Ativista que devolver beagles furtados em SP pode ter 'pena reduzida', diz delegado
O ativista que devolver para a polícia um dos 176 cachorros da raça beagle furtados durante a invasão ao Instituto Royal, na sexta-feira (18), pode ter a pena reduzida ou até mesmo cancelada, afirmou o delegado da seccional de Sorocaba, Marcelo Carriel. “É uma questão processual que vai depender da interpretação do juiz, mas é uma possibilidade”, afirmou nesta terça-feira (22).
“Até o momento o inquérito que investiga maus-tratos contra animais no laboratório terá que se apoiar na perícia feita nos dois únicos animais que foram recuperados após a invasão”, disse. De acordo com o delegado, os ativistas “acabaram prejudicando sua própria causa” ao furtar possíveis provas de manejo inadequado dos cães.
Os dois animais recuperados haviam sido abandonados nas ruas de São Roque, e agora estão sob a guarda do deputado federal Ricardo Tripoli (PSDB-SP). Ao menos cinco coelhos também foram levados do Instituto.
Até o momento ninguém foi ouvido pela Polícia Civil. O delegado afirmou que ao longo da semana serão colhidos os depoimentos de cinco representantes do Instituto Royal, e disse que 20 ativistas já foram identificados, mas “como a maioria é da capital do Estado, eles devem ser questionados em delegacias próximas ao seu domicílio, o que atrasa o processo”.
Carriel também afirmou que caso se comprovem os maus-tratos às cobaias a responsabilidade dos que furtaram não será atenuada. “Para nós, os dois inquéritos [um que investiga abusos aos animais e outro o furto dos mesmos] tem o mesmo peso, e um não exime o outro”, disse.
Recuperação dos animais
O delegado destacou que a recuperação dos cães também esbarra na falta de identificação dos beagles do laboratório. “Como eles não precisam ter identificação, já que ficam em um ambiente confinado e são usados para fins de pesquisa, é praticamente impossível afirmar qual cão dessa raça era uma cobaia”, afirmou.
De acordo com ele, possíveis receptadores dos cães já estão sendo investigados, dentre eles petshops locais.
O caso
Ao todo, 178 cachorros da raça beagle foram retirados do Instituto Royal durante a madrugada do dia 18 de outubro por um grupo de ativistas que protestava contra maus-tratos em frente ao local. Mesmo com a presença da polícia, as pessoas entraram e retiraram os cachorros que estavam presos em gaiolas. O instituto realiza testes com produtos cosméticos e farmacêuticos não só nos cães, mas também em coelhos e ratos.
De acordo com os ativistas, a denúncia era de que os cachorros estavam sendo sacrificados com métodos cruéis. O mesmo instituto é alvo de outras denúncias ao Ministério Público.
O Instituto Royal, por meio de seu advogado, nega qualquer tipo de irregularidade. Os representantes deixam claro que a empresa está devidamente registrada na Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e que trabalha conforme as determinações legais.
O laboratório onde os cães eram deixados foi totalmente depredado pelos manifestantes. Dois boletins de ocorrência foram registrados. Um deles sobre a invasão ao laboratório e o outro se refere às denúncias de maus tratos.
Cachorros são usados em pesquisa
Os cães são usados em pesquisas de medicamentos que serão lançados. O objetivo é verificar a existência de possíveis reações adversas, como vômito, diarreia, perda de coordenação e até convulsões.
Uma denúncia feita em 2012 contra o instituto afirma que, em muitas das pesquisas, os cães acabam sacrificados antes mesmo de completarem um ano, para que se possa avaliar os efeitos dos remédios nos órgãos dos bichos.
A empresa disponibiliza em seu site um texto intitulado "Métodos alternativos ao uso de animais" que defende o uso de animais nas pesquisas, mas com "a busca e desenvolvimento tecnológico que minimizassem a incidência e a severidade de procedimentos científicos em animais".
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