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Após 165 mortes por diarreia, polícia investigará qualidade da água fornecida a sertanejos em AL

Carlos Madeiro

Do UOL, em Maceió

05/12/2013 19h08

A Polícia Civil de Alagoas vai designar um delegado especial para investigar a qualidade da água ofertada por carros-pipa a moradores de regiões do Estado que sofrem com a seca. A determinação é do Conselho Estadual de Segurança Pública, que recebeu a denúncia de que veículos irregulares e que captam água de mananciais sujos estariam sendo responsáveis pelo surto de diarreia que atinge o Estado. Um inquérito será aberto para apurar as denúncias.

Segundo dados da Secretaria de Estado da Saúde, nas 35 primeiras semanas do ano, 92 mil casos foram registrados, com 165 mortes. O número de casos é 68% maior que o de 2012, enquanto o número de mortes aumentou 139%.

No último domingo (1), reportagem do programa “Fantástico” denunciou que caminhoneiros estão adaptando irregularmente carros-pipa com tanques de combustíveis com objetivo de serem contratados pelo poder público para levar água à população.

Um dos caminhoneiros em Alagoas investigados afirmou à reportagem que o Exército sabe dessa situação. Além disso, água captada em locais sujos seria entregue a moradores atendidos pelo programa.

Em Alagoas, segundo dados do Exército, existem 438 pipeiros contratados pelos governos federal e estadual. Eles atendem a 40 municípios em situação de emergência pela seca que atinge as regiões do agreste e sertão do Estado.

Em nota, o Comando do Exército confirmou que, antes da contratação de um carro-pipa “é realizada uma vistoria para verificar o estado do veículo, sua documentação e sua destinação como veículo para transporte de água potável.” Além disso, disse também que “verifica o manancial para o abastecimento dos carros-pipa.”

O Exército disse que está investigando “com o rigor necessário” as denúncias e “repudia veementemente possíveis desvios de conduta que venham a ser apresentados por qualquer de seus integrantes.”

Também em nota, o governo de Alagoas disse que uma das condições indispensáveis nos contratos firmados com os pipeiros é que água deve ser potável e o abastecimento seja realizado em mananciais cadastrados pela Defesa Civil. Outra condição básica é a obrigatoriedade do uso do cloro. Os caminhoneiros que descumprem as normas, diz o Estado, são descadastrados e podem responder juridicamente pelo ato.

Mananciais sujos

A diretora de Vigilância em Saúde Ambiental da Secretaria de Estado da Saúde, Elizabeth Rocha, não há como justificar esse aumento apenas pela atuação irregular de carros-pipa. 

“Essas mortes têm relação com a água de uma forma geral, não só dos pipeiros. A gente está com pouca água no sertão. Claro que quando aumenta muito o número de carros-pipa, aumenta também o risco. Mas isso é uma junção de fatores”, disse Elizabeth.

Segundo Rocha, a explicação para tantas mortes está na contaminação da água nos mananciais que abastecem as cidades, já que muitas mortes não estão relacionadas a pessoas que moram em zona rural ou em cidades atingidas pela seca.

“A qualidade da água está ruim, os mananciais estão contaminados. Você já tem o problema da falta de saneamento, e aí vai aumentando a população e há uma diminuição da quantidade de água. Assim, a sujeira vai descendo para os rios, que vai para as estações de tratamento. E tem vírus que o cloro não atua sobre eles”.

A diretora ainda informou que o número de casos vêm diminuindo, mas a situação ainda é preocupante. “Não estamos ainda em situação de tranquilidade, pois os riscos ambientais continuam. Apesar de todos estarem se movimentando, muda muito lentamente”.