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Há dez dias na Câmara do Rio, manifestantes enfrentam dificuldades para tomar banho

Gustavo Maia

Do UOL, no Rio

19/08/2013 18h56

Há dez dias, os manifestantes que ocupam a Câmara Municipal do Rio de Janeiro não voltam para casa. E nem tomam banho de chuveiro. Dentro do palácio Pedro Ernesto, sede do Legislativo municipal, as oito pessoas que permanecem no local -- no primeiro dia, eram cerca de 60 -- dispõem apenas de baldes para tomar "banhos de cuia".

"Como é muito frio aqui dentro, acabamos tomando banho dia sim, dia não", conta Amarildo, 39 anos. Todos os ativistas pediram para serem identificados com o nome do ajudante de pedreiro, morador da Rocinha, desaparecido desde o dia 14 no mês passado.

Apesar das dificuldades, o grupo mantém a convicção de só deixar o local depois de ter as reivindicações atendidas pela Casa.

"A ocupação só vai chegar a um desfecho quando eles se dispuserem a fazer concessões. Sabemos que ações podem ser tomadas", promete outro Amarildo, 24. Na avaliação dos manifestantes, os vereadores da base governista e o presidente da Casa, Jorge Felippe (PMDB), demonstraram que estão fechados ao diálogo.

"Por mais que tenhamos conseguido abrir um canal de comunicação com a presidência da Casa, ele foi muito superficial nas respostas. Ele tenta mais passar uma imagem de diálogo do que realmente dialogar com a gente", afirma outro Amarildo. "O presidente se furtou de responsabilidade, botou tudo na conta da mesa diretora, na administração da casa, mas ele faz parte, está a frente". Segundo os integrantes da ocupação, depois de uma reunião realizada no dia seguinte à ocupação, Felippe nunca mais os procurou.

A falta de banho de chuveiro, segundo eles, é compensada por "um banho de solidariedade". Diariamente, eles recebem de simpatizantes da causa, pela grade da escadaria frontal do prédio, alimentos, roupas e equipamentos tecnológicos. Nesta segunda-feira (19), eles ganharam um violão.

De acordo com os Amarildos, o grupo passa o tempo todo nos articulando interna e externamente. "Nunca se trabalhou tanto nessa casa", disse Amarildo, 24. A internet é a grande aliada. "Nos serve como proteção e como forma de libertação social", opina a única manifestante mulher do grupo. Os ativistas têm de 24 a 57 anos.

Entre os oito Amarildos que restam dentro do prédio, há três vegetarianos e um vegano. "As pessoas trazem muita comida pra gente, inclusive para quem não come carne. Hoje mesmo (segunda-feira 19) um homem veio de Campo Grande [na zona oeste do Rio] só para trazer uma moqueca vegetariana. Ontem trouxeram 'suco de luz'", diz um dos manifestantes.

Segundo eles, o apoio também vem de dentro da Câmara. "Os funcionários da Casa, de modo geral, nos tratam muito bem. Alguns até nos dizem que apoiam a causa e nos encorajam a permanecer aqui", conta outro ativista.

Desde a ocupação, houve apenas uma sessão ordinária, na última terça-feira (13), e uma sessão da CPI dos Ônibus, na quinta (15), dia no qual a Mesa Diretora da Casa decidiu, por motivos de segurança, suspender a reunião plenária prevista para a tarde.

"Estamos liberando o plenário na hora das sessões, como nos comprometemos, justamente para não justificar o discurso de que não estamos deixando eles trabalharem. Estamos deixando o espaço livre", defende um Amarildo. "Eles estão querendo criminalizar a participação popular", acusa. Há sessão plenária prevista para esta terça (20). Segundo a assessoria da casa, ela vai acontecer no plenário.