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Para promotor, ordem de assassinato de Beira-Mar foi clara: "vai cair geral"

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, no Rio de Janeiro

12/03/2013 18h23Atualizada em 12/03/2013 19h37

Interceptações telefônicas apresentadas pelo promotor Marcelo Muniz no julgamento de Luiz Fernando da Costa, 46, o Fernandinho Beira-Mar, nesta terça-feira (12) apontam que o réu teria realmente ordenado o assassinato de traficantes rivais em julho de 2002. Beira-Mar é julgado no Tribunal do Júri do TJ-RJ (Tribunal de Justiça do Estado do Rio.

“A gente tem que tomar uma atitude consciente, mas vai cair geral”, afirma Beira-Mar em uma das escutas, feita antes da reunião por teleconferência que resultou em um tiroteio no qual dois homens morreram e um ficou ferido. Para a Promotoria, essa frase seria a ordem de homicídio: “Está claro que ‘cair geral’ significa ‘morrer todo mundo’”. "Estou preso, não estou morto e não perdoo vacilação. Quem estiver errado vai rodar neste bagulho, pode ser quem for", diz Beira-Mar para um comparsa, em outra gravação.

Os dois homicídios pelos quais Beira-Mar é acusado teriam sido ordenados de dentro do presídio Bangu 1, no complexo penitenciário de Gericinó, na zona oeste do Rio, no dia 27 de julho de 2002. As vítimas eram integrantes da quadrilha do líder da facção Comando Vermelho, e teriam morrido por praticarem crimes sem a autorização do chefe, segundo denúncia do Ministério Público. Na escuta telefônica questionada pela defesa do réu, Beira-Mar teria planejado a vingança e ainda ordenado que outros dois traficantes do grupo fossem poupados.

A reunião na qual os dois foram mortos era para tentar resolver um conflito que já havia matado dez pessoas inocentes na favela, de acordo com o réu em interrogatório. Ele contou que, durante a conversa, dois dos bandidos da gangue rival iniciaram a troca de tiros que culminou na morte de dois deles. "Eu estava quietão na minha", disse, ressaltando que foi procurado por moradores da comunidade para resolver o conflito.

Ele negou ter ordenado as mortes dos três comparsas e contou que usou um celular clandestino para determinar a realização de uma reunião e tentar resolver uma disputa entre os traficantes. "Só queria dar um couro neles", contou Beira-Mar ao juiz. Ele disse que é casado, tem 11 filhos, foi empresário da construção civil antes de se envolver com o tráfico e atualmente está estudando teologia na prisão. A sentença deverá sair por volta da meia-noite desta terça.

Testemunhas com medo

Originalmente, o julgamento de Fernandinho Beira-Mar deveria ocorrer na 4ª Vara Criminal de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, mas o medo das pessoas que compõem o corpo de jurados fez com que a Justiça transferisse a audiência para o Fórum da capital.

De acordo com o texto da decisão do desembargador da 3ª Câmara Criminal, Valmir de Oliveira Silva, a pedido do magistrado da comarca de Duque de Caxias, havia "provas fundadas e sérias da influência do acusado no município", o que justificativa o temor dos componentes do júri.

"O temor que toma conta dos jurados é compreensível. Não resta dúvida de que o requerido é capaz de influenciar decisivamente no veredicto do Tribunal Popular Local impendido que o julgamento seja feito com a imparcialidade necessária e adequada", afirmou o magistrado.

Viagem

Nesta terça-feira (12), Beira-Mar chegou ao Rio em um avião da Polícia Federal, e teve escolta de agentes do Depen (Departamento Penitenciário Nacional do Ministério da Justiça). Ele chegou ao tribunal de helicóptero, às 11h.

Em setembro de 2012, Luiz Fernando da Costa, que passou por cinco Estados nos últimos anos, foi transferido para a penitenciária federal de segurança máxima de Catanduvas, na região oeste do Paraná --onde já tinha ficado outras duas vezes.

BEIRA-MAR É TRANSFERIDO PARA CATANDUVAS