Bruno tenta dispensar 2 advogados, juíza decide manter 1 e júri continua; ex-mulher será julgada em outra data
O goleiro Bruno Souza tentou dispensar seus dois advogados na manhã desta terça (20), durante o segundo dia do julgamento pelo desaparecimento de Eliza Samudio, em 2010. A juíza Marixa Fabiane, porém, avaliou que a manobra era uma tentativa para adiar o júri e aceitou apenas uma dispensa.
Logo no começo da sessão de hoje, Bruno pediu uma reunião com seus advogados e os defensores de Dayanne de Souza, sua ex-mulher, e Fernanda Castro, sua ex-namorada, que também são rés no processo. Após o encontro, que durou cerca de 10 minutos, Bruno disse à juíza que destituiu o advogado Rui Pimenta por insegurança. “Por me sentir inseguro, estou destituindo o senhor Rui”, afirmou o goleiro. “Peço a senhora que me dê um prazo para que eu escolha outro advogado”, acrescentou Bruno.
Em seguida, a magistrada afirmou que não poderia dar um prazo porque o goleiro já está sendo defendido por outro advogado, Francisco Simim, que também defendia Dayanne. Bruno aceitou seguir no julgamento, mas minutos depois tentou destituiu Simim com o argumento de que não queria prejudicar a defesa de sua ex-mulher ao dividir com ela o mesmo advogado.
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“Não entendi por que o senhor está destituindo, depois de claramente manter a defesa. Me parece uma tentativa de postergar o julgamento”, afirmou Marixa.
A juíza, então, atendeu a um pedido do promotor Henry Castro e decidiu desmembrar o julgamento de Dayanne, de modo que Simim passasse a defender apenas Bruno neste júri. Com isso, ela será julgada em outra data.
O argumento da promotoria foi o de que Dayanne responde ao processo em liberdade e a prioridade seria julgar os réus presos, como Bruno. Simim chegou a dizer que preparou a defesa de Dayanne e gostaria de realizá-la naquele momento, mas a juíza negou o pedido. Durante o imbróglio, Dayanne chorou e depois deixou o plenário do júri.
Na confusão, a advogada Carla Silene, que defende Fernanda, tomou a palavra para dizer que o ex-goleiro pediu para que ela assumisse a sua defesa. “Ele pediu para que a gente assumisse a defesa dele, mas não temos condições”, disse.
Ontem, o réu Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, também teve seu julgamento desmembrado depois que seus três advogados abandonaram sua defesa. Os três foram multados hoje.
Com a saída de Bola e Dayanne, o total de réus julgados por esse júri em Contagem (na região metropolitana de Belo Horizonte) cai de cinco para três. Os outros réus são: Fernanda e Luiz Henrique Romão, o Macarrão.
Advogado nega manobra da defesa
Logo após o episódio, Rui Pimenta negou que sua dispensa pelo réu seja uma manobra da defesa. "Não é estratégia. O cliente vê o momento, mas não vê o final. Eu não sou ingrato. Ele me pagou regiamente. Se me chamar novamente, eu volto a defendê-lo", afirmou, ao deixar o salão do júri. "O Bruno deve ter pensado à noite e concluiu que é melhor a minha saída. A vontade dele é que eu tire férias. Cliente é assim mesmo".
Desde o primeiro dia, especula-se que exista um "pacto" entre os advogados de defesa para, em bloco, abandonarem o julgamento, como forma de adiar os trabalhos.
Apesar de destituído, Pimenta disse que não vai abandonar o processo no STF (Supremo Tribunal Federal) que pede habeas corpus para o goleiro. "Ele vai sair para a rua através do meu habeas corpus. Eu tenho esse projeto: tirar Bruno da cadeia", afirmou.
O assistente da promotoria José Arteiro Cavalcante, por sua vez, chamou a iniciativa de Bruno de "um erro crasso". "Para a acusação, foi muito bom", disse. "Ele não agiu com inteligência. Para mim, está maravilhoso."
Cavalcante afirmou ainda que a saída de Pimenta e a permanência de Simim não foi positiva para a defesa. "O Rui Pimenta e o (Francisco) Simim juntos poderiam fazer uma defesa muito melhor", disse.
VEJA O O QUE SERÁ APRESENTADO NO JULGAMENTO DOS ACUSADOS
RÉU | ACUSAÇÃO | O QUE DIZ O MP | O QUE DIZ A DEFESA |
BRUNO | Responde pelos crimes de sequestro e cárcere privado, homicídio triplamente qualificado e ocultação de cadáver | Mentor e mandante da morte de Eliza, ameaçou-a de morte durante a gravidez. O goleiro determinou que Eliza fosse sequestrada e levada a sua casa, no Rio de Janeiro. Acompanhou o deslocamento de Eliza, já sequestrada e ferida na cabeça após receber coronhadas, para Minas | Nega a existência do crime. Eliza não foi morta porque não há corpo. Anteriormente, havia reconhecido a morte de Eliza, mas sem a participação, concordância ou o conhecimento do goleiro. A atribuição do crime havia sido dada a Macarrão, insinuando que o ex-braço direito nutria um “amor homossexual” pelo jogador |
MACARRÃO | Responde pelos crimes de sequestro e cárcere privado, homicídio triplamente qualificado, e ocultação de cadáver | Também ameaçou Eliza durante a gravidez e foi o responsável pelo sequestro da moça no Rio de Janeiro. Foi o motorista do carro, com Eliza e o filho, na viagem para Minas Gerais. Dirigiu o veículo que transportou a moça até a casa de Bola. Amarrou as mãos de Eliza e desferiu chutes nas pernas da moça | Não existem provas materiais do crime de homicídio. Ele declarou que, Para evitar “especulações”, não adianta detalhes da estratégia de defesa a ser adotada |
BOLA* | Responde pelos crimes de homicídio duplamente qualificado e ocultação de cadáver | Executor de Eliza, estrangulou a jovem dentro de casa, em Vespasiano. Esquartejou o corpo da mulher e atirou uma das mãos a cães rottweiler. Foi incumbido de desaparecer com o corpo | Nega as acusações e afirma que apresentará “prova cabal” aos jurados, durante o julgamento, da inocência de Bola |
DAYANNE** | Responde pelos crimes de sequestro e cárcere privado da criança | Participou da “vigilância” feita sobre Eliza e o filho no sítio do goleiro em Esmeraldas, apontado pela polícia como o cativeiro de Eliza antes de sua morte. Sabia do plano para matar a ex-amante do jogador. Tentou desaparecer com o filho de Eliza, localizado posteriormente pela polícia em Ribeirão das Neves | Nega que Dayanne soubesse do plano para matar Eliza, ela apenas cuidou da criança depois de um pedido do ex-marido. Sobrevivência do filho de Eliza se deu graças a Dayanne |
FERNANDA | Responde pelos crimes de sequestro e cárcere privado de Eliza e do filho dela | Outra ex-amante de Bruno, auxiliou Macarrão a manter Eliza dentro da casa do goleiro no Rio antes da viagem para Minas. Cuidou do filho de Eliza nesse período e acompanhou Bruno e Macarrão na ida para Minas. Sabia da intenção do grupo de matar Eliza | É inocente, não sabia de nenhum plano para matar Eliza. Não presenciou um cenário que remetesse ao crime atribuído a ela. A viagem a Minas Gerais com o goleiro havia sido programada um mês antes do crime. Não notou ferimentos em Eliza |
- * Os advogados do acusado abandonaram o julgamento. Como Bola recusou a indicação de um defensor público, ele deverá ser julgado em outro momento
- **Para que Bruno não ficasse sem advogado, a juíza desmembrou o julgamento de Dayanne, que será em outra data
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