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Clínica é responsável por mortes após ressonância, dizem diretores de hospital em Campinas

Fabiana Marchezi

Do UOL, em Campinas

07/05/2013 12h42

Dois diretores do hospital particular Vera Cruz, em Campinas (98 km de São Paulo), onde três pessoas morreram em janeiro após serem submetidas a exames de ressonância magnética, responsabilizaram a clínica Ressonância Magnética Campinas (RMC) pelo ocorrido.

Em depoimento prestado nesta segunda-feira (6) à Polícia Civil, os diretores do hospital alegaram desconhecer o uso do perfluorocarbono - substância tóxica injetada por engano na veia dos pacientes- para exames. Além de afirmarem que a clínica é a única responsável pelas operações no espaço da ressonância.

Segundo a polícia, um dos diretores disse que a participação que o hospital tem é apenas econômica, como na compra de equipamentos e no resultado econômico da empresa e não no dia a dia. De acordo com o delegado José Carlos Fernandes, titular do 1º Distrito Policial, “as oitivas pretendem atribuir as responsabilidades do caso”.

O dono da empresa que forneceu a substância à clínica também prestou depoimento. Ele afirmou que desconhecia o uso do produto para exames. Segundo a polícia, ele disse que vendia a substância para ser usada na limpeza dos equipamentos, uma vez que o perfluorocarbono não é autorizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para ser usado em exames.

Aspectos semelhantes

Depois de quase três meses de investigação, a polícia concluiu que uma auxiliar de enfermagem, de 20 anos, preparou por engano a injeção com perfluorocarbono, no lugar do soro, que foi aplicada por outras duas profissionais nas vítimas.

Segundo a investigação, ela pode ter sido induzida ao erro, já que os produtos têm aspectos semelhantes, e a RMC reutilizava bolsas de soro para guardar a substância usada indevidamente. Sem identificação, os materiais ficavam no mesmo armário e eram separados apenas por gavetas.

O advogado Ralph Tórtima, que representa a RMC, diz que empresa e hospital “têm a mesma responsabilidade sobre as mortes”. Em nota, a RMC informou que o perfluorocarbono era usado desde 2005, em exames da próstata com bobina endorretal e em exames específicos, com “determinadas estruturas anatômicas superficiais”. O líquido é injetado em um balão de látex para ajudar na visualização.

O caso

Três pessoas, com idades entre 25 e 38 anos, morreram no dia 28 de janeiro após a realização de exames de ressonância magnética no Hospital Vera Cruz. A primeira a passar mal foi Mayra Cristina Augusto Monteiro, de 25 anos, que fez o exame e foi liberada. Mas teve de voltar para o pronto-socorro do hospital, onde morreu.

As outras vítimas, Manuel Pereira de Souza, de 38 anos, e Pedro José Ribeiro Porto Filho, de 36, morreram logo após a realização da ressonância. Todos realizaram o exame na cabeça. Eles tiveram parada cardiorrespiratória em razão de uma embolia gasosa provocada pelo contato do perfluorocarbono com o sangue.

Falha humana provocou mortes após ressonância