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Bruno tenta dispensar 2 advogados, juíza decide manter 1 e júri continua; ex-mulher será julgada em outra data

Carlos Eduardo Cherem, Guilherme Balza e Rayder Bragon

Em Contagem (MG)

20/11/2012 10h23Atualizada em 20/11/2012 14h24

O goleiro Bruno Souza tentou dispensar seus dois advogados na manhã desta terça (20), durante o segundo dia do julgamento pelo desaparecimento de Eliza Samudio, em 2010. A juíza Marixa Fabiane, porém, avaliou que a manobra era uma tentativa para adiar o júri e aceitou apenas uma dispensa.

Logo no começo da sessão de hoje, Bruno pediu uma reunião com seus advogados e os defensores de Dayanne de Souza, sua ex-mulher, e Fernanda Castro, sua ex-namorada, que também são rés no processo. Após o encontro, que durou cerca de 10 minutos, Bruno disse à juíza que destituiu o advogado Rui Pimenta por insegurança. “Por me sentir inseguro, estou destituindo o senhor Rui”, afirmou o goleiro. “Peço a senhora que me dê um prazo para que eu escolha outro advogado”, acrescentou Bruno.

Em seguida, a magistrada afirmou que não poderia dar um prazo porque o goleiro já está sendo defendido por outro advogado, Francisco Simim, que também defendia Dayanne. Bruno aceitou seguir no julgamento, mas minutos depois tentou destituiu Simim com o argumento de que não queria prejudicar a defesa de sua ex-mulher ao dividir com ela o mesmo advogado.

“Não entendi por que o senhor está destituindo, depois de claramente manter a defesa. Me parece uma tentativa de postergar o julgamento”, afirmou Marixa.

A juíza, então, atendeu a um pedido do promotor Henry Castro e decidiu desmembrar o julgamento de Dayanne, de modo que Simim passasse a defender apenas Bruno neste júri. Com isso, ela será julgada em outra data.

O argumento da promotoria foi o de que Dayanne responde ao processo em liberdade e a prioridade seria julgar os réus presos, como Bruno. Simim chegou a dizer que preparou a defesa de Dayanne e gostaria de realizá-la naquele momento, mas a juíza negou o pedido. Durante o imbróglio, Dayanne chorou e depois deixou o plenário do júri.

Na confusão, a advogada Carla Silene, que defende Fernanda, tomou a palavra para dizer que o ex-goleiro pediu para que ela assumisse a sua defesa. “Ele pediu para que a gente assumisse a defesa dele, mas não temos condições”, disse.

Ontem, o réu Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, também teve seu julgamento desmembrado depois que seus três advogados abandonaram sua defesa. Os três foram multados hoje.

Com a saída de Bola e Dayanne, o total de réus julgados por esse júri em Contagem (na região metropolitana de Belo Horizonte) cai de cinco para três. Os outros réus são: Fernanda e Luiz Henrique Romão, o Macarrão.

Advogado nega manobra da defesa

Logo após o episódio, Rui Pimenta negou que sua dispensa pelo réu seja uma manobra da defesa. "Não é estratégia. O cliente vê o momento, mas não vê o final. Eu não sou ingrato. Ele me pagou regiamente. Se me chamar novamente, eu volto a defendê-lo", afirmou, ao deixar o salão do júri. "O Bruno deve ter pensado à noite e concluiu que é melhor a minha saída. A vontade dele é que eu tire férias. Cliente é assim mesmo".

Desde o primeiro dia, especula-se que exista um "pacto" entre os advogados de defesa para, em bloco, abandonarem o julgamento, como forma de adiar os trabalhos.

Apesar de destituído, Pimenta disse que não vai abandonar o processo no STF (Supremo Tribunal Federal) que pede habeas corpus para o goleiro. "Ele vai sair para a rua através do meu habeas corpus. Eu tenho esse projeto: tirar Bruno da cadeia", afirmou. 

O assistente da promotoria José Arteiro Cavalcante, por sua vez, chamou a iniciativa de Bruno de "um erro crasso". "Para a acusação, foi muito bom", disse. "Ele não agiu com inteligência. Para mim, está maravilhoso."

Cavalcante afirmou ainda que a saída de Pimenta e a permanência de Simim não foi positiva para a defesa. "O Rui Pimenta e o (Francisco) Simim juntos poderiam fazer uma defesa muito melhor", disse.

VEJA O O QUE SERÁ APRESENTADO NO JULGAMENTO DOS ACUSADOS

RÉUACUSAÇÃOO QUE DIZ O MPO QUE DIZ A DEFESA
BRUNOResponde pelos crimes de sequestro e cárcere privado, homicídio triplamente qualificado e ocultação de cadáverMentor e mandante da morte de Eliza, ameaçou-a de morte durante a gravidez. O goleiro determinou que Eliza fosse sequestrada e levada a sua casa, no Rio de Janeiro. Acompanhou o deslocamento de Eliza, já sequestrada e ferida na cabeça após receber coronhadas, para MinasNega a existência do crime. Eliza não foi morta porque não há corpo. Anteriormente, havia reconhecido a morte de Eliza, mas sem a participação, concordância ou o conhecimento do goleiro. A atribuição do crime havia sido dada a Macarrão, insinuando que o ex-braço direito nutria um “amor homossexual” pelo jogador
MACARRÃOResponde pelos crimes de sequestro e cárcere privado, homicídio triplamente qualificado, e ocultação de cadáverTambém ameaçou Eliza durante a gravidez e foi o responsável pelo sequestro da moça no Rio de Janeiro. Foi o motorista do carro, com Eliza e o filho, na viagem para Minas Gerais. Dirigiu o veículo que transportou a moça até a casa de Bola. Amarrou as mãos de Eliza e desferiu chutes nas pernas da moçaNão existem provas materiais do crime de homicídio. Ele declarou que, Para evitar “especulações”, não adianta detalhes da estratégia de defesa a ser adotada
BOLA*Responde pelos crimes de homicídio duplamente qualificado e ocultação de cadáverExecutor de Eliza, estrangulou a jovem dentro de casa, em Vespasiano. Esquartejou o corpo da mulher e atirou uma das mãos a cães rottweiler. Foi incumbido de desaparecer com o corpoNega as acusações e afirma que apresentará “prova cabal” aos jurados, durante o julgamento, da inocência de Bola
DAYANNE**Responde pelos crimes de sequestro e cárcere privado da criançaParticipou da “vigilância” feita sobre Eliza e o filho no sítio do goleiro em Esmeraldas, apontado pela polícia como o cativeiro de Eliza antes de sua morte. Sabia do plano para matar a ex-amante do jogador. Tentou desaparecer com o filho de Eliza, localizado posteriormente pela polícia em Ribeirão das NevesNega que Dayanne soubesse do plano para matar Eliza, ela apenas cuidou da criança depois de um pedido do ex-marido. Sobrevivência do filho de Eliza se deu graças a Dayanne
FERNANDAResponde pelos crimes de sequestro e cárcere privado de Eliza e do filho delaOutra ex-amante de Bruno, auxiliou Macarrão a manter Eliza dentro da casa do goleiro no Rio antes da viagem para Minas. Cuidou do filho de Eliza nesse período e acompanhou Bruno e Macarrão na ida para Minas. Sabia da intenção do grupo de matar ElizaÉ inocente, não sabia de nenhum plano para matar Eliza. Não presenciou um cenário que remetesse ao crime atribuído a ela. A viagem a Minas Gerais com o goleiro havia sido programada um mês antes do crime. Não notou ferimentos em Eliza
  • * Os advogados do acusado abandonaram o julgamento. Como Bola recusou a indicação de um defensor público, ele deverá ser julgado em outro momento
  • **Para que Bruno não ficasse sem advogado, a juíza desmembrou o julgamento de Dayanne, que será em outra data