Defesa de Gil Rugai tenta desqualificar testemunha, e advogado chama assistente de acusação de "nojento"
Um bate-boca com xingamentos que quase chegou às vias de fato marcou o primeiro depoimento do segundo dia do júri popular do ex-seminarista Gil Rugai, nesta terça-feira (29), no Fórum Criminal da Barra Funda.
A briga entre acusação e defesa começou durante o depoimento do instrutor de voo Alberto Bazaia Neto, uma das testemunhas de acusação.
Bazaia Neto disse ter ouvido de Luiz Carlos Rugai, morto com a esposa em 2004, que a vítima tinha "medo" do filho depois de descobrir supostos desvios de dinheiro na empresa.
Segundo a acusação, o crime foi motivado por Gil Rugai depois de ser afastado da empresa do pai, a Referência Filmes.
Ao questionarem a testemunha, os advogados de defesa Marcelo Feller e Thiago Anastácio mostraram documentos indicando apreensão de drogas no Aeródromo de Itú (SP) --onde fica o aeroclube em que Bazaia Neto é instrutor de voo.
Nos documentos, em mais de uma ocasião é citado o nome de Alberto Bazaia Filho, pai do depoente.
Em seguida, o assistente de acusação, Ubirajara Mangini, e o promotor do caso, Rogério Zagallo, alertaram a defesa contra insinuações de que a família da testemunha tivesse relação com o tráfico de drogas.
Exaltado, Mangini pediu que se constasse em ata a insinuação para que a família de Bazaia Neto pudesse tomar providências criminais contra os advogados.
No bate-boca, Mangini disse a Anastácio: "O que o senhor está fazendo é nojento". "Nojento é o senhor", respondeu o advogado, que ainda completou "o senhor [Mangini] se vende a encobrir algumas coisas por alguns tostões".
O assistente e o outro advogado da defesa chegaram a ficar a alguns palmos de distância enquanto discutiam de forma áspera, mas o juiz Adilson Simoni interveio e os ânimos se acalmaram.
Após a saída do fórum, Mangini disse que não pretende formalizar nenhuma queixa contra Anastácio. "No calor dos debates pode sair besteira".
Para Feller, causa "estranhamento" o fato de a vítima ter iniciado treinamento de voo em local que é citado em investigações policiais como ponto de chagada de drogas.
Anastácio disse que no processo consta a descoberta de 400 gramas de maconha na casa de Luiz Carlos Rugai e sua mulher. "O que foi revelado é que o aeródromo de Itú é ponto de tráfico e que Luiz Rugai estava filmando durante a aula [de voo]".
"Ou seja, ele angariou imagens do que acontecia no local". Em depoimento o instrutor de voo Bazaia Neto disse que no sábado antes de ser morto Luiz Carlos Rugai instalou uma câmera para filmar o voo daquele dia.
O promotor do caso criticou o recurso da defesa de tentar associar a família da vítima com o tráfico de drogas. "O pai dele [Bazaia Neto] foi testemunha desta apreensão. Daí a dizer que a testemunha mentiu e que merece ser desqualificada é tentar desviar o foco", disse durante intervalo do julgamento.
Vítima ameaçou processar o próprio filho, diz testemunha
No depoimento, o instrutor relatou que dava aulas de voo ao pai do réu. Bazaia Neto declarou que esteve com o empresário na quarta-feira e no sábado anterior ao crime, para aulas, e no domingo em que o crime foi registrado.
Na quarta, disse, Luiz Carlos Rugai comentou com ele durante um procedimento de abastecimento da aeronave uma conversa que tivera com Gil Rugai na noite anterior.
Nesse dia o empresário, descrito pela testemunha como “uma pessoa muito feliz, extrovertida, sempre demonstrando estar de bem com a vida”, estava calado e abatido.
“Ele me disse que o filho o tinha roubado, e que, depois de pressioná-lo durante o jantar, na noite anterior, se não me engano, o rapaz foi até o quarto dele mais tarde e confessou que o tinha roubado. Ele dizia que o filho falava que só queria prejudicá-lo e não tinha motivo para isso”, afirmou.
Segundo a testemunha, o empresário comentou ainda na quarta-feira que, após a confissão, deu prazo para que o filho deixasse a casa onde viviam até as 18h daquele dia, bem como para que apresentasse nome de eventual comparsa no desfalque e um plano para devolução do dinheiro.
“Ele já tinha comentado que a esposa [Alessandra] não se dava bem com os filhos. Que o filho mais novo [Léo, uma das testemunhas de defesa] havia tido problemas com drogas e que ele estava de saco cheio, estava cansado de ser bonzinho. Entendi que aquilo [a confissão de Gil Rugai sobre o desfalque] seria a gota d´água”, disse o instrutor.
Entenda o caso
O ex-seminarista Gil Rugai, 29, é acusado de tramar e executar a morte do pai, o empresário Luiz Carlos Rugai, 40, e da madrasta, Alessandra de Fátima Troitino, 33, em 28 de março de 2004.
O casal foi encontrado morto a tiros na residência onde morava no bairro Perdizes, zona oeste de São Paulo.
Segundo a acusação, o crime foi motivado pelo afastamento de Gil Rugai da empresa do pai, a Referência Filmes. O ex-seminarista estaria envolvido em um desfalque de R$ 100 mil e, por isso, teria sido demitido do departamento financeiro.
Durante as perícias do crime foram encontrados indícios que, segundo a acusação, apontam Gil Rugai como o autor do crime. Um deles foi o exame da marca de pé deixada pelo assassino numa porta ao tentar entrar na sala onde Luiz Carlos tentou se proteger.
O IC (Instituto de Criminalística) realizou exames de ressonância magnética no pé de Rugai e constatou que havia lesões compatíveis com a marca na porta.
Outra prova que será apresentada pela acusação foi uma arma encontrada, um ano e meio após o crime, no poço de armazenamento de água da chuva do prédio onde Gil Rugai tinha uma agência de publicidade.
O exame de balística confirmou que as nove cápsulas encontradas junto aos corpos do empresário e da mulher partiram dessa pistola.
O sócio de Rugai afirmou que ele mantinha uma arma idêntica em uma gaveta da agência de publicidade e que não a teria visto mais lá no dia seguinte aos assassinatos.
Gil Rugai chegou a ser preso duas vezes, mas foi solto por decisões da Justiça.
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