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Após vandalismo, moradores do Leblon reclamam de manifestantes, do governador e da PM

Gustavo Maia

Do UOL, no Rio

18/07/2013 16h42

Horas depois de viverem momentos de pânico por conta de atos de vandalismo ocorridos após mais uma manifestação contra o governador Sérgio Cabral (PMDB), moradores do Leblon, na zona sul do Rio de Janeiro, reclamaram dos manifestantes, do governador e, sobretudo, da PM (Polícia Militar).

O dia seguinte foi também de reparação de danos. E, acima de tudo, de questionamentos. "Eu pago o IPTU mais caro do mundo e não tenho nem tranquilidade?", reclamou uma senhora, em alto e bom som, ao passar pela loja da Toulon, na avenida Ataulfo de Paiva, que foi quase inteiramente saqueada e depredada. Ela não quis falar com a reportagem.

Na tarde desta quinta-feira (18), tapumes estavam sendo colocados na fachada do estabelecimento. Um funcionário da loja que não quis se identificar disse que os prejuízos ainda não foram contabilizados. "Quando vi o protesto pela televisão, ontem à noite, vim pra cá por conta própria, mas já não dava pra salvar nada. Ninguém esperava uma coisa dessas na zona sul", conta o funcionário.

Moradora do bairro há dez anos, Helena de Freitas, 45, presenciou a ação dos vândalos e culpa a PM pelos incidentes. "Eu achei um absurdo a polícia estar aqui, assistindo tudo isso, e não fazer nada. Os bandidos de farda foram coniventes com os bandidos sem farda", atacou. "Foi revoltante. Ninguém aguenta mais o Cabral aqui no bairro", desabafou. Ela ainda defendeu os manifestantes que faziam um protesto contra o governador antes do início da onda de depredações e saques. "Um grupo estava fazendo um protesto pacífico, democrático, até que outro chegou e começou a fazer bagunça", relatou.

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Frases gravadas com giz no asfalto de algumas ruas do bairro com o metro quadrado mais caro da cidade e do país, lembravam a todo instante algumas das críticas e reivindicações dos manifestantes. "Leblon, seu asfalto novo são os professores que não temos" e "Vandalismo é destruir escola para estacionamento de Maracanã", estão na rua General San Martin, nas proximidades da rua Aristides Espínola, onde mora o governador. Quando passou pelo local, o advogado André Beltrão, 28, passou em frente a rua Aristides Espínola, onde mora o governador, e gritou "fora, Cabral". Em seguida, parodiou um grito de guerra das manifestações, substituindo a palavra "maior": "amanhã vai ser pior". A região está fortemente policiada.

Para André, que é morador do Leblon, os protestos têm que continuar acontecendo no bairro. "No Centro a gente apanha bastante, sem muita visibilidade. Aqui pelo menos todo mundo vê. Não há nada mais legítimo", comentou. E fez mais críticas ao governador. "Ele não pode se dizer um governador democrático quando manda tirar um acampamento, uma ocupação legítima, da rua dele, às 2h da manhã", avaliou.

Fotos

A reportagem presenciou muitas pessoas parando para tirar fotos ao passar pelos estabelecimentos mais atingidos pelos vândalos, caso da agência do Banco Itaú da avenida Ataulfo de Paiva. Olhando os estragos, o aposentado Alcione Antônio de Barcelos, 72 anos, que presta serviços na região, disse que só viu coisa parecida nos anos 1960, na época da ditadura. "Isso é um absurdo. Não é porque é aqui no Leblon não. Isso é ruim em qualquer lugar", afirmou. "Mas eu acho que a vida particular do governador não tem nada a ver com essas manifestações. Afeta a família, os filhos dele. No palácio (Guanabara, em Laranjeiras), tudo bem", opinou Alcione.

Um senhor que falou à reportagem, mas pediu para não ter a identidade divulgada reclamou que os protestos impedem o direito de ir e vir da população. "Ontem à noite eu não pude sair de casa", reclamou. No asfalto da rua onde ele mora, ainda havia marcas de lixo queimado na tarde desta quinta-feira. No mesmo local, funcionários da prefeitura recolocavam paralelepípedos que foram arrancados das calçadas e arremessados contra policiais e imóveis durante a confusão.

Também moradora do bairro, Daise Nader, 63, no entanto, acha que os protestos têm que continuar. "Mas não precisa exagerar, cair para o vandalismo", ressalta. "A polícia faz muita covardia que a mídia não mostra", pondera. Na noite desta quarta, ela queria descer do apartamento para se juntar aos manifestantes, mas foi impedida pelo filho. "No próximo, estarei junto", promete.

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