Topo

Famílias do assentamento Milton Santos tentam ocupar escritório da Presidência por temer reintegração violenta

Famílias do assentamento Milton Santos no escritório da Presidência da República em São Paulo - Passa Palavra/Assentamento Milton Santos/Divulgação
Famílias do assentamento Milton Santos no escritório da Presidência da República em São Paulo Imagem: Passa Palavra/Assentamento Milton Santos/Divulgação

Julianna Granjeia

Do UOL, em São Paulo*

10/12/2012 18h36

Famílias assentadas no acampamento Milton Santos, em Americana (127 km de São Paulo), tentaram ocupar, na manhã desta segunda-feira (10), o escritório da Presidência da República em São Paulo, na avenida Paulista (região central).

Segundo integrantes do assentamento, 150 pessoas vieram de Americana para tentar negociar a reintegração de posse do terreno onde estão desde 2005. A PM (Polícia Militar) informou a presença de 70 pessoas no escritório.

O local é o mesmo onde a Polícia Federal deflagrou, em novembro, a operação Porto Seguro, que fez com que a ex-chefe de gabinete do escritório Rosemary Noronha se afastasse da função.

Essa é a terceira vez que o grupo tenta invadir o gabinete para pedir que a União faça um decreto de desapropriação do terreno por interesse social para reverter a ordem de despejo.

Luciana da Silva, que mora no assentamento desde 2005, afirmou que representantes foram recebidas por Rogerio Sottili (da Secretaria-Geral da Prediência da República e futuro secretário de Direitos Humanos da cidade de São Paulo) e pelo superintendente do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) em São Paulo, Wellington Monteiro.

Não houve confusão e o grupo deixou o local por volta das 15h. Eles foram para o Masp, onde ficam concentrados até terça-feira (11), quando está marcado um novo protesto com a participação do MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra).

O grupo manifesta contra a decisão do dia 28 de novembro da 2ª Vara de Piracicaba da Justiça Federal que determinou a reintegração de posse da área do assentamento. As famílias têm 15 dias para deixar o local, após a notificação, o que ainda não ocorreu.

“Estamos apreensivos de que possa ocorrer a mesma reintegração de posse violenta que houve em Pinheirinho [em São José dos Campos]. Estamos lá há muito tempo, temos nossas casas construídas. Já acessamos todos os créditos, como o Pronaf, e inclusive estamos produzindo”, afirmou Luciana.

A área do assentamento, o sítio Boa Vista, pertencia à família Abdalla e foi repassada ao INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) como forma de pagamento dos impostos por causa das dívidas com a União.

“Essa família Abdalla tinha perdido a área para o INSS por conta de dívidas. Mas, entraram com uma ação judicial questionando a expropriação pelo INSS e ganharam a decisão em primeira instância. O INSS recorreu e esse processo continua em trâmite e não tem uma definição ainda”, disse Vandré Ferreira, advogado dos assentados.

O assentamento, segundo os integrantes, foi reconhecido Incra em julho de 2006. “Foi o Incra que nos levou para lá, nós já estávamos cadastrados no programa de reforma agrária”, disse Luciana.

Ainda de acordo com o assentamento, antes da ocupação, a área era usada pela Usina Ester para o cultivo de cana de açúcar. A família Abdalla, em conjunto com a Usina Ester, entraram com uma ação na Justiça e ganharam o direito à reintegração em segunda instância.

Ferreira disse que já foram feitas várias reuniões com membros do governo e do Incra, mas sem sucesso. “Ali é um pré-assentamento. Há seis anos, o Incra reivindicou a área porque é propriedade do INSS . O Incra foi lá, fez o assentamento, colocou as famílias lá dentro --que já estavam cadastradas no programa de reforma agrária-- e garantiu que elas ficariam ali”, explicou o advogado.

“Nesse decorrer do tempo, o governo federal investiu muito para as famílias começarem a produzir e construir suas casas. O assentamento hoje é totalmente produtivo. Eles fornecem para toda a rede municipal de escolas da região”, disse Ferreira.

O Incra informou que reconhece a área como de assentamento e que irá recorrer da decisão.

*Com Agência Brasil