada e motoristas param no Rio; assista

A foto foi tirada em 2009, durante uma reunião com líderes milicianos que controlam cooperativas de vans na zona oeste. O material surgiu no dia seguinte às declarações de Freixo, durante a Sabatina Folha/UOL, de que a gestão de Paes contribuiu para "o crescimento das milícias", e foi constantemente republicado por usuários de redes sociais.

Também aparecem na imagem Dalcemir Barbosa, que foi acusado pela mesma CPI de ser um dos líderes da milícia que domina a favela Rio das Pedras, na zona oeste, Hélio Ricardo, conhecido como "Gringo", e Getúlio Rodrigues, morto em 2010. Os dois últimos foram citados pela CPI das Milícias como responsáveis por violentas ações de milicianos na guerra pelo controle das vans.