"Parece que ainda não caiu a ficha", diz filha de cinegrafista morto no Rio
A jornalista Vanessa Andrade, 29, afirmou nesta terça-feira (11) parecer que "ainda não caiu a ficha" ao comentar a morte do pai, o cinegrafista da "Band" Santiago Ilídio Andrade, 49, em entrevista ao programa "Encontro com Fátima Bernardes", da "TV Globo". O profissional foi vítima de um rojão disparado por manifestantes quando filmava um protesto contra o aumento da passagem de ônibus no Rio de Janeiro, na última quinta-feira (6), no centro da capital fluminense.
PROCURADO
A Polícia Civil informou, na manhã desta terça-feira (11), que equipes da 17ª DP (São Cristóvão) realizam diligências, nesta manhã, em vários pontos do Rio de Janeiro para cumprir mandado de prisão contra o acusado de lançar o rojão que matou o cinegrafista Santiago Andrade, 49, durante um protesto no centro da cidade na última quinta. O nome do suspeito é Caio Silva de Souza
"Passa todo um filme na sua cabeça. Poxa, eu podia ter feito mais para que ele pudesse ter tempo de ver. (...) A gente nem sabe ao certo onde começa a doer. Todos os lugares doem e, ao mesmo tempo, o corpo está todo parado. É como se o mundo parasse. É assim que eu me sinto agora. Parece que ainda não caiu a ficha", disse.
Vanessa declarou ainda que o pai era "muito feliz no que ele fazia", e que "gostava de estar ali o tempo inteiro", em referência à cobertura dos protestos. Segundo ela, a tragédia que abalou a família não a fará desistir da profissão de jornalista.
"Vou continuar. Não me abala, não. As pessoas precisam saber que a imprensa está aí, e que a gente vai lutar para continuar mostrando. Infelizmente, aconteceu com o meu pai. Mas eu sou a continuação dele. Vou levar o nome dele para que todo mundo tenha orgulho dele, assim como eu", finalizou.
Emoção
No Facebook, Vanessa escreveu uma declaração emocionada pouco depois de saber sobre a morte do pai. Ela contou alguns momentos marcantes que viveu com Andrade, desde a infância até a despedida.
Veja o momento em que o cinegrafista é atingido
"Esta noite (ontem) eu passei no hospital me despedindo. Só eu e ele. Deitada em seu ombro, tivemos tempo de conversar sobre muitos assuntos, pedi perdão pelas minhas falhas e prometi seguir de cabeça erguida e cuidar da minha mãe e de meus avós".
Em sua página pessoal, ela recebeu o apoio e o carinho de amigos, familiares e até desconhecidos. Nas redes sociais, o clima era de indignação e inconformismo pela morte do cinegrafista. Em entrevista à “TV Globo”, após deixar o hospital no domingo (9), a mulher da vítima, Arlita Andrade, afirmou que, ao visitar o marido, sentiu "que ele não estava nem mais lá".
Ela contou que, na quinta-feira à noite, ligou para o marido e foi atendida por outro cinegrafista que relatou a tragédia. "Achei que não tinha entendido e falei: ele foi fazer alguma matéria sobre alguém que levou uma bomba? A pessoa falou: Não, foi ele mesmo", lembrou.
PRINCIPAL SUSPEITO
Imagens da "TV Brasil" mostram um homem de camisa cinza e calça jeans correndo pela Central do Brasil. Para a Polícia Civil, ele foi o responsável por acender o rojão
Corpo será cremado nesta quinta
O corpo de Santiago Ilídio Andrade será cremado na próxima quinta-feira (13), no cemitério do Caju, na zona norte fluminense. O velório ocorrerá das 7h até as 11h, e será aberto para profissionais de imprensa, amigos e público em geral.
A partir das 11h, a cerimônia será fechada para a família do cinegrafista. A cremação acontecerá ao meio-dia.
Após quatro dias internado no CTI (Centro de Tratamento Intensivo), Santiago teve morte encefálica na manhã de segunda-feira (10), no Hospital Souza Aguiar, no centro do Rio.
Mesmo após a neurocirurgia para estancar o sangramento e estabilizar a pressão intracraniana, Andrade ficou com mais de 90% do cérebro sem irrigação sanguínea. A mulher dele, Arlita, esteve no hospital durante todo o dia, mas não falou com a imprensa.
Na tarde de segunda-feira, a família doou os órgãos, conforme pedido prévio do cinegrafista. Ainda não há informações sobre velório, e a família informou que Andrade será cremado.
Durante todo o dia, o clima na porta do hospital foi de comoção e tristeza. À noite, a emissora realizou uma missa na Igreja Santa Cecília, em Botafogo, em memória do cinegrafista.
Colegas da Band afirmaram que o clima na empresa era de tristeza e revolta. Amigo de Andrade desde que ele começou na emissora, em julho de 2004, um funcionário que preferiu não se identificar contou que o cinegrafista estava em outra cobertura e foi escalado para filmar a manifestação depois do seu horário.
Acompanhado por uma repórter que foi buscar o carro quando Andrade foi atingido, a equipe ficaria poucos minutos no local. "Eles foram gravar algumas imagens. Ele estava completamente sozinho e não tinha como se defender. Se estivesse com um auxiliar de câmera, talvez a tragédia não tivesse acontecido, porque daria tempo de avisado", disse.
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